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Síndrome do pequeno poder: veja como lidar com quem tem o problema

Síndrome do pequeno poder ocorre em diversas esferas da vida - iStock
Síndrome do pequeno poder ocorre em diversas esferas da vida Imagem: iStock

Diego Garcia

Colaboração para UOL VivaBem

22/09/2018 04h00

Quase todo mundo conhece alguém que, ao receber um certo poder teve uma mudança comportamental --pode ser uma promoção no trabalho ou um cargo em uma associação, igreja, ou qualquer outro círculo de convívio em grupo. “O poder subiu-lhe a cabeça”, as pessoas dizem. Outras, por adquirirem certa autoridade acreditam ser superiores aos demais e, com isso, oprimem, abusando do poder que tem (ou acha que tem). Muita gente não sabe, mas esse problema é conhecido como “síndrome do pequeno poder”.

É o vendedor da loja que maltrata clientes por subestimar seu peso ou condição financeira, quando ele mesmo não usa ou não tem condições de comprar aquele produto, ou o adulto que agride a criança por achar que, porque o pequeno é dependente dele tem que fazer tudo o que ele quer e como ele quer.

Para Angélica Capelari, professora de psicologia da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), uma pessoa só exerce poder sobre outras se houver permissão para isso. “A pessoa percebe que ao coagir o outro, ela consegue que lhe respondam da forma como ela quer e, assim, mantém esse comportamento”, explica.

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Como lidar com quem tem a síndrome do pequeno poder?

O ideal é não alimentar essa opressão, mas, bater de frente também não é a solução. “Quem convive com pessoas com esse padrão comportamental, precisa conseguir formas diferentes de responder a essas agressões”, explica Capelari.

Essas formas de reação variam muito de acordo com quem exerce o poder e como isso é feito. Se for no trabalho, por exemplo, a pessoa que responde a isso de forma a coibir os abusos, pode ser demitida ou até assediada moralmente.

A psicanalista Luciana Saddi, membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, concorda. “A pessoa pode mudar de emprego, de casa, e em muitos casos fazer uma denúncia. O grande problema é que muitas vezes a vítima acaba achando que os abusos são normais e, de certa forma, se acostuma com isso, o que não deve acontecer”, comenta a especialista.

Consequências sérias para quem é oprimido

Capelari afirma que quem sofre humilhações por questões de poder, tem tendências a adquirir problemas psicológicos. Em curto, médio e longo prazo a vítima pode desenvolver sintomas de ansiedade e depressão. “Frente ao opressor, pode-se imaginar sempre a presença dele por perto, no trabalho por exemplo, o que leva até a reações fisiológicas associadas a ansiedade", explica. Isso com o tempo pode levar ao desinteresse pelo trabalho, ampliar a falta de interesse pelas relações familiares e sociais, desenvolvendo quadros de depressão.

Existem até mesmo pessoas que acabam reproduzindo esse comportamento com os outros, como um mecanismo de defesa. “Isso justifica ou explica conceitualmente porque pessoas tendem a reproduzir comportamentos que um dia as agrediram, como se eles fossem agressores, não só como vítima”, afirma.

E uma vez tomado pela síndrome do pequeno poder, é difícil perceber isso. “Existe uma condição humana que é igual para todos. A pessoa que humilha ou maltrata alguém, não tem empatia com o sofrimento alheio e, por isso, ela não se dá conta do que está ocasionando ao outro”, considera Saddi.

É o velho ditado do “mando quem pode, obedece quem tem juízo” que permeia a sociedade desde o início da nossa civilização, em que sempre houve o superior e inferior, o nobre e o servo, o senhor e o escravo. “Por mais que isso tenha acabado, essa mentalidade arcaica ainda vigora, é uma herança classista. E muitas vezes o oprimido se coloca sempre como humilde e aceita a agressão como um modo de sobrevivência”, exemplifica Saddi. Por isso que reagir --da forma certa, claro -- é sempre importante.

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