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Os danos causados pela humilhação dos pais

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Imagem: iStock

Perri Klass

Do New York Times

13/07/2019 10h10

Há dois anos, uma pesquisa nacional entre mães mostrou que muitas delas estavam bem conscientes das críticas que recebiam pelas decisões, pequenas e grandes, que compõem o cotidiano da vida com crianças. Agora, a mesma pesquisa foi feita entre os pais, e o resultado é que eles também frequentemente se sentem julgados e ineficientes. Nessa amostra nacional de pais de crianças de até 13 anos, 52% dos entrevistados disseram ter sido criticados pela forma como criam os filhos.

Sarah Clark, codiretora da Pesquisa Nacional sobre Saúde Infantil do Hospital Pediátrico C. S. Mott, da Universidade do Michigan, diz que, desde a pesquisa com as mães, tinha ficado curiosa para saber se os mesmos fatores envolvidos no que é conhecido como humilhação materna também afetavam os pais.

"Acho que havia uma sensação de que era um fenômeno materno. Essa pesquisa mostra que não", afirma.

Tal como acontece com as mães, muitas das críticas de que os pais se lembraram vinham de pessoas próximas: 44% do outro genitor, 24% dos avós. E tanto os pais quanto as mães eram mais propensos a ser criticados em relação à disciplina (67% entre pais) e à nutrição (43%).

As pessoas oferecem conselhos aos pais o tempo todo, afirma David L. Hill, professor assistente adjunto de pediatria da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte e autor de "Dad to Dad: Parenting Like a Pro". Mas, a menos que tenham sido solicitados, esses conselhos raramente são bem-vindos.

"Se alguém oferece conselhos, nossa tendência é ficar com raiva - essa pessoa invadiu uma área muito importante para nós, que é como criamos nossos filhos, e sugeriu que estamos fazendo algo errado, e isso é muito provocativo", diz ele. Esse tipo de atitude às vezes faz os pais sentirem que não vale a pena tentar.

O relatório fez Craig Garfield se lembrar de um momento, quando ele era residente e levava seu filho de um ano no carrinho, em que a criança estava em sua posição preferida habitual, com a perna dobrada para trás. Um de seus professores - um especialista que recentemente tinha dado uma palestra sobre abuso infantil - se aproximou e disse: "Olhe, seu filho está desconfortável no carrinho. Estique a perna dele."

"Foi um momento importante para mim. Ele era um especialista internacional e eu estava sendo criticado na rua", conta Garfield, hoje professor de pediatria na Universidade Northwestern e no Hospital Infantil Lurie, e coautor das duas versões dos relatórios clínicos da Academia Americana de Pediatria sobre o papel dos pais.

Garfield trabalha com pais desde a gravidez e os encoraja a se envolverem intimamente com seus bebês desde o início.

Geoffrey Brown, psicólogo do desenvolvimento do Departamento de Desenvolvimento Humano e Ciência da Família da Universidade da Geórgia, que estudou pais de crianças pequenas, descreveu o fenômeno das "guardiãs maternas - as mães que desempenham um papel importante na determinação dos papéis dos pais". As mães podem encorajar e desencorajar, disse ele, e às vezes as duas coisas ao mesmo tempo, quando elas pedem aos pais que façam algo e depois não gostam da maneira como foi feito.

Em uma das pesquisas, com os pais e suas crianças de três anos, os efeitos do envolvimento do pai no apego da criança variavam, dependendo se o envolvimento era brincadeira ou cuidado, e se acontecia em dias úteis ou não úteis.

A pesquisa mostrou que o envolvimento dos pais possui muitos benefícios, disse Garfield. "Sabemos que os pais usam palavras diferentes das mães, e isso ajuda a desenvolver o vocabulário expressivo da criança." Os pais também são mais propensos a brincar de forma mais "bruta", diz, e estão sempre mudando as regras, o que pode ser muito interessante para as crianças e as ajuda a aprender.

Na pesquisa, 32% dos pais foram criticados por serem muito duros e 32% por não prestarem atenção aos filhos. "Algumas coisas são exclusivas dos pais - ser mais bruto e não prestar atenção a alguns dos estereótipos de gênero ainda presentes em nossa sociedade", diz Clark.

Os pais tendem a se envolver com seus filhos de uma maneira fisicamente mais ativa, afirma Brown, e tendem a assumir mais riscos e a incentivar a exploração. "Eles podem se envolver com os filhos de uma forma que não é nada prejudicial, mas realmente útil, apenas diferente da forma como as mães se envolvem."

As mães às vezes observam com irritação que os pais podem receber muitos elogios apenas por estarem presentes ou por vestirem uma criança. Mas é um insulto quando os outros "supõem que somos babás, não pais. Você não elogiaria uma mulher por colocar as presilhas retas", diz Hill. Já um pai pode ouvir algo como: "Uau, o cabelo dela está penteado, parabéns!"

"Acho que devemos entender esse elogio às coisas mais rudimentares quase como uma forma de insulto. Como sociedade, precisamos ter grandes expectativas em relação aos pais e ajudá-los a atender a elas", diz ele.

Às vezes, é claro, os pais (como as mães) realmente têm ideias erradas sobre disciplina, e podem sentir que o papel deles é impor as punições. Hill diz que muitas vezes inicia conversas sobre surras com a pergunta: "O que você está tentando fazer?" Às vezes, um pai reflete e conclui que a disciplina física não está, de fato, funcionando muito bem.

Se há alguma chance de que uma criança possa estar em perigo, ou se há qualquer questão de abuso, devemos intervir. Hill sugeriu que uma maneira de ajudar, antes de ir longe demais, seria oferecer uma mão: "Ei, parece que você está com dificuldades, posso ajudar?"

A crítica, é claro, às vezes pode ter o efeito desejado. Afirma Hill: "Uma das coisas que achei muito animadoras foi que quase metade dos pais que relataram ter sido criticados disseram que ou mudaram seu comportamento como resposta ou procuraram mais informações. Eles aproveitaram esse momento para se educarem."

Mas o fato de serem criticados fez com que alguns pais quisessem estar menos envolvidos, especialmente quando a voz negativa vinha da mãe da criança. "Encorajo os pais a não sentirem que precisam resolver um impasse sozinhos. Existem todos os tipos de terceiros que podem ajudar: conselheiros, pediatras e outros provedores", diz Hill.

Há também lições na pesquisa para pediatras - como eu - e para professores e creches. Um em cada 10 pais relatou que sentiu que o professor ou o profissional de saúde não conhecia muito o filho, e cerca de um quarto disse que se sentia excluído dessas comunicações.

"Até mesmo os pediatras costumam partir de um viés inconsciente de que os pais estão menos sintonizados com o comportamento de seus filhos. Mesmo sendo pai, preciso fazer um esforço consciente para me virar para o pai", afirma Hill.

O envio de sinais de que os pais são, de alguma forma, menos qualificados em seu conhecimento e capacidade de cuidar dos filhos "pode realmente minar tanto a confiança quanto o nível de comprometimento deles", diz Clark.

"Os pais que encontro são todos solucionadores de problemas. Eles veem um problema - o comportamento da criança ou a infelicidade da mãe - e querem encontrar uma maneira de resolvê-lo", diz Garfield.

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