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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Empatia pode ser ensinada; saiba como incentivá-la nas crianças

Cada pessoa nasce com determinado número de neurônios responsáveis pela participação em respostas empáticas - Gracia Lam/The New York Times
Cada pessoa nasce com determinado número de neurônios responsáveis pela participação em respostas empáticas Imagem: Gracia Lam/The New York Times

Jane E. Brody

Do New York Times

13/12/2018 16h31

À medida que o fim do ano se aproxima, a maioria dos americanos é bombardeada por e-mails e cartas com pedidos de doações a todos os tipos de instituições de caridade.

Sou um alvo fácil, vulnerável aos pedidos de ajuda para melhorar a vida de pessoas, dos animais e do meio ambiente. E muitas vezes ajudo mais do que meu bolso permite.

Este ano vai ser diferente, graças ao conselho de uma especialista em empatia, Helen Riess, professora adjunta de psiquiatria na Faculdade de Medicina de Harvard e autora de um novo livro, "The Empathy Effect", que explora a neurociência adjacente à preocupação com os outros, oferecendo conselhos sobre como cultivar esse sentimento e aplicá-lo da melhor forma possível.

Em vez de uma rajada de pequenas doações para uma dúzia ou mais de instituições, Riess sugeriu em entrevista que ela mesma "escolhe uma ou duas instituições para as quais uma contribuição mais substancial realmente faz diferença". Ela me aconselhou a usar a "empatia cognitiva", uma abordagem mais racional e menos emocional. Empatia não significa dizer "sim" a todo pedido, ela enfatizou. "Reconheça que você não pode salvar o mundo e doe às instituições que significam mais para você."

Deixe que sua própria experiência de vida determine quais são as questões mais significativas para você e que merecem mais seu dinheiro, ela sugere em seu livro. Para mim, isso significa educação e segurança alimentar; este ano vou deixar que outras pessoas salvem os animais abandonados e o planeta.

Talvez ninguém saiba da importância do equilíbrio entre razão e sentimento melhor do que Judith Orloff, psiquiatra de Los Angeles e autora de "The Empath's Survival Guide". Seu livro pode ajudar pessoas hipersensíveis a evitar que se envolvam com as necessidades e problemas de todo mundo --o que Riess diz que pode conduzir a uma "fadiga de compaixão" e esgotamento.

"Há as contribuições saudáveis e as não saudáveis e codependentes, que podem até fazer você se sentir pior", disse Orloff em entrevista. "É importante ser empático, mas também saber definir os limites, em vez de ser um capacho. Se você é uma pessoa hipersensível, tem de aprender a canalizar sua energia. A empatia saudável é quando você dá de coração e não para ser um mártir."

E acrescentou: "Você tem de praticar o autocuidado. 'Não' é uma sentença completa --nenhuma explicação a mais é necessária."

Déficit de empatia

Embora os indivíduos excessivamente empáticos possam ser inimigos de si mesmos, o mais angustiante --para mim, pelo menos-- são as pessoas que parecem desprovidas de empatia. São autofocadas, narcisistas, só pensam no que as afeta e nunca respondem às necessidades alheias. Um déficit que pode minar a sobrevivência humana, dependente do apoio comunitário.

Pessoas com transtorno de déficit de empatia, como alguns especialistas chamam, carecem de senso moral. Não distinguem entre o certo e o errado, disse Riess.

Uma pesquisa realizada por Riess e colaboradores mostrou que cada pessoa nasce com determinado número de neurônios responsáveis pela participação em respostas empáticas. Mas esse potencial de se preocupar apropriadamente com os outros, ou não, é moldado em grande parte pelas experiências do começo da vida, desde o nascimento até o fim da infância.

Como, então, um grau saudável de empatia pode ser estimulado em uma criança? "A empatia é uma característica mutável, pode ser ensinada. Todos nós nascemos com certo dom para ela, mas ele pode ser dramaticamente modificado, dependendo dos fatores ambientais", especialmente, contou Riess, pelos exemplos dados por aqueles que cuidam da criança.

Ela insiste que os pais devem ser modelos que mostrem respeito e carinho pelos outros: "Billy arranhou seu joelho. Vamos pegar um Band-Aid para ele", ou "A sra. Jones acabou de chegar do hospital. Vamos levar uma sopa para ela comer".

Os professores nas escolas e em creches podem ajudar a promover a empatia reconhecendo, em vez de ignorar, a angústia de uma criança, ou trazendo, por exemplo, um brinquedo ou uma boneca para confortar uma criança que está chateada ou ferida. Bibliotecas e livrarias estão repletas de livros com histórias que demonstram a empatia para diferentes idades. Entre as muitas opções, há "I Am Human - A Book of Empathy", "What's Wrong with Timmy?" e meu preferido: "Extraordinário", que virou filme ano passado.

Riess tem lembranças claras de seus pais levando comida antes do Dia de Ação de Graças para pessoas que não tinham quase nada. "As crianças tendem a centrar-se naquilo que não têm --isso as expõe àqueles que têm pouco e lhes dá a sensação de ser doadoras."

Ela me contou sobre um programa chamado Cradles to Crayons, no qual os voluntários organizam e embalam itens doados a crianças necessitadas. O programa, que opera em Boston, Filadélfia e Chicago, fornece itens essenciais para crianças carentes desde o nascimento até a idade de 12 anos.

Em agosto, em Boston, por exemplo, os voluntários do Cradles to Crayons conseguiram doar 40 mil mochilas para crianças em Massachusetts provenientes de famílias de baixa renda ou desabrigadas. Pais e filhos podem participar juntos em tais programas, talvez usando essa ação como modelo para estabelecer projetos semelhantes em outras cidades.

Com crianças mais velhas, os pais podem levá-las para ajudar em cozinhas que preparam sopas para pessoas em situação de rua ou para visitar um asilo. Riess sugeriu: "Nunca é tarde demais para ensinar uma criança a valorizar os sentimentos dos outros."

Igualmente importante é que os pais demonstrem empatia por seus filhos, reconhecendo suas preocupações, sentimentos e sua necessidade de segurança. Ela exemplificou: "Quando uma criança tem medo de um cachorro, em vez de dizer: 'Não tenha medo, ele não vai te morder', é melhor dizer: 'Você tem medo do cachorro? O que te assusta nele?' Isso valida os medos da criança em vez de negá-los."

Ao mesmo tempo, disse Riess, os pais não devem ser intolerantes a "um segundo de infelicidade na vida do filho", para que tal empatia equivocada não prive a criança de desenvolver fibra, perseverança e resiliência, que são essenciais para o desenvolvimento de uma vida bem-sucedida.

Os pais podem falar com seus filhos sobre os sentimentos de outras pessoas. Se uma criança quebra o brinquedo de outra, Riess sugere que em vez de dizer: "Por que você fez isso? Isso foi feio", você deve dizer: "A Sara está triste porque você quebrou o brinquedo dela. O que a gente pode fazer para deixá-la menos triste?", o que deixa espaço para um pedido de desculpas.

Outra coisa que ajuda é "validar os sentimentos difíceis do seu filho, em vez de criticá-los. Se a criança diz 'Eu odeio o Tommy', em vez de dizer que é errado odiar, pergunte o que faz a criança se sentir assim. Explore o que está por trás desses sentimentos, o pano de fundo da história".

Para crianças muito jovens, bichos de pelúcia ou fantoches podem ser usados para ajudar a simular diferentes histórias, sugeriu Riess.

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