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Atriz que interpreta Arya em "GoT" diz que fama já abalou sua autoestima

Maisie Williams como Arya no último episódio de "Game of Thrones" - Divulgação
Maisie Williams como Arya no último episódio de "Game of Thrones" Imagem: Divulgação

Gabriela Ingrid

Do UOL VivaBem, em São Paulo

16/05/2019 17h42

A série Game of Thrones está chegando ao fim e a personagem Arya Stark, interpretada por Maisie Williams, 22, está entre as mais queridas do público. Mas apesar do sucesso da trama ter colocado a atriz britânica sob holofotes e até a ser indicada para o Emmy, a fama também trouxe problemas psicológicos para Williams.

Em uma entrevista ao podcast Happy Place, ela contou que lutou contra a baixa autoestima no início da série, quando tinha apenas 13 anos, e que se sentia muito deprimida. Segundo a atriz, as críticas que recebia nas redes sociais a fizeram se odiar por um longo período. "Eu passei uma fase muito longa da minha vida em que eu dizia a mim mesma, todos os dias, que eu me odiava", disse.

Maisie conta que a pressão chegou ao ponto de ela quase desejar algo negativo. "É fácil, então, entrar em um buraco de tristeza".

Maisie Williams, a Arya Stark de "Game of Thrones" - Getty Images - Getty Images
Maisie Williams, a Arya Stark de "Game of Thrones"
Imagem: Getty Images

Como a fama afeta a cabeça de uma criança?

Maisie, claro, não é uma exceção. Estrelas mirins como Demi Lovato, Selena Gomes, Britney Spears e até Sophie Turner, parceira de Williams em Game of Thrones e que recentemente revelou sua luta contra a depressão, também são exemplos de como a fama enquanto ainda se é uma criança pode afetar a saúde psicológica.

"A infância é o período da vida em que a estrutura psicológica é constituída, sua identidade, personalidade, é o momento de formação do aparelho psíquico. O problema é que os atores mirins podem ter dificuldade de administrar algumas respostas emocionais", diz Carolina Santilli*, psicóloga especializada em psicologia da infância pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

De acordo com Santilli, a primeira é a distinção entre fantasia e realidade. Encarnar personagens e viver em cenários de faz de conta para televisão podem confundir a criança e deixar marcas enquanto ela está se constituindo.

Outra questão é a construção do que é público e do que é privado. "Esse é um aprendizado que adquirimos, o que podemos dividir, o que exige um trato mais preservado. E quando a pessoa é famosa existe uma extrapolação desses limites, o que dificulta a compreensão da criança", explica.

Essas respostas emocionais ajudam os pequenos a concretizar a personalidade, além de construir uma autoimagem, apreender a classificar e lidar com aprovações e desaprovações, critérios que se não forem bem estabelecidos podem levar a lacunas emocionais que propiciam instabilidades.

Maisie Williams e Sophie Turner na premiere de "Game of Thrones" - Taylor Hill/Getty Images - Taylor Hill/Getty Images
Maisie Williams e Sophie Turner na premiere de "Game of Thrones"
Imagem: Taylor Hill/Getty Images

Segundo Marta Lucion*, psiquiatra do Hospital São Lucas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), ao mesmo tempo em que são criadas responsabilidades profissionais, uma criança famosa pode não ter cobranças e limites pertinentes a sua idade, como levantar sozinha e arrumar suas coisas, além de não 'precisar' desenvolver habilidades sociais para interagir com as outras crianças.

"Ainda há falta de rotina, como não dormir regulamente, o que pode levar a um pior desenvolvimento comportamental", exemplifica Carolina Chaim*, psiquiatra do Núcleo de Álcool e Drogas do Hospital Sírio-Libanês.

Fãs também são culpados

Por mais que os fãs enalteçam os atores mirins, eles também criam a necessidade de aquela pessoa se encaixar em padrões, ser exemplo e ter a vida pública para ser acompanhada --e opinada.

