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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


Moda entre famosos, treino com eletroestimulação gera melhores resultados?

Fernanda Gentil é uma das celebridades que investe em treinos com eletroestimulação - Reprodução do Instagram
Fernanda Gentil é uma das celebridades que investe em treinos com eletroestimulação Imagem: Reprodução do Instagram

Diana Cortez

Colaboração para o UOL VivaBem

09/05/2019 04h00Atualizada em 10/05/2019 13h27

Resumo da notícia

  • Cada vez mais pessoas estão investindo em exercícios com eletroestimulação, que prometem encurtar o treino e garantir resultados melhores
  • No entanto, pesquisas mostram que o método não promove ganho de força ou hipertrofia maior que a musculação
  • A tecnologia até proporciona resultados de emagrecimento similares ao HIIT, mas ele já é um treino curto
  • A eletroestimulação ainda pode causar danos musculares e liberar proteínas no sangue que danificam os rins

Bruna Marquezine, Fernanda Gentil, Marina Ruy Barbosa, Mariana Ximenes. Provavelmente, você já viu posts nas redes sociais ou até leu notícias sobre o treino com "choquinhos" que muitas celebridades estão fazendo para obter resultados melhores que a musculação --e em pouco tempo de atividade física. Será mesmo?

O método, em que a pessoa geralmente treina com um colete e eletrodos espalhados pelo corpo, é a eletroestimulação de corpo inteiro ou EMS (do inglês, Electro Muscle Stimulation). Ela foi criada na União Soviética há décadas e até então era utilizada na fisioterapia e até em clínicas de estéticas para combater a flacidez (com o nome de corrente russa).

Segundo Carlos Ugrinowitsch, professor da Faculdade de Educação Física da USP (Universidade de São Paulo), estudos mostram que os resultados do treino com eletroestimulação de corpo inteiro na hipertrofia e no ganho de força são iguais ou até piores do que o treinamento de força convencional --que usa barras, anilhas, aparelhos etc.

Inclusive, uma das pesquisas, realizada na Alemanha com dois grupos de adultos de meia idade, mostrou que as pessoas que investiram no exercício convencional tiveram uma leve tendência de ganhar mais massa muscular no tronco e nos membros superiores do que quem usou eletroestimulação. Já os resultados de hipertrofia nos membros inferiores e o ganho de força foram similares nos dois grupos.

Ah, e sobre a questão de economizar tempo na academia, os treinos com eletroestimulação geralmente têm duração de 20 minutos. Pois saiba que nesse período também é possível fazer um treino de musculação que garante excelentes resultados, investindo em exercícios multiarticulares e outras estratégias que permitem encurtar sua rotina na academia.

Por que não funciona para ganhar músculos?

Provavelmente, um dos motivos para não haver um melhor resultado é a potência elétrica reduzida que esses equipamentos precisam ter para trabalhar o corpo inteiro, caso contrário, a pessoa não suportaria a dor proporcionada pela carga.

Para se ter ideia, enquanto a frequência usada em fisioterapia é em média de 2.500 hertz, focando uma área do corpo e impedindo a pessoa de se movimentar, a eletroestimulação de corpo inteiro no treino trabalha com baixa frequência bipolar de até 100 hertz, permitindo realizar simultaneamente os exercícios.

"Assim, o equipamento conseguiria atingir principalmente as fibras musculares do tipo 1, relacionadas à resistência, mas não as fibras do tipo 2, que envolvem os mecanismos de hipertrofia, velocidade e potência, e são mais difíceis de serem recrutadas. Para esse efeito, seria preciso aumentar muito a potência, o que impossibilitaria suportar a dor", explica Paulo Henrique Azevedo, professor associado do departamento de ciências do movimento humano da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Já o treinamento de força convencional consegue ativar justamente as fibras do tipo 2.

Tecnologia pode ajudar na perda de peso

A metodologia no entanto parece se mostrar eficiente para o emagrecimento. "Isso porque a contração provocada pela corrente faz com que o músculo consuma mais glicose (energia), podendo até mesmo alterar a glicemia (taxa de açúcar no sangue). Por isso, pessoas com diabetes só devem apostar na tecnologia com acompanhamento de um médico, assim como pacientes cardiopatas --pois existe o risco de ocorrer uma hiperglicemia.

Uma pesquisa realizada na Chukyo University (Japão) também sugere que a combinação de eletroestimulação e exercício voluntário de média a baixa intensidade pode aumentar a resposta metabólica em um nível equivalente ao exercício de alta intensidade, elevando o gasto energético pelo corpo. Porém, nunca é demais lembrar que os treinos de alta intensidade (HIIT) geralmente já duram de 15 a 30 minutos. Ou seja, o treino com eletroestimulação não é mais curto do que um treino "normal" e eficiente para emagrecer. A diferença é que o EMS permite os mesmos resultados fazendo menos esforço na academia.

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VivaBem

Método traz riscos à saúde

Assim como qualquer atividade física, se não for bem orientada e respeitar o limite dos alunos a eletroestimulação pode ser prejudicial ao corpo. Um importante ponto de atenção nos treinos com EMS é o risco de rabdomiólise, condição aguda que pode causar danos nas funções dos rins e, em casos mais graves, levar a pessoa à morte por falência renal. "A eletroestimulação é uma das modalidades que mais causa danos musculares, liberando muita proteína intramuscular na corrente sanguínea, motivo que geraria o quadro", avisa Ugrinowitsch.

Esse risco também já foi relatado em uma revisão de estudos da Áustria, que identificou alguns casos da condição em pessoas que treinaram com o método pela primeira vez. Daí a importância de começar a sessão de eletroestimulação com uma intensidade leve e aumentá-la de forma lenta e gradual, mesmo em pessoas treinadas.

Além disso, Ugrinowitsch reforça que ainda não há estudos suficientes para saber para quais pessoas o método é recomendado e quais seriam os protocolos mais seguros para realizá-lo --que definiria desde o tamanho dos eletrodos, a frequência e a amplitude do sinal. Mas já se sabe que a tecnologia é contraindicada para gestantes, epiléticos, pessoas portadoras de marca-passo e pacientes com alguma anomalia no sistema venoso ou linfático, como trombose ou trombofilia.

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