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Nova área de pesquisa une metabolismo e imunidade e ajuda contra obesidade

Juntar conhecimentos sobre o metabolismo e a imunologia pode facilitar e aprofundar a compreensão sobre obesidade, abrindo portar para novas terapias - Getty Images
Juntar conhecimentos sobre o metabolismo e a imunologia pode facilitar e aprofundar a compreensão sobre obesidade, abrindo portar para novas terapias Imagem: Getty Images

Do UOL VivaBem, em São Paulo

22/04/2019 20h09

Você já ouviu falar do imunometabolismo? Guarde esse nome, é uma nova área de pesquisa que junta os conhecimentos sobre o metabolismo e a imunologia. Especialistas explicam que há um crescente interesse pela área com o aumento da obesidade, já que achados recentes mostram que a doença afeta o sistema imunológico e promove a inflamação.

"Quando o tecido adiposo em uma pessoa obesa se expande, pensamos apenas em gordura; ocorre que as células imunes também se expandem e podem representar mais de 50% do tecido -nesse caso, o obeso possui mais células imunológicas que adipócitos, que são as células do tecido adiposo que acumulam a gordura. E ainda entendemos muito pouco sobre como o sistema imune modula esta inflamação que acontece na obesidade," explica Pedro Vieira, professor que criou o primeiro laboratório de imunometabolismo do Brasil, no Instituto de Biologia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

É claro que existem terapias relativamente eficazes, mas o alerta é que durante muito tempo a parte imunológica da questão foi negligenciada. Uma vez que os números de obesidade só crescem e a questão se torna cada vez mais urgente, é preciso expandir as pesquisas.

A nova área pode melhorar os tratamentos?

"O que sabemos hoje é que mais da metade da população brasileira está com sobrepeso, o que é muita coisa, e que mais de 20% dessas pessoas estão obesas, ou seja, com IMC (índice de massa corporal) acima de 30," afirmou o professor durante entrevista com Luiz Sugimoto, do Jornal da Unicamp.

"As terapias de hoje atuam principalmente nos adipócitos, ficando esquecidos os 50% de outras células ali presentes. Quando se tem a metade da população com sobrepeso, atingir uma glicemia acima de 120 não é muito difícil. Uma percentagem dessas pessoas tende a se tornar diabética em algum momento, fazendo crescer o número de doentes, sobretudo de diabetes infantil," completou Vieira.

O professor acredita que entendendo como a modulação de macrófagos ou de linfócitos, por exemplo, pode influenciar para a obesidade e a resistência à insulina (diabetes tipo 2), será possível chegar a novas terapias.

Premiação pelas novas técnicas

Vieira vai concorrer ao prêmio HelDi-Award com um conjunto de trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Imunometabolismo que relacionam a obesidade também à regulação imunometabólica de doenças autoimunes como esclerose múltipla e doença de Crohn (que afeta o aparelho digestivo).

"Uma contribuição é de que a obesidade leva a níveis aumentados de leptina, um hormônio associado ao consumo alimentar e à maior propensão de rejeição de órgãos por transplantados. O obeso se torna resistente à leptina, cuja função é inibir o apetite, e passa a comer cada vez mais. Portanto, a rejeição não se deve necessariamente à obesidade, e sim aos níveis elevados deste hormônio no sangue," disse em entrevista ao Jornal da Unicamp.

O pesquisador vai demonstrar também que temos um fator no sangue responsável por transportar vitamina A para os diferentes tecidos e que, na obesidade, ele está aumentado. "O fator aumentado induz ao quadro de resistência à insulina encontrado em pessoas com diabetes tipo 2. Mostramos que essa proteína ativa os macrófagos residentes no tecido adiposo fazendo com que iniciem um processo inflamatório que agrava o quadro da doença.

Outra contribuição é a descoberta em 2014 de uma família nova de lipídeos, juntamente com colegas de Harvard (Boston): esses lipídeos estão aumentados em pessoas com maior sensibilidade a insulina e diminuídos em diabéticos com resistência a insulina: animais obesos tratados com o lipídeo se tornam sensíveis à insulina, ou seja, se curam da diabetes tipo 2."

Vieira disse que os lipídeos, em si, têm potencial para se transformar em medicamento - e seguros, pois são produzidos em nosso próprio corpo. "É possível oferecer lipídeos como suplemento oral para pacientes com diabetes. Mas ainda acho que o potencial maior está nas vias bioquímicas em células imunes que desconhecemos e que poderiam facilmente ser alvos terapêuticos. A partir do momento em que soubermos de sua importância, podemos intervir nessas vias e levar a uma melhora do quadro inflamatório do paciente, por exemplo."

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