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Brasileiros criam sonda que regula via ligada a cânceres, como de mama

Pesquisadores do SGC-Unicamp controlam via de comunicação celular por meio de um composto químico inibidor de uma proteína quinase  - iStock
Pesquisadores do SGC-Unicamp controlam via de comunicação celular por meio de um composto químico inibidor de uma proteína quinase Imagem: iStock

Do UOL VivaBem*, em São Paulo

05/02/2019 11h41

Um grupo de pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) descobriu uma forma de regular uma vida de sinalização chamada de WNT. A desregulação da WNT pode causar má-formação de embriões e o desenvolvimento de uma série de doenças, como câncer de mama e de colo de útero.

A relação da regulação dessa via com essas doenças existe porque a WNT é dependente da proteína beta-catenina, que é fundamental para o desenvolvimento de embriões e para a proliferação celular e estruturação de tecidos.

O composto químico usado para estudar o funcionamento da via de sinalização WNT foi um inibidor seletivo da proteína quinase 1 associada à AP2 (AAK1), desenvolvido por pesquisadores do SGC-Unicamp.

Estudos recentes indicavam que AAK1 está envolvida na endocitose (processo pelo qual as células captam para dentro delas diversos tipos de partículas do meio extracelular, como micronutrientes e até alguns tipos de vírus e bactérias) e que esta teria um papel regulatório na via de sinalização WNT. A inibição da AAK1 diminuiria a frequência da endocitose, apontavam esses estudos.

Os pesquisadores utilizaram o inibidor dela como uma sonda química --uma pequena molécula capaz de se ligar seletivamente e inibir a função de uma proteína relacionada a doenças em um modelo biológico. Os resultados das análises dos experimentos, publicados no periódico Cell Reports, mostraram que a AAK1 inibe a sinalização WNT dependente de beta-catenina.

Os pesquisadores também constataram que o silenciamento genético ou a inibição farmacológica da AAK1 por meio do inibidor que desenvolveram, inversamente, ativa a sinalização da WNT ao estabilizar os níveis da proteína beta-catenina nas células.

"Essas descobertas abrem a possibilidade de regular a atividade dessa via de sinalização. O composto químico inibidor da AAK1 pode tornar a via mais ativa, por exemplo", diz a pesquisadora Roberta Regina Ruela de Souza, pós-doutoranda no SGC-Unicamp.

Resultado pode ajudar a impedir infecção de dengue, febre amarela e zika

As descobertas feitas durante o estudo também confirmaram que a molécula inibidora da AAK1 que desenvolveram atende ao critério de uma sonda química e que pode ser um precursor de um fármaco que interfira em processos que dependam da endocitose, como a entrada de determinados vírus na célula hospedeira, por exemplo.

Os pesquisadores podem estudar a aplicação do inibidor para impedir a infeção por arbovírus --vírus transmitidos por mosquitos, como o da dengue, da febre amarela e da zika.

"Sabemos que esses vírus podem infectar células por meio da via da endocitose. Ao inibir essa via por meio da sonda química que desenvolvemos seria possível bloquear a entrada desses vírus nas células", disse Souza.

O inibidor da AAK1 será colocado em domínio público, para que qualquer pesquisador ligado a uma universidade, instituição de pesquisa ou indústria farmacêutica possa fazer estudos que resultem eventualmente no desenvolvimento de fármacos a partir da molécula.

"Produzimos sondas químicas para proteínas humanas que podem ser usadas como moléculas iniciais para o desenvolvimento de fármacos pelas indústrias farmacêuticas", diz Souza.

*Com informações da Agência Fapesp