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Ter o 'coração partido' às vezes afeta mesmo o órgão; conheça essa síndrome

Hormônios do estresse, que não precisa ser só emocional, podem afetar partes do coração e atrapalhar seu funcionamento - iStock
Hormônios do estresse, que não precisa ser só emocional, podem afetar partes do coração e atrapalhar seu funcionamento Imagem: iStock

Simone Cunha

Colaboração para o UOL VivaBem

12/04/2019 04h00

Resumo da notícia

  • A síndrome do coração partido acontece quando o estresse emocional ou físico causa uma alteração no ventrículo esquerdo do coração
  • Isso é causado pelos hormônios liberados nesses momentos de emoções fortes e causam dor no peito e falta de ar
  • Normalmente essa síndrome é confundida com um infarto, mas seus efeitos no coração são reversíveis, diferentemente do ataque cardíaco

Você já ouviu falar em síndrome do coração partido? O nome poético parece ter saído dos romances literários, mas é na verdade uma doença que leva a alterações funcionais no coração, com sintomas semelhantes ao infarto do miocárdio, como forte dor no peito, falta de ar e até desmaio.

Os sintomas surgem desencadeados por um grande estresse, que pode ter origem emocional, como uma grande perda, dor ou sofrimento. Mas o estresse físico como traumas, crises convulsivas ou grandes cirurgias também podem ocasionar a doença.

Essa síndrome foi descrita por médicos japoneses, em 1991, recebendo o nome de cardiomiopatia de Takotsubo, pois a desordem transitória leva a diminuição da função de uma parte do ventrículo esquerdo, em que assume um formato semelhante a um vaso usado para pescar polvos, muito utilizado no Japão, por isso: tako = polvo + tsubo = vaso, pote.

Entenda a causa

Situações que provocam uma forte emoção geram uma descarga intensa de hormônios, as chamadas catecolaminas, na corrente sanguínea. E isso pode levar a espasmos de pequenos vasos do coração, ou seja, um estreitamento nas artérias que irrigam o órgão. Isso interfere no funcionamento do músculo cardíaco. O organismo reage produzindo sintomas semelhantes ao infarto, por isso é uma doença ainda subdiagnosticada.

Durante a manifestação dessa síndrome ocorre sofrimento de células do miocárdio do ventrículo esquerdo, levando à disfunção regional do mesmo. Isso pode causar insuficiência cardíaca (uma parte do coração deixa de funcionar como "bomba" para impulsionar o sangue a ser distribuído pelo corpo).

Conheça seus sintomas

Os sintomas mais frequentes (precedidos por estresse físico e/ou emocional) são dor torácica (dor no peito) e falta de ar. Ocasionalmente pode haver tontura e até desmaio. De forma geral a dor torácica não dura muito tempo (minutos a no máximo algumas horas), entretanto, dependendo do tamanho do comprometimento do miocárdio, a falta de ar pode durar mais tempo.

Semelhança ao infarto

Coração e estetoscópio - iStock - iStock
Imagem: iStock
Os sintomas são muito parecidos, por isso, muitas vezes, o paciente é socorrido como se realmente estivesse infartando. E a síndrome só pode ser diagnosticada após exames cardiológicos específicos, como ecocardiograma e cateterismo que indica que não há obstrução das artérias coronarianas e ausência de outra doença que possa explicar as alterações observadas.

O quadro clínico e os exames iniciais (eletrocardiograma e marcadores de necrose miocárdica no sangue) também são similares aos do infarto, por isso as doenças se confundem. E até exclusão do diagnóstico de infarto, a síndrome será tratada como um. Mas a grande diferença entre um e outro é de que a síndrome do coração partido é reversível, já o infarto provoca cicatrizes que, em geral, são permanentes.

De forma geral, a disfunção do músculo cardíaco é transitória, podendo melhorar em uma a quatro semanas. O tratamento é de suporte clínico, controlando e minimizando essa insuficiência cardíaca transitória, até a recuperação da função do ventrículo esquerdo. São indicadas as mesmas medicações para tratar insuficiência cardíaca, sendo que em dois dias o paciente já pode receber alta. Um exame ecocardiograma será repetido em até 60 dias para confirmar a reversão completa.

Mulheres são mais suscetíveis

A recorrência é menor que 5%. No entanto, 90% dos casos são diagnosticados em mulheres, como idade entre 61 e 76 anos, na fase pós-menopausa. Isso acontece porque na menopausa, o organismo feminino deixa de produzir um hormônio chamado estrogênio, que tem papel importante na proteção do sistema cardiovascular. E a perda desse hormônio acaba deixando as mulheres mais sujeitas a apresentar problemas no coração, ficando assim mais suscetíveis à doença.

Além disso, pacientes com doenças neurológicas (epilepsia ou dores de cabeça) ou psiquiátricas (ansiedade, depressão, entre outras) também podem ter maior predisposição a desenvolverem o problema.

Pode-se morrer de coração partido?

Quando a disfunção do ventrículo esquerdo é significativa, a síndrome do coração partido pode levar a um choque cardiogênico (quando o coração não consegue bombear sangue na quantidade certa para o resto do corpo) e até óbito. Porém, há um baixo índice de morte ou complicações graves.

Fontes: Marcelo Franken, gerente médico do Programa de Cardiologia da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein; Roberto Kalil Filho, presidente do Conselho Diretor do Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade São Paulo (FMUSP); e Sâmela de Morais Segóvia, cardiologista assistente do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), e supervisora da Residência Médica de Cardiologia do Hospital Universitário de Brasília (HUB) da Universidade Federal de Brasília (UnB).

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