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Usar salto alto prejudica a coluna e causa dor nas costas?

Sibele Oliveira

Colaboração para o UOL VivaBem

05/06/2019 04h00

Se você não sai de casa sem salto alto, provavelmente já ouviu alguém dizer que um dia sua coluna vai pagar o preço. Mas isso não é uma regra. Enquanto há mulheres que vivem se equilibrando em saltos agulha sem tirar o sorriso do rosto, outras só sobem em um de vez em quando e não aguentam de dor nas costas. Qual a explicação para isso?

Por que salto alto não é culpado pela dor

Embora esse tipo de sapato tenha ficado conhecido como inimigo da coluna, ainda não há comprovação científica de que ele gere problemas na articulação. Muitas vezes, a lesão nas costas é causada por outros fatores, porém, o incômodo só aparece quando você usa o calçado, pois o sapato gera um impacto na região lombar (e em muitas outras partes do corpo), o que acaba agravando o problema já existente.

Entre os fatores que podem causar lesões lombares --que são agravadas pelo salto -- estão a própria anatomia da corpo, desequilíbrio e desvios posturais (como hiperlodose e escoliose), falta de alongamento e fortalecimento muscular (devido ao sedentarismo), tabagismo, sobrepeso e até excesso de exercícios físicos.

Sapato altera o movimento

Uma coisa é fato: ao caminhar equilibrando-se no salto há uma alteração na biomecânica do movimento. Com isso, é comum acabar compensando o desequilíbrio e sobrecarregando outras partes do corpo, como tornozelos, calcanhares, joelhos e quadril, além de músculos e tendões das pernas.

Em um estudo recente publicado no European Spine Journal, pesquisadores observaram que, enquanto algumas participantes que usavam salto alto com frequência sofreram desconforto nas extremidades inferiores (lombar e joelhos), outras tiveram um aumento da lordose cervical (curvatura acentuada no pescoço) para se adaptar ao deslocamento do centro de gravidade do corpo imposto pela altura do sapato. De acordo com os cientistas, isso explicaria os diferentes padrões de dor (no pescoço, na coluna lombar e nos joelhos) sentida por quem anda bastante de salto alto.

Que outras partes do corpo podem ser prejudicadas?

Os pés também podem sofrer bastante. Caminhando de salto alto, é quase inevitável depositar o peso do corpo na parte da frente do pé (antepé), ficando em flexão plantar (na ponta do pé). Isso resulta em pressão demais em cima dos metatarsos (ossos longos localizados antes dos dedos), o que pode acabar mudando a posição natural desses ossos, assim como o ângulo dos tornozelos, que ficam instáveis.

Essa modificação da pisada pode desencadear diferentes danos ao pé. Um dos mais comuns é a metatarsalgia, dor localizada na região dianteira do membro. Dor nas pernas, inflamação nos joelhos, tendinite patelar e até alterações degenerativas como a artrose também podem acontecer.

Outra consequência comum de quem passa os dias em cima de saltos altos é o encurtamento dos músculos gastrocnêmio e sóleo (da panturrilha) e dos posteriores (parte de trás) da coxa, além da sobrecarga nos tendões que os acompanham. Resultado: ao andar descalça ou com sapatos rasteiros, o que obriga a extensão dessas musculaturas, o incômodo costuma ser enorme. Neste momento, podem aparecer dores da região lombar aos calcanhares.

Qual é o salto ideal?

Abolir totalmente o salto alto não é a solução para evitar dores e problemas no esqueleto. Até porque rasteirinhas e sapatilhas não oferecem apoio aos calcanhares, forçam os joelhos, podem piorar a dor lombar e causar tendinite e fascite plantar (dor na sola do pé), principalmente se você caminha grandes distâncias com um modelo do tipo.

Um risco tanto para quem usa muito salto quanto para quem vive de sandália rasteira é o de sofrer sofrer torções nos tornozelos, justamente pela instabilidade. Ainda assim, os saltos altos, principalmente os mais fino, representam perigo maior de entorses.

Os melhores saltos são os baixos e médios (cerca de 4 centímetros) e grossos. Eles são indicados inclusive para quem tem dor lombar ou encurtamento dos músculos da perna. Anabela, plataforma e meia patas (que possui plataforma apenas na parte da frente do pé), que têm apoio ao longo do pé ou salto mais largo, são alternativas que oferecem mais estabilidade ao caminhar.

E sapatos de bico fino: deformam os pés?

Ganhar pés feios é uma preocupação das adeptas de scarpins. O temor não é infundado, já que os calçados estreitos na ponta comprimem a parte dianteira do pé e muitas vezes fazem com que o dedão se amontoe sobre o dedo ao lado. Com o tempo, esse desalinhamento pode ficar fixo. É quando surge o hálux valgo, nome científico do joanete.

A espécie de calo que se forma na parte externa do dedão é a deformação mais comum, mas não a única. Algumas mulheres desenvolver o chamado bunionette (protuberância no quinto dedo), além de outras calosidades. Além do incômodo estético, essas distorções podem causar desconforto, rigidez no dedo deslocado e dor.

É importante lembrar que quanto mais duro for o material do sapato e mais estreita a ponta, maior será o risco de ter alguma lesão. E que a combinação de salto alto e bico fino é a mais nociva para os pés.

Como prevenir os danos?

Se seu emprego ou gosto pessoal impede você dê folga ao salto, vale colocar em prática alguns cuidados capazes de prevenir estragos à saúde dos pés, pernas, quadril e coluna. O mais importante é praticar uma atividade física regularmente. Movimentos de alongamento devem complementar todas as sessões. Além de melhorar os músculos encurtados, os exercícios fortalecem os tendões que passam nos pés e tornozelos.

Evite andar de salto em superfícies irregulares ou acidentadas -- assim, você previne acidentes. E quando precisar caminhar bastante ou estiver no transporte público, troque por um sapato mais baixo. Por último, evite ficar horas seguidas com o salto e, se possível, dê um descanso para os pés no ambiente de trabalho.

Fontes: Ivan Rocha, ortopedista especialista em coluna do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo); Marcelo Risso, ortopedista do grupo de coluna da Unicamp; e Renato Ueta, ortopedista e chefe do Grupo de Patologias da Coluna Vertebral da Unifesp.

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