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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Dor lombar tem muitas causas e afeta 7 em cada 10 pessoas; entenda problema

Postura, excesso de treino, obesidade. Para cada dor lombar há uma causa  - Camila Rosa/ UOL VivaBem
Postura, excesso de treino, obesidade. Para cada dor lombar há uma causa Imagem: Camila Rosa/ UOL VivaBem

Cristina Almeida

Colaboração para o UOL VivaBem

13/11/2018 04h00

Quem nunca, durante uma crise de dor lombar, correu para o pronto-socorro em busca de alívio e saiu de lá feliz e medicado com um analgésico? Ou, pior, tomou por conta própria um remédio para acabar com o desconforto?

Pois saiba que, desde 2017, a segunda mais importante associação de médicos dos Estados Unidos, o Colégio Americano de Médicos (ACP, na sigla em inglês), desencoraja o uso de medicamentos como primeiro passo para o tratamento dessa dor nas costas. Voltada para especialistas e a população em geral, a recomendação é uma estratégia para reduzir a prescrição e o consumo abusivos de opioides, uma classe de analgésicos potentes que podem causar dependência.

Mas o que fazer, então, com a dor que muitas vezes é intensa a ponto de dificultar ou impedir a realização das atividades diárias?

    Saber a causa do mal-estar é a melhor forma de encontrar a solução ideal para cada pessoa. A partir daí, o analgésico poderá fazer parte do tratamento. Mas o ideal é usá-lo sempre sob prescrição de um especialista, e nunca por automedicação.

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    A origem da dor

    A dor lombar, ou lombalgia, é queixa comum em todas as faixas de idade. Ela é considerada a maior causa de incapacitação no mundo, além de ser o segundo motivo mais frequente de faltas no trabalho, de acordo com um estudo recente publicado no jornal médico The Lancet.

    E um documento da Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 7 em cada 10 pessoas, ao longo da vida, vão sentir esse tipo de dor nas costas, principalmente nos países industrializados.

    Para entender por que isso acontece, é necessário antes conhecer um pouco de anatomia. Localizada na parte inferior da coluna, a região lombar é formada por vértebras (os ossos que compõem a coluna) que conectam o tórax, a cintura e as pernas. Essa estrutura permite que você faça a maioria dos movimentos, além de garantir que possa ficar em pé, levantar e andar. O ortopedista Marcelo Wajchenberg, especialista em coluna do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Cohen (SP), explica que a dor lombar é o sintoma de mais de 50 doenças.

    No consultório médico, porém, o que mais aparece são os casos de contraturas mecânico-posturais (distensões e entorses), resultantes de movimentos bruscos ou de mau jeito na hora de pegar objetos pesados, por exemplo.

    As causas do desconforto

    O envelhecimento e o sedentarismo, erros de postura, obesidade e perda de massa muscular também podem ser a causa da dor lombar. E atenção, fumantes: o cigarro tem sua parcela de culpa no desconforto, pois contribui para degenerar os discos da coluna vertebral.

    Wajchenberg cita, ainda, a atividade física. "Não é raro receber pacientes com fraturas e contraturas decorrentes do exagero na prática de esportes. Se você tem propensão a sentir dor nas costas, é importante que um médico avalie qual é o melhor exercício para você", destaca.

    Até quem está acostumado a treinar, mas realiza muitas repetições de movimentos que envolvem a lombar, como abdominais, pode vir a sentir dor. E quem passa a semana inteira inativo, mas resolve malhar no fim de semana, também. A culpa geralmente é da falta de alongamento e fortalecimento dos músculos, que não estão preparados para suportar a carga imposta.Por fim, até as emoções negativas e o estresse podem desencadear a lombalgia. Estudos mostram que insatisfação no trabalho, com colegas e chefe eleva a incidência do sintoma.

    Como é feito o diagnóstico

    O especialista treinado para avaliar seu problema é o ortopedista, e geralmente há um de plantão no pronto-socorro. Um clínico geral, um reumatologista e até um neurologista também podem ajudar.

    Na hora de relatar sua dor ao médico, é importante tentar descrever em detalhes o que sente —características da dor (fisgada, choque, latejamento etc.), local, duração, movimentos que a disparam e aliviam. A maioria das causas possíveis pode ser descartada após uma conversa com o especialista e o exame físico durante a consulta, mas pode haver sintomas associados que levam o diagnóstico para outro lado.

    Quando o paciente conta que, além da dor lombar, sente ardor ao urinar, por exemplo, pode ser uma crise renal. Se perdeu 10 kg ou 15 kg nos últimos meses, haverá suspeita de um tumor gástrico. Nesses casos, podem ser pedidos exames de imagem, como radiografia ou ressonância magnética. Porém, a etapa mais importante é o ato médico: escutar, palpar o paciente para descartar ou considerar em doenças específicas.

