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Mariana Xavier: "Cuidar de alguém doente exige dedicação e força emocional"

Mariana Xavier precisou se afastar de suas atividades profissionais para assumir o papel de cuidadora da mãe - Divulgação
Mariana Xavier precisou se afastar de suas atividades profissionais para assumir o papel de cuidadora da mãe Imagem: Divulgação

Aline Tavares

Colaboração para o UOL VivaBem

09/10/2018 04h00

A atriz conta sobre as lições e os desafios de ajudar a mãe a lutar contra um câncer

Em novembro de 2016, a atriz Mariana Xavier voltava de uma viagem ao México, onde teve a oportunidade de conhecer a famosa festa local do Dia de Los Muertos. A celebração, de origem indígena, homenageia aqueles que já faleceram com muita música, dança e flores. "Por ser espírita, eu já tinha uma relação relativamente tranquila com o tema da morte, mas ver como eles lidam com isso lá foi transformador. Fiquei com muita vontade de compartilhar essa visão com mais pessoas", conta.
 

Na volta para casa, Mariana ligou do aeroporto para a mãe, Etiene Araújo, para saber se ela queria algum presente do free shop. Quem atendeu foi a ginecologista da família. Foi quando a atriz descobriu que Etiene fora diagnosticada com câncer de colo do útero. "A médica que me deu a notícia porque minha mãe estava tão abalada que mal conseguia falar", lembra.
 

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Ao longo do tratamento de Etiene, que durou até fevereiro de 2017 e foi bem-sucedido, Mariana precisou se afastar das atividades profissionais para assumir outro papel: o de cuidadora da mãe. Como também é produtora da peça "O Último Capítulo", na qual atua com Paulo Mathias Jr., a atriz teve liberdade para fazer uma pausa na turnê. "Foi um tratamento relativamente curto, mas bastante intenso. Era radioterapia de segunda a sexta e quimioterapia uma vez por semana", revela.
 

Além do impacto no trabalho, a atriz fala das muitas adaptações que foram necessárias na rotina. "Virei motorista, enfermeira, tudo. Abracei a função de cuidadora sem ter sido preparada para isso. Tive que ir administrando as questões práticas e emocionais à medida que apareciam", explica.
 

Outro desafio foi a mudança na rotina de alimentação da casa. Segundo Mariana, embora fazer uma dieta saudável seja essencial no caso de pacientes com câncer, os efeitos colaterais do tratamento mexem com o apetite e dificultam que a pessoa consiga comer adequadamente.
 

Das muitas lições que aprendeu, a artista destaca a importância de reconhecer os próprios limites como cuidadora familiar. E fala como é necessário lembrar que saúde mental também é saúde --afinal, só pode cuidar bem do outro quem está bem consigo. "Quem está por perto o tempo todo que acaba levando as alfinetadas nos momentos de fragilidade do paciente. Em alguns momentos, precisei dizer à minha mãe: 'Está difícil para mim também, mas estamos juntas".
 

Cuidando dos cuidadores

No último 26 de setembro, Mariana Xavier esteve presente na 5ª edição do Congresso TJCC (Todos Juntos Contra o Câncer), para compartilhar sua história no painel "O impacto do câncer na vida do familiar", organizado pelo Instituto Oncoguia.
 

A atriz é embaixadora do programa global Embracing Carers, idealizado pela empresa farmacêutica Merck e recém-lançado no Brasil. O projeto chama a atenção para as pessoas que cuidam de alguém doente na família, enfatizando que o cuidador também precisa de cuidados e, principalmente, de orientação. "Percebemos que isso é uma questão de saúde pública. Temos que trabalhar muito para criar cada vez mais uma rede de apoio para esses cuidadores", diz Ricardo Blum, diretor médico da Merck.
 

No evento, Lycia Neumann, pesquisadora em saúde e doutoranda em saúde pública na Universidade de Pittsburgh (EUA) mostrou dados de uma pesquisa online feita pela empresa com 578 pessoas. Enquanto 92% dos cuidadores se sentem apoiados pela família, 60% não se sentem ajudados pelo governo e 30% acreditam que seu papel não é reconhecido pelo sistema de saúde.
 

Além disso, 46% dos cuidadores muitas vezes não têm tempo para comparecer a consultas médicas e 44% dizem que colocam a saúde da pessoa de quem cuidam antes da sua própria.
 

Neumann diz que "os cuidadores têm muita resistência a falar sobre os impactos negativos da profissão por acharem que não é justo reclamar suas próprias necessidades quando há o sofrimento do outro".

No entanto, segundo ela, os impactos estão presentes em várias esferas da vida: emocional, física, financeira e social. "Muitas vezes, o cuidador se afasta da família e dos amigos e não se permite ter momentos de lazer. Ficou claro que eles precisam de mais orientação, informação e apoio emocional", declara.

Usando a fama para levar informação

Quando foi surpreendida pelo diagnóstico da mãe, Mariana já pensava em fazer um canal no YouTube para discutir temas relevantes que pudessem, de alguma maneira, ajudar o próximo. Naquela época, acabou criando o "Mundo Gordelícia". "Muitas vezes a gente desanima ao falar de coisa séria, achando que nunca vai ter o mesmo alcance que as bobagens, os assuntos leves. Mesmo que eu atinja muito menos gente do que gostaria, vejo que é um trabalho de extrema relevância", afirma.
 

Para Mariana, o canal também representa um espaço onde as pessoas podem refletir, dividir suas dores e entender que não estão sozinhas. Ela explica que escolheu aproveitar a visibilidade que tem para criar algo positivo. "Não me sentiria confortável se eu também não fosse uma influenciadora, no sentido de distribuir informação e gerar reflexão. Quero transcender o meu papel de atriz para me mostrar como pessoa."

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