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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Eles se casaram no hospital em que se conheceram quando tratavam um câncer

Houston Cofield/The New York Times
Imagem: Houston Cofield/The New York Times

Vincent M. Mallozzi

Do New York Times

11/09/2018 13h05

Lindsey Wilkerson fez um tour quando começou a trabalhar no departamento de eventos e contato com pacientes do Hospital Infantil St. Jude, em Memphis, Tennessee (EUA), há mais de 14 anos.

Enquanto ela começava a trabalhar no centro de tratamento e pesquisa pediátrica naquele dia, um membro da equipe disse a ela: "Há alguém aqui que gostaríamos que você visse".

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Wilkerson, que estava casada havia menos de um ano na época, foi levada a uma pequena sala de reuniões, onde ficou emocionada ao ser apresentada a Joel Alsup, um amigo que conheceu em 1993, quando ela tinha 12 anos e ele, 13 anos. Eles não se viam desde o ensino médio.

"Eu me lembro de ser bem apaixonada por ele quando éramos crianças", disse ela.

Ele também gostava dela, mas tinha dificuldade em expressar seus sentimentos. "Ela era muito bonita", disse Alsup, que havia sido contratado em janeiro de 2003 como coordenador de informações e tecnologia do hospital, "mas eu era uma pessoa extremamente tímida de 13 anos que tinha medo de falar com ela".

Foi de fato uma reunião improvisada, o tipo de encontro que não foi imaginado por nenhum deles duas décadas antes, quando Wilkerson e Alsup eram pacientes de câncer infantil e recebiam tratamentos no que é hoje o atual local de trabalho deles.

noiva no altar - Houston Cofield/The New York Times - Houston Cofield/The New York Times
A noiva
Imagem: Houston Cofield/The New York Times

"O St. Jude salvou nossas vidas", disse Wilkerson, que ainda está no departamento de contato com pacientes.

Ela descobriu em 1991 que tinha leucemia linfoblástica aguda.

"Eu me lembro da família aterrorizada", disse a médica Melissa M. Hudson, a oncologista pediátrica que primeiro tratou Wilkerson e agora é membro do corpo docente da St. Jude e diretora da Divisão de Sobrevivência ao Câncer.

"Ela teve muitos altos e baixos em seu tratamento e lutou com a toxicidade", disse Hudson. "Era uma garotinha forte."

Quatro anos antes, Alsup e sua família descobriram que ele tinha osteossarcoma, um tipo de câncer ósseo que resultou na amputação do braço direito.

"Joel tinha 7 anos de idade e estava com dificuldade para afivelar o cinto de segurança, e eu achei que ele estava apenas brincando", disse seu pai, Bob Alsup. "Nós costumávamos brincar com uma bola de tênis em um esconderijo, e vi que ele estava pegando a bola com a mão esquerda. Eu sabia que algo não estava certo".

Wilkerson, agora com 37 anos, e Alsup, de 38 anos, disseram que estão livres do câncer, mas são obrigados a se submeter a exames médicos a cada cinco anos para monitorar a saúde.

Enquanto isso, eles disseram, há muito trabalho a ser feito.

"Joel e eu desejamos dar a esses pacientes o amor e o cuidado que nos foi dado quando tínhamos a idade deles", disse Wilkerson.

Alsup, agora um supervisor da divisão de serviços de mídia criativa do hospital, disse: "Voltar a um lugar que é tão querido para nossos corações tem sido uma das maiores honras da minha vida".

Wilkerson, que cresceu em Crane, Missouri, e Alsup, nascido e criado em Chatanooga, Tennessee, se viram pela primeira vez em um evento para angariar fundos ao St. Jude em 1993.

noivos saindo do altar - Houston Cofield/The New York Times - Houston Cofield/The New York Times
Imagem: Houston Cofield/The New York Times

"Nossas famílias foram convidadas para falar e compartilhar nossas jornadas pessoais no St. Jude", disse Wilkerson. "Eu me lembro de ficar muito impressionada com Joel, ele era muito fofo e tinha um ótimo senso de humor."

Nos anos seguintes, Wilkerson e Alsup se cruzariam em outras funções do St. Jude, ou sempre que suas consultas médicas coincidiam.

Eles eventualmente perderam contato, quando ambos foram para a faculdade --ela para a University of Central Arkansas, onde se diplomou em comunicação, e ele para a Middle Tennessee State University, onde se formou em produção televisiva.

"Meu sonho, a partir dos 10 anos de idade, era voltar a trabalhar no St. Jude", disse Wilkerson, que passou um tempo significativo servindo como voluntário para arrecadar fundos para o hospital durante o período de faculdade --o American Liberal Syrian Associated Charities, ou ALSAC, é a organização de angariação de fundos e conscientização para o hospital.

