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Mindfulness Para o Dia a Dia

Este é o método de mindfulness mais aplicado em pessoas com depressão

Marcelo Demarzo

04/04/2018 15h05

Crédito: iStock

Os melhores estudos que temos atualmente sobre mindfulness se referem aos efeitos positivos em pessoas com depressão, em especial aquelas pessoas mais vulneráveis, ou seja, que têm grande chance de terem várias recaídas de depressão ao longo da vida.

Nesse caso, os treinamentos de 8 semanas de mindfulness são os mais indicados, principalmente o programa conhecido como MBCT (Mindfulness-Based Cognitive Therapy ou Terapia Cognitiva Baseada em Mindfulness, no português), que mistura os exercícios de mindfulness com estratégias comportamentais e cognitivas já consagradas no campo da psicologia e psiquiatria.

Como mindfulness pode ajudar pessoas com depressão?

As pessoas diagnosticadas com depressão respondem bem ao treinamento de mindfulness, obtendo uma melhoria significativa nos sintomas e na qualidade de vida. Estudos mais recentes mostram que o programa MBCT é inclusive mais eficaz do que o tratamento com antidepressivos, sem aumentar o custo médio do tratamento.

Veja um exemplo de como funciona

Vejamos um exemplo ilustrativo, mas que pode ocorrer no cotidiano: imagine que você cruza na rua com um conhecido que não vê há muito tempo e que, ao cumprimentá-lo, ele não lhe cumprimenta ou acena de volta. Ou seja, "passa reto" por você e segue o caminho.

Nessa situação, é comum culparmos a outra pessoa (rotular de "arrogante", por exemplo) ou culpar a si mesmo ("o que fiz de errado na última vez que a encontrei"). O fato real poderia ser apenas que a pessoa estava desatenta ou sem os óculos, ou que simplesmente não lhe reconheceu.

O problema é que esse pensamento equivocado sobre a realidade (culpar o outro ou se culpar), mesmo que de um fato banal, pode levar a ruminações (pensamentos repetitivos que geram preocupação e mal-estar) que duram horas ou mesmo dias, o que provoca cansaço mental, tristeza, culpa, e podem levar a quadros de depressão em pessoas mais vulneráveis.

Método do "descentramento"

Conforme já comentei em outros posts, o treinamento em mindfulness, mesmo que por técnicas simples e acessíveis como a prática de 3 minutos, e desde que seja feito com regularidade, permite o desenvolvimento de "descentramento" (decentering) ou "desfusão cognitiva", que seria a capacidade de não se fundir com os próprios pensamentos.

Essa capacidade possibilita que possamos ver pensamentos (e as emoções associadas) não como "fatos" ou "realidades" e, sim, apenas como "eventos mentais". Assim, numa situação como a que citei anteriormente, a pessoa pode perceber o erro de avaliação e prevenir o quadro de ruminação mental, prevenindo assim quadros mais graves como a depressão.

A sugestão é que, nessas situações desafiadoras, nós possamos fazer uma pequena pausa, usando, por exemplo, a prática dos 3 minutos e, assim, tenhamos a possibilidade de mudar para uma perspectiva mais saudável, dentro da mesma situação.

Boas práticas, inclusive nessas situações mais difíceis e desafiadoras.

Referências:

Kuyken e colegas. Efficacy of Mindfulness-Based Cognitive Therapy in Prevention of Depressive Relapse: An Individual Patient Data Meta-analysis From Randomized Trials. JAMA Psychiatry. 2016 Jun 1;73(6):565-74.

Para Saber Mais Sobre Mindfulness:

www.mindfulnessbrasil.com (Mente Aberta – Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde – UNIFESP)

www.webmindfulness.com (WebMindfulness – Grupo de Pesquisa Coordenado pelo Prof. Javier García-Campayo – Universidad de Zaragoza, informações em espanhol)

www.umassmed.edu/cfm (Centro de Meditação "Mindfulness" na Medicina, Universidade de Massachusetts, Estados Unidos, informações em inglês)

 

Sobre o autor

Marcelo Demarzo é médico especialista em mindfulness (atenção plena), professor e pesquisador na área de medicina, saúde e bem-estar. Ministra cursos e palestras sobre estilo de vida mindful, bem-estar e saúde --expertise desenvolvida em 15 anos como professor e pesquisador em vários hospitais e universidades brasileiras (UNIFESP, USP, Hospital Israelita Albert Einstein) e internacionais (Universidade de Oxford, Universidade de Zaragoza, Harvard University). É autor de livros e estudos científicos relacionados ao tema de mindfulness e qualidade de vida e realiza dezenas de atendimentos individuais e em grupo para disseminar o conceito de mindful living (viver pleno e consciente). É coordenador da Especialização em Mindfulness da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo).

Sobre o blog

Dicas e reportagens sobre saúde e qualidade de vida, com foco em mindfulness e bem-estar. Um espaço interativo para conversarmos sobre como desenvolver um estilo de vida mais mindful (pleno e consciente), que irá ajudá-lo a lidar melhor com o estresse, algo tão comum na nossa vida atual.