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Longevidade

Práticas e atitudes para uma vida longa e saudável


Em que momento o idoso não deve mais viver sozinho?

Idosos podem viver bem sozinhos, mas família precisa estar próxima para acompanhar sua saúde - iStock
Idosos podem viver bem sozinhos, mas família precisa estar próxima para acompanhar sua saúde Imagem: iStock

Simone Cunha

Colaboração para o UOL VivaBem

04/04/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Ter um idoso na família exige um acompanhamento próximo, para entender se ele precisa de ajuda nas atividades do dia a dia
  • Sinais como quedas recorrentes, momentos de falta de atenção e mudanças na aparência e autocuidado podem indicar problemas
  • Nesses casos, é importante buscar um médico e entender se há algum problema que possa comprometer sua independência

Sabe a ideia de que, em um determinado momento, os filhos viram os pais de seus pais não é apenas um clichê. Com a longevidade, é essencial que filhos e netos (ou quem for responsável) tenham um olhar mais atento aos idosos da família. E com isso surge o questionamento, até quando eles devem viver sozinho?

Não existe uma resposta exata a essa pergunta, afinal depende muito do estado em que cada idoso está. Normalmente ela vai precisar de supervisão quando está com problemas em sua locomoção ou cognição e isso o coloca em risco. Por exemplo, ele pode estar bem para tomar banho sozinho ou se vestir, mas já esqueceu a panela no fogo três vezes, o que coloca sua integridade física em risco. Mas isso não significa que os filhos e netos não devem estar de olho mesmo que a distância.

Supervisão constante

Na prática, ter a ideia de que está tudo certo porque o idoso está lúcido, vai ao médico periodicamente e toma os medicamentos sem reclamar não é indicativo de que a família não deva investigar e se certificar de que tudo caminha realmente bem. "A incapacidade física é mais fácil de ser aceita e percebida do que a diminuição da cognição e alguns sinais podem ajudar a realizar este acompanhamento", confirma a psiquiatra Rita Cecília Reis Ferreira, do Programa Terceira Idade do IPq do HC da FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

Fique atento aos sinais de que a saúde dele não está bem e pode ser necessário interferir. Os pontos indicados a seguir apontam que é importante buscar orientação médica para alcançar um tratamento adequado e até conseguir tomar uma decisão mais acertada, se o idoso pode ou não continuar sozinho.

- Acidentes recentes ou quase-acidentes: com o envelhecimento aumentam as chances de quedas, e é fundamental dar atenção a isso mesmo que o idoso diga que "não foi nada". Ferreira diz que existe um preconceito social com o uso de bengala, mas é um ponto de apoio que pode ajudar muito a evitar quedas.

- Recuperação lenta: mesmo em doenças corriqueiras, como uma gripe, é importante buscar ajuda e tratamento. Se faltou essa iniciativa, é importante avaliar o porquê. A geriatra Yolanda Maria Garcia, professora de Geriatria na FMUSP, informa que dificuldades e limitações podem mudar os hábitos desse idoso e, muitas vezes, ele precisa de companhia para manter sua rotina de cuidados com a saúde e a alimentação, por exemplo.

- Dificuldade em gerenciar as atividades cotidianas: observar as habilidades necessárias para viver de maneira independente, como vestir-se, fazer compras, cozinhar, cuidar das medicações. Segundo Mônica Andrade Tobias Maciel, assistente social, especialista em gerontologia pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e conselheira consultiva da diretoria da SBGG/SP (Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia), se este idoso passa a agir e se apresentar de forma diferente do que era habitual, vale ficar em alerta. "Dificuldade no autocuidado (higiene precária), alimentação inadequada (insuficiente ou exacerbada), comportamento desajustado (isolamento, apatia, extroversão demasiada), dificuldade com as finanças, descontrole no acompanhamento de sua saúde são sinais que podem apontar algum problema".

- Perda ou ganho de peso visível: Garcia alerta que uma pessoa que passa a ter dificuldades de locomoção para sair e fazer compras ou preparar o alimento irá enfrentar mudanças na rotina alimentar. Isso vai afetar o peso que pode diminuir ou até aumentar, porque a pessoa passa a trocar uma refeição saudável por lanches e preparos mais fáceis e rápidos. "Observe o conteúdo da geladeira, confira se não há alimentos vencidos e estragados, se os produtos são saudáveis e corriqueiros da alimentação habitual desse idoso, se não há uma quantidade exagerada de um determinado produto", ensina.

- Mudanças na aparência: as roupas estão limpas e ordenadas ao corpo, os cabelos estão penteados, o odor é bom? Não se cuidar por esquecimento ou falta de vontade pode ser sinal de que algo não vai bem. "Na dúvida, é fundamental buscar diagnóstico porque algumas demências são reversíveis, outras são leves e, nem sempre os sinais indicam demência, o idoso pode apresentar um quadro de depressão, alteração tireoidiana, anemia, ausência de vitaminas, hipertensão arterial, Diabetes e outros que podem alterar a rotina do idoso", diz Ferreira.

- Coisas quebradas e queimadas: "As demências são uma doença neurodegenerativa, progressiva, que provoca o declínio das funções cognitivas, reduzindo as capacidades de trabalho e interferindo no comportamento e na personalidade da pessoa, trazendo perda de memória recente", informa Maciel. Portanto, observe se as bocas do fogão estão escuras ou se os fundos das panelas estão queimados; também confira se há rastros de desleixo na manutenção da casa, como lâmpadas queimadas há muito tempo, itens quebrados ou acúmulo de papéis. Tais sinais podem indicar esquecimento e falta de atenção, por isso devem ser investigados.

- Descontrole financeiro: contas vencidas, saldo devedor no banco, pedido de empréstimo consignado sem necessidade são situações que podem dar indícios de alguma confusão mental. "Se ele demonstrar que está confuso, um pouco desorientado com as finanças, ajude! E procure investigar como anda este tipo de controle", fala Garcia. Há casos em que o idoso também pode estar passando por necessidade e, por vergonha, não avisa a família. Por isso, monitoramento é essencial.

Tome cuidado ao abordar o tema

Para Maciel, além da observação, é sempre importante valorizar as suas potencialidades. "Apontar apenas seus déficits pode causar um sofrimento emocional pautado no constrangimento". Antes de tomar qualquer decisão, vá a uma consulta médica, acompanhe-o ao supermercado, confira as receitas e veja se os medicamentos estão sendo tomados no horário certo. Se perceber que é importante ter alguém para preparar a comida para evitar acidentes no fogão, converse. "Certamente, quando avaliada a necessidade de intervenção, é recomendado que as mudanças ocorram de forma gradual, compartilhando as decisões com o idoso e estando abertos a ouvi-lo, com respeito e paciência", finaliza a especialista.

Dois idosos, atenção redobrada

Outro ponto que merece ser observado são os idosos que vivem juntos e cuidam um do outro. Normalmente esse tipo de situação merece atenção redobrada: "o idoso que cuida de outro idoso pode se sentir sobrecarregado e, ao corrigir as falhas indicadas como sinais de alerta do outro, atrasar um possível tratamento", diz Garcia. Portanto, é preciso estar próximo para entender se alguma dessas situações está ocorrendo. A vantagem é que se for firmada uma parceria na família, eles estarão próximos para dizer aos filhos, netos e outros parentes o que está havendo em casa.

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