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Dá sim para mudar o relacionamento com a comida: veja algumas formas

Saber conectar a nossa fome aos nossos sentimentos ajuda a mudar essa relação com a comida - iStock
Saber conectar a nossa fome aos nossos sentimentos ajuda a mudar essa relação com a comida Imagem: iStock

Simone Cunha

Colaboração para o UOL VivaBem

21/05/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Comer para compensar uma frustração é natural, o problema é quando toda a alimentação se baseia nisso
  • Nesses casos, ouvir mais o próprio corpo, entender se a fome é emocional ou física e se perguntar por que você sente determinado desejo ajuda
  • Lembre-se que comer também é uma celebração e não deve deixar de ser, mas controlar cada escolha e tomá-las de forma consciente é importante

Escolher uma sobremesa bem calórica para aliviar aquela frustração é natural, o que não é normal é usar o alimento para expressar sentimentos --negativos ou positivos -- o tempo todo. O alimento tem muitos papeis em nossa vida, além do nutricional, portanto, não dá para distanciá-lo das emoções. Desde cedo, quando uma mãe amamenta o seu bebê, ela lhe oferece muito mais que o leite, ali tem afeto, proximidade, segurança.

E a comida pode realmente confortar, resgatar memória afetiva e preencher espaços, como uma saudade ou um vazio. "É natural relacionar o alimento à recompensa ou punição, pois isso ocorre desde sempre. O que é essencial é ter percepção disso para não deixar as emoções guiarem a sua alimentação de forma recorrente", diz Vera Lúcia Morais Antônio de Salvo, nutricionista especialista em Nutrição Clínica do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e pós-doutoranda em Saúde Coletiva.

Evite alimentar-se apenas de sentimentos

A relação com a comida muda de pessoa para pessoa, até porque cada um carrega seu histórico. Da mesma forma que quem tem uma memória afetiva positiva pode querer devorar um bolo inteiro de chocolate como aquele que sua vó fazia, trazendo conforto, outra pessoa pode evitar legumes porque era forçada a comê-los na infância, resgatando obrigação e punição.

Identificar esses gatilhos pode ajudar a mudar a maneira de se relacionar com esses desejos. "É importante desenvolver essa escuta e realizar alguns questionamentos, como: 'eu gosto disso por quê?', 'a que me remete esse sabor', 'por que desejo comer'. Isso faz lidar com o alimento de forma mais consciente, sem tanta culpa ou julgamento", diz a psicóloga e psicanalista Gabriela Malzyner, membro efetivo da Clínica de Estudos e Pesquisas em Psicanálise da Anorexia e Bulimia (CEPPAN) e membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

E a dica é muito importante porque nos dias atuais comemos muito mais pelo prazer que pela necessidade. "Da escassez para a fartura induzida pela indústria da alimentação, a pessoa vai a um rodízio e quer fazer valer o preço pago. Ou seja, não está se alimentando para nutrir o corpo, mas por uma questão social e emocional", comenta a nutricionista Fernanda Timerman, coordenadora do Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade (GENTA) e uma das idealizadoras do Instituto Nutrição Comportamental.

Procure ouvir o seu corpo

Diante da correria diária parece difícil desenvolver essa escuta, mas é possível. Essa percepção é muito individual, por isso esqueça fórmulas prontas. O corpo sempre emite sinais quando precisa de alimento, mas por conta de dietas e horários impostos, vai se perdendo essa conexão. Portanto, a proposta de que é saudável alimentar-se de três em três horas também não é uma regra e cada indivíduo necessita atender à sua própria escuta.

"Não precisamos da mesma quantidade de alimento todos dias e os intervalos entre uma refeição e outra também podem mudar de um dia para o outro", alerta Timerman. Afinal, em um dia a pessoa pode gastar mais energia, no outro ter se alimentando de forma mais leve, e o corpo sentir falta do alimento num prazo mais curto.

E esse treino é um aliado para distanciar necessidade nutricional de desejo. Pois, dessa forma, fica mais fácil ouvir os seus desejos, sem culpa. Afinal, não há problema se, em alguns momentos, a pessoa alimenta-se apenas pelo prazer ou guiado pela emoção. Na prática, é importante também observar essas situações e encará-las sem receio. O fato de ficar sozinho causa ansiedade e, neste momento, dá vontade de buscar algo que conforta, ok! Essa relação pode ser saudável desde que esteja mais esclarecida.

Compreenda a sua fome

Se você já ouviu que ir ao supermercado com fome é um erro, acredite! Afinal, a necessidade fisiológica torna-se primordial e tudo parece necessário naquele momento. Também não é saudável esperar a fome atingir seu pico máximo para ouvi-la. "O cérebro demora até 20 minutos para sinalizar o estômago que está satisfeito, por isso, muitas vezes, as pessoas comem além da conta. A refeição precisa ser mais lenta para dar tempo de acontecer essa comunicação", diz Salvo.

Dessa forma, ninguém sairá da mesa empanturrado. O ideal, segundo a professora da Unifesp, é medir a fome (0 a 10) e nunca deixar atingir o limite. Pois, nesse momento, a ansiedade para aliviar essa falta de alimento, pode até causar mal-estar pelo excesso ou pela rapidez em se alimentar. "A emoção é a causa, e a forma de se alimentar a consequência, é importante atentar-se à causa para conseguir quebrar o automático", comenta Timerman.

Alimentar-se é uma celebração

Nem sempre o alimento funciona como anestesia, querendo mascarar uma emoção ruim. Alimento também é alegria e celebração. Por isso, emoções positivas também interferem na maneira como se relacionar com a comida. Um exemplo claro são as comilanças relatas durante as festividades de final de ano. Quem nunca? "A pessoa passa o ano todo pensando naquela sobremesa típica de Natal e, quando chega a data, vai comê-la com o sentimento de escassez", diz Salvo. Esse é um castigo desnecessário, pois não é preciso determinar um alimento para uma data exclusiva.

Ao desenvolver essa percepção sobre as emoções fica mais fácil não se deixar levar por ela. Afinal, a fome pode ser visual (se está disponível devo comer) e cultural (preciso comer tudo que tem no prato) e todas essas situações estão motivadas por um sentimento que não deve comandar o ato de se alimentar. Por isso, é importante saber honrar o corpo e a fome, realizando o controle de cada escolha, sentindo-se responsável pela construção da qualidade da própria alimentação.

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