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Agrotóxico mais usado no mundo é apontado como cancerígeno; há perigo?

Leonid Eremeychuk/iStock
Imagem: Leonid Eremeychuk/iStock

Giulia Granchi

Do UOL VivaBem, em São Paulo

20/02/2019 19h04Atualizada em 21/02/2019 20h39

Resumo da notícia

  • Estudo traz à tona polêmica da relação entre câncer e o agrotóxico conhecido como glifosato
  • Oncologista explica que ainda não existem evidências suficientes para confirmar a relação
  • Agrônomo aponta característas da substância e afirma que, se usado corretamente, o pesticida é seguro

Você pode não conhecer esse nome, mas o glifosato provavelmente esteve presente nas plantações que viraram suas refeições. Trata-se do agrotóxico mais usado no mundo, presente em 90% das plantações de soja e nos principais cultivos agrícolas. 

Apesar de amplamente comercializado, o glifosato é apontado por alguns cientistas como cancerígeno e acusado de ser um possível responsável por casos de linfomas não-Hodgkin. Um relatório da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) também classificou a substância como "provável carcinógeno humano" em 2015, e agora, uma nova análise de várias pesquisas científicas, publicada no periódico Mutation Research, aumenta a polêmica. 

As descobertas dos cinco cientistas norte-americanos contradizem as garantias da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) de segurança sobre o herbicida e mostra, que pessoas com alta exposição (sem especificar quantidade) ao pesticida têm um risco 41% maior de desenvolver câncer do tipo linfoma não-Hodgkin.

No entanto, conforme aponta o oncologista André Murad, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), outras metanálises concluíram o contrário.

Precisamos de um estudo muito grande, completo e prospectivo para acabar com qualquer dúvida

De acordo com Angelo Zanaga Trapé, médico toxicologista e professor doutor aposentado da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que realizou estudo ainda não publicado em trabalhadores que aplicam a substância no Mato Grosso, "do ponto de vista de toxicologia clínica, não há nenhum tipo de perigo maior caso a exposição seja feita com proteção".

Murad ainda explica que raramente o agrotóxico penetra no interior dos alimentos, o que dificulta a alta exposição de pessoas comuns. "De qualquer modo, recomendamos que antes de consumir alimentos como frutas consumidas com casca, as pessoas devem lavar bem o alimento e deixar de molho por um período para eliminar possíveis resquícios da substância", afirma. 

Agrotóxico presente na agrcultura brasileira

Diferentes empresas usam a substância em suas produções, entre elas, a Monsanto, agora adquirida pela Bayer, que no passado já foi condenada a pagar R$ 1,1 bilhão a um paciente que alegou que seu câncer havia sido causado pelo agrotóxico --no caso dele, um jardineiro, o contato com o agrotóxico se deu por aplicar o produto em plantações. 

De acordo com informações do Ministério da Agricultura, o limite máximo de resíduo pela lei brasileira para glifosato em soja é metade do autorizado na Europa. "No Brasil o limite é 10 ppm (parte por milhão), na Europa é 20 ppm", informou a assessoria de imprensa ao UOL VivaBem.

No entanto, há pouco tempo, produtores brasileiros tiveram sua exportação de soja para a Rússia temporariamente interrompida pela alta quantidade de glifosato encontrada no alimento. A Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) afirmou que recebeu com surpresa a notificação russa, já que nas análises periódicas em produtos de origem vegetal realizadas pelo Ministério da Agricultura as amostras de soja estavam 100% dentro dos limites permitidos por lei.

Possibilidades de contaminação

Soja - blusezhou/iStock - blusezhou/iStock
Imagem: blusezhou/iStock

O perigo aumenta, no entanto, em locais onde não há boa vigilância dos agrotóxicos. "Quando a fiscalização é muito fraca, a população e o meio ambiente sem dúvidas são prejudicados --isso em casos de diferentes agrotóxicos", aponta Murad. "É especialmente preocupante quando a pulverização é área e os produtos são jogados de avião sem os devidos cuidados previstos nas legislações. Isso acaba atingindo, além das plantações, rios e pessoas", completa. 

De acordo com Pedro Cristofoleti, agrônomo e professor da USP (Universidade de São Paulo) -- ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), o glifosato é um produto quase imóvel no ambiente, um benefício que evita a contaminação. 

"Quando entra em contato com organismos não alvos, sua caraterística biológica faz com que ele não se movimente no solo e tenha pouca ação fora do contato com a erva daninha", explica.

O especialista explica ainda que é impossível que o pesticida seja levado até rios, já que é absorvido de forma muito forte pelo solo e sua molécula não é volátil, o que significa que não pode ser transportado em forma de vapor para outros ambientes. "Além disso, os micro-organismos são responsáveis por degradá-lo. Sua máxima persistência no solo é de 15 a 45 dias", informa. 

Em geral, Cristofoleti afirma que, dentro das regras regulamentárias, o produto é seguro e pode e deve ser mantido até que seja substituído por nova tecnologia. "No passado, a falta de conhecimento, sobretudo de pequenos agricultores, resultavam em práticas perigosas. Ainda não estamos no nível ideal, mas a agricultura brasileira já evoluiu em nível de esclarecimento", indica. 

Resposta dos produtores de pesticidas

De acordo com a Bayer, os autores da metanálise recente selecionaram dados de acordo com seu interesse. "Como consequência, chegaram a uma conclusão diferente e menos criteriosa do que a das agências regulatórias. Além disso, alguns dos estudos utilizados não seguiram o rigor científico necessário para análises como este, como não considerar a exposição a outros agroquímicos. Acreditamos que os pesquisadores utilizaram dados de estudos não confiáveis, chegando a uma conclusão não confiável."

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferente do informado, o nome do periódico é Mutation Research.