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Precisamos tomar vermífugo todos os anos para proteger o organismo?

Bárbara Stefanelli

Colaboração para o UOL VivaBem

17/07/2019 04h00

Há algumas três ou quatro décadas, era bastante comum dar remédios contra vermes de tempos em tempos às crianças, para mantê-las protegidas de parasitas. E isso fez com que muitos adultos, até hoje, acreditem que é importante consumir o remédio periodicamente.

Aliás, é possível encontrar terapeutas e até nutricionistas de linhas mais naturais que indicam vermífugos aos pacientes, como uma maneira de "livrar o corpo de impurezas". Mas saiba que a prática não é recomendada e pode trazer problemas à saúde.

Por que não precisamos tomar vermífugo?

No passado, existia a crença de que era necessário tomar o medicamento nos meses sem a letra "R" ou na lua minguante. E, se possível, juntando os dois momentos. Só por essa "teoria" você já deve imaginar que muitos adotavam o método sem qualquer comprovação científica e orientação profissional.

Até os anos 1990, quando o saneamento básico de diversas cidades era precário e havia muito esgoto a céu aberto, usar vermífugos frequentemente até podia ser algo necessário e recomendado pelos médicos, pois muitas crianças e adultos estavam sob risco de contaminação.

No entanto, hoje não faz mais sentido consumir a droga sem prescrição, principalmente nas metrópoles, onde há um bom sistema de esgoto e as crianças mal brincam na natureza ou na terra --locais onde há a chance de contaminação por verminoses como amarelão, giardíase e oxiuríase, por exemplo. Logo, a prática de ingerir vermífugos regularmente só deve ser adotada em áreas em que há recomendação dos órgãos de saúde.

Qual o risco de tomar vermífugo sem necessidade?

Ao tomar o remédio sem ter, de fato, algo a ser combatido, a pessoa corre o risco de se expor sem necessidade aos efeitos colaterais desta forte medicação, que pode causar desconforto gástrico, enjoo, tontura, sonolência, entre outros problemas.

Além disso, a droga tem o poder de alterar a população de bactérias (microbiota) do organismo, que regula o sistema imunológico e a resposta do corpo ao estresse, participa da absorção de nutrientes essenciais, nos protege de germes virulentos etc. Estudos já associaram o desequilíbrio da microbiota a problemas intestinais, obesidade, depressão e até doenças do coração e câncer.

Portanto, o vermífugo é um remédio que deve ser tomado apenas com prescrição médica, após a detecção de sintomas muito evidentes ou de um exame de fezes, por exemplo, ou quando há recomendação de órgãos de saúde.

Quem precisa tomar vermífugo com regularidade?

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o tratamento preventivo usando anti-helmínticos (isto é, vermifugação) deve ser feito uma vez por ano em áreas endêmicas com mais de 20% de prevalência de helmintos. E duas vezes por ano em áreas com mais de 50% de prevalência, principalmente em crianças em idade escolar (5 a 14 anos) ou pré-escolar (1 a 4 anos), já que essas verminoses atrapalham o sistema cognitivo. Além disso, a infecção helmíntica transmitida pelo solo resulta em má absorção de macro e micronutrientes, o que acarreta em desnutrição e anemia por deficiência de ferro.

Nessas regiões, o tratamento repetido regularmente tem demonstrado melhorar os indicadores de morbidade de helmintos transmitidos pelo solo, incluindo também maior crescimento, habilidades cognitivas e frequência escolar deste grupo.

Agora, repetimos, se você não vive em regiões muito pobres e já é maior de idade, nem pense em tomar vermífugo para "tirar as impurezas do corpo". E, se desconfiar que a criança da família está com sintomas de verminose (diarreia, dor abdominal, cansaço constante, presença de pontos brancos nas fezes, entre outros), leve-a ao médico.

Fontes: Carolina Peev, pediatra, alergista e chefe de plantão do Hospital Infantil Sabará (SP); Nilton Carlos Machado, professor do departamento de pediatria, da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus de Botucatu; e Ricardo Barbutti, gastroenterologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).