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Você sabe o que é narcisismo? Entenda quando essa característica é perigosa

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Imagem: iStock

Silvio Crespo

Colaboração para o UOL VivaBem

16/07/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Narcisismo nada mais é do que o amor a si mesmo: todas as pessoas são um pouco, o problema é quando essa característica atrapalha os relacionamentos
  • O narcisismo patológico é classificado "transtorno de personalidade narcisista" e precisa ser diagnosticado por um psiquiatra
  • Normalmente o tratamento é psicológico e ele só é percebido quando começa a trazer prejuízos para a vida da pessoa, como depressão e ansiedade

Ultimamente muito tem sido falado sobre narcisismo. Pessoas narcisistas têm sido relacionadas com relacionamentos abusivos e até confundidas com psicopatas. Mas afinal, o que é essa característica?

Na psicanálise, o narcisismo é uma fase da infância em que o bebê percebe que é diferente da mãe e do que mais está à sua volta. É nessa fase que ele começa a prestar atenção em si mesmo e a amar a si mesmo, de acordo com Erlei Sassi, coordenador do Ambulatório Integrado de Transtornos de Personalidade e do Impulso do Ipq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

No entanto, ao contrário do que se pensa, o narcisismo nem sempre é ruim. Ao contrário, na infância, ele é natural e importante. Primeiro, o bebê é amado por quem cuida dele e garante a sua sobrevivência. Depois, passa a amar a si mesmo --é a fase do narcisismo. E, finalmente, começa a amar os outros. "À medida que a gente vai crescendo, a gente vai se dando conta de que não é tão especial, de que não é tudo o que a gente quer vai ser realizado. É a instituição do limite", explica Antonio Carlos de Barros Júnior, psicanalista e doutor em psicologia social pela USP.

Todo mundo é um pouco narcisista, então qual o problema?

No final das contas, narcisistas todos nós somos um pouco. Mas existe um quadro chamado de transtorno de personalidade narcisista, que costuma causar sofrimento tanto em quem o possui como nas pessoas com quem ele se relaciona, podendo gerar situações de violência ou mesmo de morte, de acordo com os especialistas.

Sassi dá um exemplo: uma pessoa com transtorno narcisista tende a ficar furiosa quando alguém não reconhece o quanto ela é especial. Com isso, ela pode facilmente se envolver em brigas, seja em casa, no trabalho ou no trânsito. Em alguma dessas brigas, se alguém estiver armado o desfecho pode ser trágico.

"Todo mundo gosta de ser adulado. Ninguém gosta de ser criticado. Mas para quem tem transtorno de personalidade narcisista, ser adulado é uma necessidade. É vital. Quando isso não acontece, ele fica enfurecido", explica o psiquiatra.

Como identificar um narcisista patológico

O narcisismo "se torna patológico quando acontece fora do tempo e afeta outras pessoas", de acordo com Sassi. Porém, no campo da saúde mental, não há uma forma única de definir quem é e quem não é narcisista.

Existem questionários sobre o tema, além do DSM-V (5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, da Associação Americana de Psiquiatria).

Segundo a publicação, uma pessoa tem transtorno da personalidade narcisista quando cumpre ao menos cinco dos nove seguintes critérios:

  • Tem uma sensação grandiosa da própria importância (por exemplo, exagera conquistas e talentos, espera ser reconhecido como superior sem que tenha as conquistas correspondentes);
  • É preocupado com fantasias de sucesso ilimitado, poder, brilho, beleza ou amor ideal;
  • Acredita ser "especial" e único e que pode ser somente compreendido por, ou associado a, outras pessoas (ou instituições) especiais ou com condição elevada;
  • Demanda admiração excessiva;
  • Apresenta um sentimento de possuir direitos (por exemplo, espera receber um tratamento especial, sem uma justificativa específica);
  • É explorador em relações interpessoais (tira vantagem de outros para atingir os próprios fins);
  • Carece de empatia: reluta em reconhecer ou identificar-se com os sentimentos e as necessidades dos outros;
  • É frequentemente invejoso em relação aos outros ou acredita que os outros o invejam;
  • Demonstra comportamentos ou atitudes arrogantes e insolentes.

No entanto, apenas ler esta lista e se identificar com ela não é suficiente para um diagnóstico. Para isso é necessário buscar ajuda profissional, em consulta com um psiquiatra ou psicólogo.

O que fazer diante do narcisismo

Um narcisista em geral não se reconhece como tal. Então, ele só vai buscar ajuda quando começa a sofrer com o seu próprio narcisismo. Por exemplo, ele começa a ter sintomas como tristeza e ansiedade.

"O narcisista lida muito mal com a frustração. Ele não entende que não pode ter todos os seus desejos satisfeitos. Se a criança não é ensinada a lidar com as pequenas frustrações, fatalmente não saberá lidar com as grandes, e aí pode desmoronar", explica o psicanalista Barros Jr. Além disso, pessoas narcisistas costumam ter a ilusão de ser alguém superespecial e quando isso cai por terra, uma tristeza muito grande pode surgir.

Outro sintoma é a ansiedade frente à aprovação do outro. Para o psicanalista, quando o sujeito começa a questionar se ele não está deprimido ou ansioso demais, já é hora de buscar ajuda. Assim, a pessoa pode "verificar como ela lida com a frustração, qual é a sua dependência em relação à aprovação dos outros e se ela está imobilizando a sua existência", explica Barros Júnior.

Do ponto de vista médico, não há remédios especificamente para o transtorno narcisista, explica Sassi. O que se faz, eventualmente, é utilizar medicamentos para tratar alguns sintomas do narcisista, como ansiedade. Mas, segundo o psiquiatra, o tratamento principal nesse caso é a terapia.