Envelhecer no futuro

União da tecnologia com medicina promete futuro livre de bengalas e idas frequentes ao médico

Guilherme Tagiaroli Colaboração para o VivaBem
Raphael Salimena/VivaBem

A partir de 2030, Brasil terá mais velhos que jovens

E como a tecnologia ajudará essa parte da população a viver melhor?

Para envelhecer, basta estar vivo, certo? E isso tem ficado cada vez mais fácil. Ainda que o processo de envelhecimento seja (literalmente) doloroso para alguns --o aumento de dores nas juntas, não me deixa mentir--, os avanços tecnológicos e da medicina estão fazendo a expectativa de vida disparar.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os idosos representam, atualmente, 10% da população brasileira. A partir da década de 2030, teremos mais velhos do que jovens e, em 2050, a população acima dos 60 anos será o dobro do contingente de crianças e adolescentes com menos de 14 anos.

E essa futura maior parcela da população precisará viver com qualidade. Para isso, empresas e pesquisadores estão cada vez mais de olho na população acima de 60 e já pensando --até em causa própria-- em como melhorar a vida dessa considerável parcela da população.

Apesar de ser complicado prever exatamente como será o futuro, já é possível vislumbrar como viverão os velhinhos num futuro próximo. O que já dá para adiantar é que não faltarão sensores e parafernálias para tornar a sua vida mais segura

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Sofreu uma queda? Aguenta que o socorro já está a caminho

Queda é uma das principais causas de acidentes entre idosos no Brasil

É complicado calcular um número exato de quedas de idosos. Porém, dá para ter alguma ideia olhando os gastos do SUS (Sistema Único de Saúde). Por ano, são gastos R$ 51 milhões com tratamentos de fratura e R$ 24,7 milhões com medicamentos para tratar osteoporose.

Já existem diversos aparelhos para tentar atenuar problemas causados por quedas. Um deles é o Philips Go Safe, que tem o funcionamento que lembra um pouco um telefone sem fio. Disponível no momento apenas nos Estados Unidos, ele conta com uma base e um colar, que deve ser usado pelo idoso.

Em caso de acidente, o dispositivo que está com a pessoa que caiu detecta automaticamente a queda e faz uma chamada para um serviço de emergência. O colar ainda funciona com uma espécie de walk-talk, então a vítima poderá conversar com o socorrista. Caso não tenha condições de falar, o Go Safe conta com um GPS embutido, o que facilita a busca da pessoa.

No Brasil, a TeleHelp oferece um serviço similar, que consiste em um botão de alarme, presente em uma pulseira ou colar, que o idoso pode apertar em situações de perigo, como queda ou mal súbito. Ao fazer isso, um atendente da companhia liga para um dispositivo da TeleHelp presente na casa e pergunta, via viva-voz, o que está ocorrendo. Caso seja algo sério, um responsável é avisado.

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Smartwatches funcionarão como uma central de saúde do usuário

Hoje já são recomendados para exibir notificações e avisar quando a pessoa tem de tomar algum remédio

Ainda que existam dispositivos pontuais, há uma grande aposta que vestíveis, como smartwatches, funcionem como grandes aliados da saúde do dono. Por conta dos sensores e GPS, esses relógios inteligentes já conseguem detectar movimentos das pessoas, o que permite que desenvolvedores o configurem para diversas utilidades, como medir batimentos cardíacos.

A startup Fall Safety criou um app para Apple Watch que consegue detectar se uma pessoa caiu. O programa, então, inicia uma contagem de 45 segundos. Se a pessoa não interromper o timer, o relógio automaticamente aciona algum contato de emergência. É possível, inclusive, saber a localização exata da vítima.

Já o recurso de monitorar os batimentos pode ser de grande utilidade para cardíacos. Em uma das últimas atualizações do Apple Watch, os relógios inteligentes conseguem fazer o monitoramento contínuo da frequência cardíaca do usuário. Com uso de apps como o HeartWatch, é possível ser notificado quando houver uma arritmia e procurar um médico, antes que possa ocorrer algo mais grave.

Por ora, os smartwatches ainda são muito caros --o da Apple custa cerca de R$ 2.000 no Brasil, enquanto nos EUA o aparelho custa cerca de US$ 330. É uma categoria nova de produtos que tem um monte de sensores, que ainda precisam ser melhor calibrados para atender alguns padrões de autoridades de saúde. Se os disponíveis no mercado agora já têm alguma utilidade, imagine só no futuro?

Esses produtos estarão cada vez mais integrados às nossas atividades e eles vão gerar uma quantidade enorme de dados sobre nossa saúde. Com a ajuda de inteligência artificial, este tipo de equipamento vai elevar os patamares de padrão de cuidado de saúde.