Se todos sofremos com críticas nas redes sociais, por exemplo, imagine o quanto essas palavras não afetam os pequenos, que por estarem sob os holofotes são cobrados a não serem criticados e terem uma aura de respeito e admiração.

"Para crianças a opinião de adultos é muito representativa. Quando você é mais velho consegue discernir entre o que vale ou não ouvir dos outros, uma criança não está estruturada para isso e fica fragilizada", explica Lucion.

"Todos somos vulneráveis a ter transtornos psicológicos, mas os dos famosos são mais expostos, enquanto quem tem poucos seguidores no Instagram pode se tratar de forma discreta", pontua Mark Costa*, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Yale, nos Estados Unidos.

Mandar muito bem com a espada, como Arya - Divulgação/HBO - Divulgação/HBO
Arya é uma das personagens mais queridas da série
Imagem: Divulgação/HBO

Como contornar problema?

Com tantas informações chegando até a criança em uma velocidade acelerada, é preciso ter cuidadores que ajudem a manter o controle, sejam eles os pais, tios, empresários ou outras celebridades que acompanham a rotina.

"A criança tem que ser respeitada. Ela tem que trabalhar porque gosta, a família precisa conversar, saber equilibrar horários, apoiar e não abusar", diz Lucion. "Ao mesmo tempo, é preciso ficar atento para manter o máximo de normalidade no dia a dia, colocar os pés da criança no chão e respeitar o crescimento interno", completa.

Os pequenos precisam ter garantidos seus direitos de brincar, se relacionar, aprender, ter atenção e cuidado, não só tarefas profissionais. "A fama é um desafio extra na infância e exige que os responsáveis fiquem na linha de frente para filtrar as exigências, sem exceder a capacidade estrutural da criança de lidar com os conflitos e desafios do trabalho", complementa Santilli.

"Not today"

No caso de Maisie Williams, a baixa autoestima foi o maior problema, mas podem ser comuns respostas como depressão, ansiedade, dependência de drogas, álcool e remédios, ou comportamentos extravagantes e exagerados.

O acompanhamento psicológico nestes casos é importante diante de alguns sinais, como problemas importantes de comportamento, uso precoce de álcool ou outras drogas, demonstrações de tristeza ou irritabilidade excessiva, ansiedade (demonstrada muitas vezes com ranger dos dentes ou roer unhas), isolamento, mudanças bruscas de amizades, algum sinal de transtorno alimentar (como medo patológico de engordar ou indução de vomito ou uso de diuréticos/laxantes), automutilação e tendência a guardar muitos segredos. E é preciso que alguém esteja de olhos bem abertos para essa criança para notar tais transformações.

Maisie Williams em aparição no "The Tonight Show" - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Maisie Williams em aparição no "The Tonight Show"
Imagem: Reprodução/YouTube

Williams revelou que mesmo oito anos após o início de Game of Thrones, ela ainda sofre com questões do tipo. "Eu ainda me pego, às vezes, deitada na cama às 23 horas me dizendo todas as coisas que eu odeio em mim. É realmente aterrorizante voltar para isso. Ainda é algo em que estou realmente trabalhando, porque acho que é muito difícil. É muito difícil ficar triste e não se sentir completamente derrotada por isso", disse.

O diferencial é que hoje, mais madura, ela questiona esses sentimentos ruins. "Muitos desses problemas estão realmente ligados a coisas do seu passado, a medida que você começa a ir fundo e se fazer perguntas maiores do que 'Por que eu me odeio?'. É mais: 'Por que você se faz sentir desse jeito?'. As respostas para todas essas perguntas realmente estão dentro de você", refletiu.

Por maior que seja o sucesso de Arya, a atriz britânica confessa que gostaria de uma vida mais tranquila: "Honestamente, eu quero uma vida normal. Eu não quero nada deste mundo louco, e é louco porque não vale a pena".

*Fontes consultadas em matéria do dia 16/10/18.

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