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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Seu filho é agitado? Mindfulness ajuda criança a ter mais concentração

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Imagem: iStock

Camila Bunelli

Colaboração para UOL VivaBem

07/03/2019 04h00

Resumo da notícia

  • Crianças agitadas ou com TDAH diagnosticado podem se beneficiar com o mindfulness
  • As atividades aumentam sua atenção e foco e são feitas de forma mais lúdica e divertida
  • Vale lembrar que nem toda criança agitada tem TDAH, entenda a diferença

Muitos estudos têm apontado o mindfulness para acalmar crianças que não param quietas. E nesse momento as mães de crianças hiperativas olham com aquela cara de desconfiança. Será que é possível fazer o filho agitado ficar quieto por alguns segundos para meditar?

A boa notícia é que dá certo sim, inclusive em crianças com hiperatividade diagnosticada. Estudos permitem observar uma melhora do nível atencional depois de um programa de duas semanas de treinamento de Mindfulness --ou Atenção Plena, em português -- em crianças e adolescentes com TDA (Transtorno do Déficit de Atenção) ou TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade). Uma pesquisa inclusive mostrou uma melhora de 30% nos sintomas quando a atenção plena foi aliada ao tratamento tradicional.

O estudo foi conduzido pela Universidade de Amsterdã e tanto as crianças quanto os adolescentes apresentaram melhora. No caso delas, também foi oferecido o treino às suas mães. O resultado foi o estreitamento de laços entre os dois, proporcionando maior qualidade do tempo entre mãe e filho. As crianças também apresentaram um comportamento de mais obediência perante os pais. 

Em grande parte, é porque o mindfulness não é uma meditação propriamente dita e sim um estado mental em que é possível controlar a atenção para o presente, para a tarefa que se está realizando naquele momento. E as técnicas usadas para essas crianças são diferentes da meditação tradicional. 

Como fazer seu filho agitado treinar mindfulness?

Não se preocupe, nenhum psicólogo ousaria pedir a uma criança que feche os olhos e preste atenção na respiração por vários minutos como se faz com um adulto --até porque ela conseguiria.

A brincadeira vai ser tentar fazer "o soco do Batman esticando o braço em câmera lenta". Ou então "cheirar uma florzinha e soprá-la prestando bastante atenção na respiração", no peito e como ele se movimenta. Ou ainda, com um bicho de pelúcia sobre a barriga, pedir para que ela preste atenção na respiração por meio dos movimentos do bichinho. Os exercícios também devem ter durações mais curtas. 

Atividades como essas ajudam a treinar o foco, melhorando muito os sintomas de hiperatividade. Ajudam, ainda na regulação emocional e habilidades socioemocionais. Normalmente, elas são feitas por um psicólogo no tratamento de psicoterapia, que é importante principalmente para crianças com TDAH diagnosticada. Mas, caso seu filho seja apenas agitado e você queira começar em casa, confira alguns exercícios simples para fazer com crianças.

Por que funciona?

O mindfulness é como se fosse uma musculação do cérebro. Diante de um treino atencional, psicólogos resolveram testar essa técnica em pessoas com TDAH e deu certo. Com a prática, é possível notar melhora na regulação atencional, emocional e de conduta. Isso porque esse treino fortalece os circuitos cerebrais no córtex pré-frontal que são responsáveis por foco e concentração. Assim, pessoas que praticam a atenção plena tendem a ter essa região cerebral mais fortalecida.

O conceito de atenção plena vem na contramão do ser humano multitarefas. Estudiosos da técnica nem acreditam que tenhamos esse poder, já que sempre acabamos estafados e doentes. "Mudamos o foco de atenção ainda mais rápido do que já mudamos outrora --o que causa um gasto energético e gera cansaço. Assim, podemos perder até 40% da produtividade quando executamos muitas funções ao mesmo tempo", diz o médico Marcelo Demarzo, coordenador do Mente Aberta, o Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Com as crianças funciona a mesma lógica. Afinal, além de estar com a atenção em vários assuntos --tudo é novidade -- os pequenos de hoje recebem muito mais estímulos: a maioria tem telefone celular. Além disso, elas também têm as preocupações do mundo delas: desempenho escolar, competência nas brincadeiras com os amigos, sociabilidade. 

Nem toda criança agitada tem TDAH

É importante lembrar que a maioria das crianças agitadas só não tem foco mesmo. Mas a técnica funciona em qualquer um dos casos. O diagnóstico do TDAH é difícil, porque outras comorbidades mentais se mesclam, como o transtorno de ansiedade, por exemplo. Além disso, comportamentos como brincar, pular, se inquietar e gritar são próprios de crianças e podem se confundir com TDAH. 

É preciso estar atento ao nível de desatenção, inquietude e comportamento impulsivo e de se colocar em risco. Apesar de o baixo rendimento escolar não ser um sintoma obrigatório para crianças com o transtorno, esses jovens costumam sofrer além do normal em vários ambientes da vida.

O diagnóstico da TDAH é sistêmico e excludente, ou seja, ele não deve levar apenas em conta se a criança é ou não agitada e todas as possibilidades têm de ser testadas para que sejam eliminadas como hipótese diagnóstica. O tratamento é psicoterapia semanal, dentro da qual técnicas de mindfulness podem ser utilizadas para exercitar a atenção. Os medicamentos podem ser utilizados ou não, mas ainda são maioria nos tratamentos o transtorno - e muito se fala em hipermedicalização de crianças TDAH.

Fontes: Marcelo Demarzo, coordenador do Mente Aberta, o Centro Brasileiro de Mindfulness e Promoção da Saúde da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e blogueiro do UOL VivaBem; Thiago Tatton, psicólogo, doutor em Psicologia pela UFRGS/RS e especialista em Mindfulness pela Escola de Medicina da Universidade da California em San Diego (UCSD); Vitor Friary, psicólogo, diretor clínico do Centro de Mindfulness (Rio de Janeiro), professor avançado MBCT pelo Center for Mindfulness da Universidade da Califórnia San Diego; Larissa Bufaiçal, Neuropsicóloga e professora da pós-graduação em Neuropsicologia do IPOG (Instituto de Pós-Graduação e Graduação).

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