Fabricio Campolina, presidente da Abimed (Associação Brasileira da Indústria de alta tecnologia de produtos para saúde)

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3 promessas para ficar de olho

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A telemedicina vem aí

Esqueça as consultas médicas presenciais. A tendência é que cada vez mais, pelo menos para assuntos menos graves, tudo seja resolvido por uma consulta à distância. O Reino Unido começou recentemente a testar a iniciativa. Com um prontuário em mãos, o médico ajuda os pacientes a resolverem problemas de baixa complexidade.

SRI International via Wikimedia Commons SRI International via Wikimedia Commons

Cirurgia digital

Você já deve ter ouvido falar em carros que dirigem sozinhos, não? Pois bem, no futuro há grandes chances de termos robôs cirúrgicos praticamente autônomos, que contam com supervisão de um médico. O procedimento envolve, além de braços robóticos, uma plataforma de análise de dados e visualização de informações de pacientes.

Honda/Divulgação Honda/Divulgação

Trajes robóticos

Bengalas e andadores podem, em breve, virar coisa do passado. Empresas estão trabalhando em trajes robóticos que podem aposentar de vez acessórios convencionais de locomoção. Eles consistem em uma espécie de exoesqueleto que possibilita que idosos, a partir de um pequeno impulso elétrico, possam se movimentar com facilidade.

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E se quem tem diabetes não precisasse tomar tantas picadas por dia?

Caso ainda não tenhamos a cura para o diabetes no futuro, um alento para os portadores da enfermidade são algumas promessas tecnológicas. O diabetes, por exemplo, pode fazer idosos sofrerem ainda mais, pois geralmente exige que ele tenha de tomar insulina --são, no mínimo, três picadas por dia.

Este problema tem sido acompanhado de perto até por gigantes da tecnologia, como o Google. Em 2015, a companhia registrou uma patente de um aparelho que dará uma picada no braço do usuário, coletará sangue e poderá medir o nível de glicose.

??O dispositivo descrito na patente parece um relógio e que fará todo o processo sem necessidade de picada. Isso será possível graças a uma micro partícula que atingirá a pele e coletará uma pequena quantia de sangue. Tudo isso sem dor.

Seria de grande ajuda ter um processo indolor para medir a glicose. Quem tem diabetes tipo 2, por exemplo, precisa quase que diariamente furar o dedo, depositar um pouco de sangue em uma fita e inserir em um aparelho que mede o nível de açúcar.

Em outra patente, o próprio Google trabalha com outra forma de medir a glicose: por meio de lentes de contato. Em vez do sangue, elas analisariam a lágrima da pessoa e enviaria o resultado do nível de glicose para o smartphone.

Divulgação/Gyenno Divulgação/Gyenno

Driblando os tremores do Parkinson

Há pelo menos dois talheres inteligentes no mercado para ajudar as pessoas a terem menos dificuldades ao comer

Para quem tem Mal de Parkinson, doença de grande incidência entre idosos, há uma solução esperta para lidar com os tremores que causam diversos incômodos, inclusive na hora de comer. Um dos talheres é o norte-americano Lyftware e o outro é o chinês Gyenno, que custam cerca de US$ 200 (cerca de R$ 660, sem taxas).


 

Talheres contam com sistema de estabilização que se adapta ao tremor

Por mais simples que pareça, utensílio dá autonomia para o portador do Parkinson

Raphael Salimena/VivaBem

Arsenal médico-tecnológico antecipará sintomas antes de ficarmos doentes

A popularização de eletrônicos vestíveis que ajudam na medição de nossos sinais vitais promoverá um padrão diferente de cuidado com a saúde. Com a ajuda de todos esses dados que gerarmos somado a análises feitas por inteligência artificial, teremos conhecimento inicial de sintomas, antes mesmo de ficar doentes.

Imagine só o quanto não vai melhorar a vida de um idoso ao conseguir detectar e tratar o quanto antes doenças sérias, como a osteoporose, o Mal de Parkinson ou o diabetes.

No entanto, ainda que o futuro pareça promissor, existe uma questão sensível sobre o acesso a todos esses tipos de tratamentos e recursos. “Não tenho dúvidas de que estas tecnologias estarão disponíveis em 2050. O desafio é fazer com que ela chegue a toda população, e não só a um segmento da população privilegiada”, diz Campolina, da Abimed.

 Ao que tudo indica, o futuro parece promissor para a população acima dos 60. Pelo menos para quem conseguir bancar todos esses equipamentos. 

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