    Como a dor lombar é classificada

    • Aguda Aparece de repente ou logo após determinado movimento e pode durar cerca de seis semanas;
    • Subaguda Incomoda por seis semanas até três meses, aproximadamente;
    • Crônica É intensa e persiste por mais de três meses;
    • Referida A sensação dolorosa parte de um ponto e irradia para outro ponto --da lombar para o glúteo ou perna, por exemplo.

    Como é o tratamento

    Seja aguda ou seja crônica, o tratamento da dor lombar costuma seguir um padrão: começa com repouso para evitar pressão na área dolorida, passa pelo uso de analgésico ou anti-inflamatório e, se necessário, se completa com fisioterapia para reabilitação.

    Quando a dor lombar se dá por algum problema postural, desvio na coluna —como escoliose ou hiperlordose — ou é consequência dos hábitos de vida (ficar muito tempo sentado ou em pé), por exemplo, a pessoa faz a fisioterapia e melhora. Mas se a causa é uma hérnia de disco, o que é comum, o incômodo melhora, mas pode voltar e evoluir.

    Massagens podem ser boas coadjuvantes quando a origem da lombalgia for muscular, mas não atuam no processo inflamatório, quando for essa a causa da dor.

    Atenção para as soluções de farmácia

    Emplastro, bolsa térmica, cremes e pomadas à base de cânfora, capsaicina, mentol, lidocaína e arnica e até cinta ortopédica. Nas prateleiras das drogarias não faltam opções para lidar com a dor nas costas. Os especialistas comentam, porém, que não há evidências científicas de que a maioria funcione para o tratamento da lombalgia.

    A exceção são as bolsas para compressa quente ou fria. Quando a dor tem origem na tensão muscular, aplicar calor no local ajuda a relaxar. No caso da cinta, ainda vale um alerta: ela limita os movimentos e, se usada por muito tempo, os músculos acostumam e acabam enfraquecendo.

    Pode ser o ciático? Ou hérnia de disco?

    Maior nervo do corpo, o ciático —a junção de uma série de raízes nervosas que saem da coluna e se encontram na região do glúteo, descendo até o pé — nem sempre tem a ver com a dor lombar. Inclusive, é comum a pessoa ter dor ciática e não sentir na lombar.

    Na maioria das vezes, a dor ciática está relacionada a hérnia de disco. A doença se manifesta quando o conteúdo dos discos intervertebrais (que funcionam como amortecedores da coluna) escapa para fora do seu lugar normal, como resultado de lesão, degeneração por envelhecimento ou falha genética. Isso comprime a raiz nervosa da região e provoca a dor. Nesse caso, o desconforto é bem característico: começa no glúteo, desce por trás da coxa e, em geral, vai até o pé, com sensação aguda de formigamento e choque que chega a ser incapacitante.

    Uma vez definido que a hérnia é a causa da dor, o tratamento normalmente inclui medicamentos e fisioterapia, além de repouso relativo (pode-se fazer algumas atividades). Até o tempo ajuda no tratamento, porque quando o disco se solta, perde irrigação sanguínea e o organismo acaba absorvendo a parte que se soltou.

    Apenas em uma pequena parcela dos casos —quando há danos neurológicos, fraqueza, alteração no controle dos esfíncteres ou dor intratável - a cirurgia é uma opção para tratar a hérnia de disco.

    Como prevenir dores na lombar

    • Mantenha o peso sob controle;
    • Pratique exercícios de alongamento regularmente;
    • Faça 30 minutos de atividade aeróbica moderada (caminhada, bicicleta, hidroginástica) ao menos três vezes por semana;
    • Fortaleça os músculos do tronco com exercícios adequados ao seu nível de condicionamento;
    • Evite ficar muito tempo na mesma posição (sentado ou em pé); levante-se e movimente-se a cada hora;
    • Não fume;
    • Cuidado quando for levantar peso: você deve flexionar os joelhos, usar a força do abdômen e das coxas e manter o objeto próximo ao corpo. Nunca tente alcançar algo no chão descendo o tronco com as pernas estendidas;
    • Procure formas de administrar situações de estresse;
    • Prefira colchões firmes.

    Fontes: Páblius Silva, coordenador médico do Centro de Medicina Especializada do Hospital 9 de Julho; Alexandre Fogaça Cristante, cirurgião de coluna do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP); Alberto Gotfryd, cirurgião de coluna do Hospital Israelita Albert Einsten (SP); Marcelo Wajchenberg, especialista em coluna do Hospital Israelita Albert Eisntein e do Instituto Cohen (SP); Luciana Regina Moreira, fisioterapeuta da Clínica Dr. Hong Jin Pai; Vivian Diniz, fisioterapeuta especializada em RPG e pilates, diretora do estúdio que leva seu nome.

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