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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Gengiva inchada? Inflamação é a causa mais comum; saiba como evitar

Alterações no volume e na cor da gengiva podem sinalizar infecção por bactérias - Camila Rosa/VivaBem
Alterações no volume e na cor da gengiva podem sinalizar infecção por bactérias Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Cristina Almeida

Colaboração para o UOL VivaBem

18/12/2018 04h00

Os padeiros de plantão advertem: ao comer um pedaço de pão francês ou italiano, faça-o com muita calma. Caso contrário, uma mordida em falso e aquela fatia crocante pode ferir a sua gengiva. Resultado: ela fica inchada, dolorida e ainda pode dificultar a escovação dos dentes por algum tempo. O bom é que, como a região bucal se recupera logo, não deve demorar para a rotina voltar ao normal. Mas se, na ausência de acidentes como esse você perceber a gengiva inchada, é importante ficar atento.

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A gengiva é parte de uma estrutura que envolve e sustenta os dentes. Quando esse revestimento é saudável, geralmente tem cor rosada. Assim, ao sentir qualquer inchaço, a primeira coisa a observar deve ser a coloração da mucosa (o tecido úmido que reveste toda a boca): ela tende a mudar de tom e se tornar avermelhada, sinalizando inflamação.

A gengiva inchada, também chamada de edema gengival, poderá, ainda, vir acompanhada dessas características:

  • Flacidez
  • Sangramento espontâneo, durante a escovação ou uso de fio dental. Nos casos mais graves, notam-se manchas de sangue no travesseiro pela manhã
  • Dor ao comer
  • Dor no contato com as bochechas
  • Mau hálito persistente
  • Gosto ruim na boca
  • Pus

Saiba que, dependendo do grau da inflamação, o inchaço pode até cobrir, quase por completo, a coroa do dente.

As possíveis causas

A cavidade oral, assim como o intestino, é habitada por bactérias de diferentes tipos, boas e más. Se, por algum motivo, ocorre um desequilíbrio nesse ambiente, abre-se a porta para infecções.

A origem mais frequente da gengiva inchada é uma inflamação conhecida como gengivite, consequência de uma falha no processo de higienização bucal. Isso significa que a escovação está sendo feita de forma incorreta e o fio dental sendo usado de modo inadequado. Essa situação leva à formação da famosa placa bacteriana (seu dentista pode chamar também de biofilme).

Confira outros fatores que podem estar relacionados à gengivite:

  • Prótese ou ponte mal adaptadas: elas abrem espaço para retenção de líquidos e restos de comida.
  • Uso de aparelho ortodôntico fixo: dificulta a higienização.
  • Presença de dentes que ainda não despontaram completamente na boca: sem o devido crescimento do dente, a gengiva irregular abre espaço para a proliferação de bactérias.
  • Alterações hormonais na gravidez: como muitas mulheres sentem enjoo nesse período, algumas podem se descuidar da higiene bucal.
  • Alterações hormonais na adolescência: há maior sensibilidade local.
  • Menopausa: nesse período pode aparecer uma doença denominada gengivite descamativa, em que a pele local fica tão frágil que descama ao ser esfregada, mesmo que delicadamente.
  • Uso de medicamentos: fenitoína (anticonvulsivante); ciclosporina (usado em pacientes que passaram por transplante de órgãos); nifedipino (controle da pressão arterial e da frequência cardíaca); contraceptivos orais ou injetáveis podem promover o crescimento da gengiva, dificultando a eliminação da placa bacteriana.
  • Falta de vitaminas C e niacina: embora raras, essas deficiências levam a hemorragias e abrem espaço para as infecções.
  • Infecções virais: a estomatite herpética afeta as gengivas e outras partes da boca, causando o incômodo.
  • Infecções fúngicas: o uso repetido de antibiótico ou alguma alteração da saúde pode levar à candidíase oral, que se manifesta também com o inchaço local.
  • Leucemia: a infiltração de células cancerígenas dentro das gengivas reduz a capacidade de combater infecções.
  • Genética.

Quando procurar o dentista?

A consulta com um profissional deve ser a providência imediata toda vez que se perceba alguma alteração ou desconforto na boca, seja nos dentes, na gengiva ou na mucosa.

Essa urgência se justifica. Caso você tenha histórico familiar da doença, pode acontecer de a infecção ser tão grave que as bactérias entrem na corrente sanguínea e afetem o funcionamento de outras partes do corpo, como o coração, ou até influenciem o bom andamento de uma gravidez, levando a complicações ou parto prematuro.

O que acontece em uma consulta?

