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Paulo Chaccur

Ciência relaciona HPV a doenças do coração: mais um motivo para se proteger

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Imagem: iStock

Colunista do UOL

12/05/2019 04h00

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Se você é uma pessoa sexualmente ativa, saiba que tem grandes chances de já ter sido ou ser infectada pelo papilomavírus humano, conhecido popularmente pela sigla HPV.

Para se ter ideia do risco, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos), pelo menos 50% dos homens e mulheres sexualmente ativos se infectarão com HPV em algum momento de suas vidas.

Mas por que eu, um cardiologista, estou falando sobre isso? O fato é que o HPV já não é apontado apenas como responsável pela maioria dos tumores de colo de útero ou outros cânceres. Já há alguns anos pesquisas estão vinculando a infecção pelo HPV a problemas no coração, principalmente em mulheres que não apresentavam fatores de risco para doença cardiovascular. Mas como explicar essa relação?

Embora ainda seja necessária a realização de estudos mais aprofundados sobre o tema, acredito que realmente possa existir essa relação entre o HPV e as doenças cardiovasculares por estímulo da atividade inflamatória.

Os cientistas tiveram a ideia de iniciar as pesquisas do HPV como fator potencial de doenças cardíacas por causa da forma como o vírus atua no desenvolvimento do câncer, desativando dois genes supressores de tumores: o p53 e a proteína do retinoblastoma (pRb).

O gene p53 tem um papel-chave na regulação do processo que provoca a arteriosclerose, ou enrijecimento das artérias, enquanto a pRb é fundamental na regulação do crescimento e proliferação celular. A pRb regula, por exemplo, o crescimento das células musculares que alinham os vasos sanguíneos. Isso pode levar a interferências no fluxo do sangue, aumentando o risco de ataque cardíaco.

Embora ainda não tenham conseguido confirmar esse vínculo e estabelecido se realmente o HPV pode ou não causar doenças cardíacas, os pesquisadores verificaram que os tipos de HPV oncogênico estão fortemente associados com a doença cardiovascular.

Há ainda pesquisas que relacionam o vírus do HPV com o aumento das chances do desenvolvimento de doenças do coração entre as mulheres, principalmente a doença coronária, que pode levar ao infarto do miocárdio quando associadas a outros fatores de risco, como obesidade e tabagismo.

Boas perspectivas

Os estudos já realizados têm limitações. Sabemos da necessidade de mais pesquisas para confirmar essa associação. E, em virtude da maioria dos levantamentos feitos até hoje serem realizados apenas com amostras do sexo feminino, não se pode ainda dizer que as mulheres são infectadas com mais frequência pelo HPV - e consequentemente têm mais problemas relacionados com o coração - do que os homens.

De qualquer forma são evidências que devem ser consideradas, principalmente por se tratar de um vírus assintomático, o que torna sua prevenção e o acompanhamento médico regular de extrema importância.

E quando falamos em prevenção, vale reforçar que periodicamente o Ministério da Saúde realiza campanha para a vacinação contra o HPV convocando adolescentes a receberem a vacina antes do início da vida sexual. Estão dentro das campanhas: meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos. Também têm direito à imunização portadores do vírus HIV, quem já foi submetido a algum transplante de órgão ou de medula óssea e pacientes com câncer - nesses casos para ambos os sexos, com idade entre 9 e 26 anos.

Se o vínculo entre o HPV e as doenças cardíacas for confirmado, os cientistas poderão trabalhar no desenvolvimento de um medicamento para deter a inativação do gene p53 e evitar o aparecimento de doenças cardíacas em pessoas infectadas com HPV. Assim poderá se abrir uma nova frente de combate contra as doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no mundo, segundo a OMS.

Mais sobre o HPV

É importante esclarecer de que tipo de vírus estamos falando aqui. O papilomavírus humano (HPV) é um grupo de vírus muito comum no mundo. Trata-se de microrganismo sexualmente transmissível que reside na pele e nas mucosas, tais como a vagina, ânus e pênis.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) existem mais de 100 tipos de HPV. Desses, a grande maioria não traz danos sérios ao nosso corpo. As infecções geralmente somem sem qualquer intervenção dentro de alguns meses após a aquisição, e cerca de 80% desaparecem no período de dois anos, sem apresentar qualquer sintoma.

Porém, pelo menos 14 tipos do vírus são cancerígenos --também conhecidos como tipos de alto risco e estão relacionados a doenças graves, como verrugas e câncer, especialmente o de colo do útero, segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres que vivem em regiões menos desenvolvidas do mundo. Em 2018, foram 570 mil novos casos (84% dos novos casos no mundo).

E quando falamos de câncer, dois tipos de HPV (16 e 18) causam 70% dos cânceres do colo do útero e lesões pré-cancerosas. Também há evidências científicas que relacionam o HPV com cânceres do ânus, vulva, vagina, pênis, língua, céu da boca, garganta, faringe, laringe e amígdalas. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), 75% dos casos de câncer de pênis apresentam o vírus HPV.

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