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Jovem ao volante é sinal de perigo; falta de sono e álcool aumentam riscos

O melhor jeito de reduzir o risco de um acidente é tornar os jovens mais experientes - Garcia Lam/The New York Times
O melhor jeito de reduzir o risco de um acidente é tornar os jovens mais experientes Imagem: Garcia Lam/The New York Times

Jane E. Brody

Do New York Times

03/12/2018 14h26

Meu neto de 16 anos, que mora em um subúrbio de Los Angeles, está prestes a tirar sua carteira de motorista e, francamente, estou apavorada. Dirigir pela cidade é assustador mesmo para adultos experientes. Será que um menino de 16 anos de idade, cujas habilidades de navegação são limitadas à internet, tem o discernimento, a atenção e a habilidade para processar uma dúzia de informações diferentes ao mesmo tempo - as aptidões necessárias para evitar um acidente?

Aprender a dirigir não foi ideia dele, mas seus pais estão cansados de levá-lo para cima e para baixo, e as opções para caminhar, usar uma bicicleta ou o transporte público --usado sem problema pelos meus netos de 18 anos de idade em Nova York-- não existem onde eles vivem.

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Se eu pudesse estabelecer as regras, ninguém com menos de 20 anos assumiria o volante de um veículo motorizado sem um adulto licenciado experiente no banco do passageiro. Mesmo em comparação com jovens de 18 anos, o cérebro de quem tem 20 é mais maduro e menos propenso a sucumbir aos riscos. Investigações demonstram que "a causa de acidentes de adolescentes não é a habilidade com que dirigem, mas seu julgamento durante a atividade", de acordo com um editorial no Journal of Adolescent Health.

Embora o número de adolescentes mortos em acidentes de carro tenha caído quase 50 por cento na última década, eles continuam a ser a principal causa de morte e lesões dessa faixa etária nos Estados Unidos. E desde 2014, junto com o uso de dispositivos eletrônicos, os acidentes fatais envolvendo os mais jovens subiram, de acordo com uma nova declaração de política da Academia Americana de Pediatria.

Um estudo recente, publicado no Journal of Adolescent Health, constatou que os novos motoristas tinham oito vezes mais chances de uma colisão, ou quase colisão, nos primeiros três meses depois de obter sua carteira e começar a dirigir de forma independente do que tinham nos últimos três meses de utilização da carteira de aprendiz. Os novos motoristas adolescentes também eram quatro vezes mais propensos a adotar comportamentos de risco, como aceleração rápida, freada súbita e curvas bruscas, mostrou o estudo, liderado por Bruce G. Simons-Morton, do Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano.

Embora a educação do motorista ajude os alunos a passar pelo teste da habilitação, há pouca evidência de que produza motoristas mais cautelosos. Como observou a declaração da academia de pediatria, "estudos revelam que não há maior segurança associada à educação tradicional dos motoristas".

Políticas de habilitação mais avançadas, exigidas agora em todo o país para novos motoristas menores de 18 anos, poderiam ajudar a reduzir as taxas de acidentes, exigindo um número específico de horas de condução supervisionada por adultos, restrições noturnas e de transporte de amigos no carro, e exposição gradual às condições mais exigentes.

"Essas leis podem reduzir as mortes entre os motoristas de 16 e 17 anos de idade, mas não são bem aplicadas, e as taxas aumentam quando os jovens fazem 18 anos", disse Brian D. Johnston, coautor da nova declaração de política com Elizabeth M. Alderman.

Mas, mesmo quando as leis são estritamente aplicadas, a pesquisa de Simons-Morton mostrou que "as taxas de colisões são dramaticamente altas nos primeiros meses de condução independente". Como ele e seus coautores apontaram, "pode levar apenas algumas horas ao volante para que a maioria dos novatos desenvolva habilidades razoáveis, mas a condução segura, como todas as atividades complexas, vem apenas com a experiência".

Eis aí o impasse: novos motoristas têm maior probabilidade de se ver em apuros porque lhes falta experiência, mas a melhor maneira de reduzir o risco de um acidente é adquirindo experiência. Alderman, especialista em medicina adolescente no Montefiore Medical Center, sugeriu em uma entrevista que, mesmo depois que um adolescente comece a dirigir de forma independente, os pais podem mitigar os riscos com a supervisão continuada das habilidades em uma variedade de locais, até que os jovens motoristas estejam mais experientes.

Na verdade, o papel dos pais na criação de motoristas seguros começa muito antes de as crianças poderem enxergar sobre o volante. "Os pais precisam ser modelos. Use sempre o cinto de segurança, nunca use o celular ao volante e nunca beba ou fume maconha antes de dirigir. E eu adicionaria: os pais devem modelar hábitos seguros ao não correr, não colar no carro da frente nem costurar no trânsito", disse Alderman.

Atualmente, o risco mais comum enfrentado pelos jovens motoristas envolve a distração gerada por dispositivos. Meros quatro segundos sem olhar para a frente aumentam imensamente a possibilidade de um acidente. Com o uso de filmadoras, o programa Teen Safe Driver revelou que três quartos das colisões traseiras, de moderadas a graves, entre os motoristas adolescentes envolveram distrações, na maioria das vezes o uso de celular. O jovem não teve reflexo para evitar o acidente iminente em metade dos casos em que estava usando um telefone.

"Os adolescentes têm a maior taxa de acidentes fatais relacionados com a distração em comparação com todos os outros grupos etários", relatou Simons-Morton. E as tentações continuam crescendo, com informações no veículo, tecnologias de entretenimento e dispositivos eletrônicos portáteis, que os adolescentes são geralmente os primeiros a adotar.

"Há três tipos de distrações: visual, cognitiva e manual. A tecnologia eletrônica reúne as três, e o risco de um acidente aumenta muito", disse Johnston.

Embora a bebida como fator de fatalidade entre os jovens tenha diminuído nas últimas décadas, "o uso de álcool pelo motorista adolescente continua a ser um fator de risco grave para acidentes de veículos motorizados e de mortes que daí resultam", afirma o relatório da associação de pediatria. Em 2015, 16% dos motoristas adolescentes envolvidos em acidentes fatais tinham um nível de álcool no sangue de 0,8% ou mais, e 64% dos que morreram em acidentes em que o álcool estava envolvido não estavam usando cinto de segurança.

Todos os estados têm agora uma lei de "tolerância zero", afirmando que o nível de álcool no sangue de 0,2% ou mais para jovens motoristas constitui embriaguez e pode resultar em suspensão ou perda automática da habilitação.

A privação do sono está se tornando um fator de risco mais comum para acidentes com motoristas adolescentes. O sono insuficiente não só aumenta o risco de adormecer ao volante, como também prejudica a atenção e os reflexos. As escolas e os pais podem fazer mais para assegurar que os adolescentes durmam o suficiente.

Os pais também devem pensar duas vezes sobre os carros que os filhos estão dirigindo. Embora a tendência possa ser fornecer um carro velho para que um novo não seja danificado, um veículo mais novo, equipado com os mais recentes recursos de segurança, pode ser melhor. Johnston sugere que os pais "escolham o carro mais seguro e moderno que puderem pagar".

Os pais podem também considerar a criação de um contrato que liste todas as expectativas, responsabilidades e riscos para o motorista adolescente. A associação de pediatria oferece um modelo do contrato na seção de adolescentes de seu site, healthychildren.org.

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