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É verdade que o suco de coco quente cura o câncer?

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Gabriela Ingrid

Do VivaBem, em São Paulo

04/12/2018 17h00

A cura do câncer ainda é um mistério para a ciência e esse suspense pode facilitar o aparecimento de algumas teorias no mínimo esquisitas para o tratamento eficaz da doença. Não, não estamos falando da dieta cetogênica. Dessa vez, o milagre vem de uma espécie de suco de coco quente.

A receita, que teoricamente mata as células cancerígenas, recomenda cortar flocos de coco e colocar os pedaços em um copo. Depois, a água quente deve ser despejada por cima dos pedaços, que "alcalinizariam" o líquido. A indicação ainda sugere que a bebida deveria ser ingerida todos os dias.

No entanto, de acordo com Adriana Ávila, nutricionista da Câmara Técnica do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região SP-MS, não existem evidências que comprovem essa propriedade do coco. "A fruta é uma boa fonte de cálcio, magnésio, ferro e vitamina C, e sua água é uma boa forma de hidratação natural. Mas não há relação alguma com a morte de células que causam o câncer", diz ela.

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O coco geralmente é uma forma de hidratação mais natural
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Segundo Tarcila Ferraz de Campos, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, a ideia de que a polpa trataria o câncer poderia vir do fato de que a fruta é rica em flavonoides, compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. "Mas mesmo que o coco tenha essa substância, não temos estudos que comprovem uma dosagem específica para o combate à doença", ressalta ela.

Campos ainda afirma que diversas substâncias funcionais podem ter ação antioxidante, que até tem relação com a prevenção do câncer, mas não com o tratamento. "Não regredimos um câncer por meio da alimentação", crava. "Não dá para afirmar que uma dieta saudável (que pode até incluir o coco) vai combater um câncer ou que tem ligação direta com a repressão de um tumor."

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Não existem alimentos milagrosos

O coco também contém ácido graxo láurico, que é o mesmo do leite materno e que tem propriedades na imunidade, mas, novamente, não há dosagem segura desse composto, então ele não pode ser considerado como terapêutico.

Enquanto as receita milagrosa sugere o consumo diário, Campos lembra que é preciso tomar cuidado com o exagero: tanto a polpa quanto o óleo são calóricos e gordurosos. Para se ter ideia, um estudo publicado em 2017 pela American Heart Association (Associação Cardíaca Americana) sugeriu que o produto tem o mesmo efeito na saúde que gordura animal e manteiga, podendo aumentar o colesterol "ruim", segundo os pesquisadores.

O relatório mostra que 82% da gordura do óleo de coco é saturada. O percentual é maior do que o da manteiga (63%), da gordura bovina (50%) e da banha de porco (39%). A associação diz que não há evidências confiáveis de que o óleo de coco seja saudável.

A ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) ainda divulgou em março de 2017 um posicionamento oficial desmistificando o uso do óleo de coco. Segundo a associação, não há estudos clínicos que comprovem a fama que o óleo tem de ser antibacteriano, antifúngico e antiviral. Também não existem provas de que seu efeito ajude portadores de alterações cognitivas, como a doença de Alzheimer.

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