O atendimento começa sempre com uma conversa para entender o motivo da visita ao dentista e as condições gerais de saúde do paciente, o que inclui saber se ele faz uso de alguma medicação. Portanto, esteja pronto para responder a essas questões.

Na sequência vem o exame físico: palpação dos gânglios da região do pescoço, inspeção dos tecidos bucais, exploração de cada um dos dentes e da gengiva e radiografias. É por meio desses passos que se consegue chegar a um diagnóstico preciso.

Como é feito o tratamento?

Como a causa mais frequente do inchaço da gengiva é a falta de higiene bucal, a solução começa com orientações personalizadas de higiene, seguidas de limpeza profissional (raspagem, alisamento e polimento).

De acordo com o nível do inchaço, essa prática será suficiente. Nos casos mais graves podem ser indicados enxaguatórios específicos para diminuir a quantidade de bactérias na boca ou bactericidas tópicos.

Algumas vezes o tratamento pode ser complementado com cirurgia para remover o tecido gengival aumentado.

O que pode acontecer se você desprezar esse sintoma?

O maior risco é a evolução do quadro: a inflamação aumenta e se transforma em uma periodontite, considerada uma das doenças bucais mais comuns. Nessa fase, o processo inflamatório atinge, além da gengiva, as estruturas do periodonto de sustentação (conjunto de tecidos que sustentam o dente), incluindo o osso alveolar.

Em entrevista concedida ao site Health Harvard, Thomas E. Van Dyke, professor de medicina bucal, infecção e imunidade da Escola de Medicina Dental de Harvard (EUA), declarou: "No passado, pensávamos que as bactérias destruíam os tecidos. Hoje os cientistas entendem que é a inflamação que os destrói".

Ele se refere ao fato de que o sistema de defesa do organismo, ao ser acionado pela ação das bactérias, convoca um exército de células brancas (leucócitos) para combatê-las. As armas utilizadas para esse fim são substâncias que destroem as bactérias, mas também danificam o tecido das gengivas. O passo seguinte é a perda dos dentes.

Por isso, a melhor saída é sempre buscar ajuda. O mais rápido possível.

Dicas para evitar o problema

A regra número um é não descuidar da higiene bucal. Quanto mais limpa estiver a boca, menor a chance de desenvolver alguma inflamação ou infecção. Adote também as seguintes estratégias:

  • Visite seu dentista regularmente;

  • Evite automedicar-se, especialmente com anti-inflamatórios e antibióticos. Eles alteram o sistema de defesa do corpo;
  • Converse com seu dentista sobre os produtos de higiene oral mais indicados para você. Como há várias opções no mercado, ele ajudará a escolher os que melhor atendem às suas necessidades;
  • Escove os dentes pelo menos duas vezes ao dia. Se você tem ponte, prótese ou implante, faça uso de escovas intradentais;
  • Use o fio ou fita dental de forma adequada - peça orientação ao seu dentista;
  • Utilize escovas convencionais, escovas tufo e interdentais;
  • Não use água oxigenada. Ela pode danificar o esmalte dos dentes e queimar a mucosa;
  • Alimente-se corretamente. Uma dieta rica em vegetais, óleos vegetais e frutas, além de oleaginosas, peixes ricos em ômega 3 (como a sardinha), mantém seu organismo protegido;
  • Reduza o estresse. De acordo com um recente estudo publicado no jornal BMC Oral Health, da Faculdade de Odontologia da Universidade de Toronto (Canadá), fatores emocionais têm sido relacionados às inflamações da gengiva. Isso porque o estresse afeta a resposta do sistema de defesa do corpo;
  • Afaste-se do cigarro. Comparados aos não fumantes, quem faz uso do tabaco aumenta de 3 a 6 vezes o risco de ter uma inflamação bucal ou na gengiva;
  • Fique de olho em mudanças na gengiva. Um maior espaçamento nos dentes, na prótese ou na ponte deve ser examinado pelo dentista.

Fontes: Eliete Rodrigues de Almeida, mestre e doutora em saúde pública e professora dos cursos de graduação e pós-graduação em Odontologia da Universidade Cruzeiro do Sul (SP); Luciana Scaff Viana, membro da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP); Luciane Kraul, mestre em materiais dentários e especialista em ortodontia com pós-graduação em DTM pela Universidade de São Paulo (USP); Marcelo Cavenague, membro da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP); Paola Fernanda Leal Corazza, mestre em radiologia e imaginologia pela Universidade São Leopoldo Mandic (SLMANDIC), especialista em Periodontia pela Associação Brasileira de Ensino Odontológico (ABENO) e Estomatologia pela SLMANDIC.

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