Em maio de 2003, entre a formatura e o ingresso no que ela chamou de "emprego dos sonhos", como assistente no departamento de eventos e contato com pacientes, Wilkerson se casou. Seu casamento durou 12 anos até se divorciar em 2015. Ela tem uma filha de 12 anos, Audrey, e um filho de 8 anos, Jacob, dessa relação.

"Quando me tornei mãe, comecei a olhar para esses pacientes jovens como se fossem meus próprios filhos", disse Wilkerson. "Eu costumava pensar: 'sei o que eles estão passando, eu estive lá', mas ter filhos me sacudiu como um terremoto, isso realmente mudou minha perspectiva."

Alsup disse que "ser superpróximo" dos filhos de Wilkerson também permite que ele veja as coisas do ponto de vista dos pais.

"As crianças de Lindsey têm as mesmas idades de quando estávamos em tratamento contra o câncer", disse ele. "Vê-los levar vidas normais significa muito para nós e nos dá uma maior apreciação de nossos próprios pais e de todos os pais de crianças com câncer que lidam com circunstâncias tão difíceis."

Alsup disse que no dia em que Wilkerson "voltou pela porta de St. Jude" a amizade foi reacendida. "Na maior parte dos 12 anos, nos tornamos os melhores amigos", disse ele.

O relacionamento permaneceu platônico até dois anos e meio atrás, quando começou a ultrapassar a fronteira do romance.

"Nós nos conectamos com as complexidades de nossas situações e como isso mudou a maneira como vemos o mundo", disse Wilkerson. Nós temos esse tipo de senso de urgência sobre viver a vida, essa gratidão, esse desejo de retribuir".

Em setembro de 2016, Wilkerson estava assistindo ao filme Alien --um presente de sua filha -- com seu velho amigo em sua casa em Memphis. Quando terminou, Alsup tinha algo a contar e, desta vez, ele não teve medo de dizer: "Eu te amo".

Wilkerson rapidamente respondeu com um "eu te amo".

"Lembre-se, eu gostei dele primeiro", disse ela, rindo. "Então a bola estava do lado dele há quase 25 anos."

A mãe de Wilkerson, Ginny Cook, disse que sua família ficou encantada quando sua filha começou a namorar Alsup.

"Conhecemos a família de Joel desde que o vimos pela primeira vez", disse ela. "Ficamos muito satisfeitos quando começaram a se ver. Ele é maravilhoso para nossos netos."

noiva no carro - Houston Cofield/The New York Times - Houston Cofield/The New York Times
Imagem: Houston Cofield/The New York Times

Eles se casaram no dia 1º de setembro no Pavilhão Danny Thomas/ALSAC, nomeado em homenagem ao comediante que fundou St. Jude em 1962 --Thomas, que morreu em 1991, e sua esposa, Rose Marie, que morreu em 2000, estão enterrados no espaço do jardim do pavilhão.

Brent Powell, um diácono episcopal e capelão-chefe de St. Jude, estava sob buquês decorativos de hortênsias e rosas brancas enquanto ele e o noivo assistiam a noiva entrar pelo corredor. Ela estava acompanhada por seu pai, Bob Cook, e Richard Shadyac Jr., diretor executivo da ALSAC. Os dois homens a beijaram e foram para seus lugares.

"Durante a sua juventude, um diagnóstico de câncer invadiu sua vida, mas você lutou e o derrotou", disse Powell, que conhece o casal há mais de 30 anos.

"Agora você está retribuindo, levando para frente", disse ele. "Vocês são duas das pessoas mais amorosas que conheço."

"Levou apenas 20 anos para confessar seu amor", acrescentou Powell às risadas dos cerca de 150 convidados, "logo depois de assistir ao filme "Alien"".

Durante a troca de votos, a filha da noiva, Audrey, que serviu como dama de honra, chorou e depois riu enquanto enxugava as lágrimas. Mais tarde na cerimônia, ela e seu irmão acenderam uma das quatro velas da unidade, assim como a noiva e o noivo, em homenagem à família que estão se formando.

Depois que eles se casaram oficialmente, os recém-casados entraram em um Ford Fairlane conversível branco de 1959 a caminho da recepção em Old Dominick, uma destilaria e espaço para eventos no centro de Memphis.

Quando começaram a se afastar, muitos de seus convidados, incluindo vários sobreviventes de câncer, começaram a jogar confetes azuis-marinhos e brancos em forma de coração, do tipo que é usado quando um jovem paciente de câncer no St. Jude termina os tratamentos de quimioterapia e é celebrado naquilo é conhecido como uma "festa de fim de químio".

A filha da noiva era uma daquelas jogando confete. "Durante o casamento, eu estava chorando lágrimas felizes, porque ambos significam muito para mim", disse Audrey Wilkerson.

A banda Mighty Souls cumprimentou aqueles que chegaram na recepção e tocou sem parar durante a noite até um DJ assumir o controle da música.

O pai do noivo começou a chorar ao contar a difícil jornada de seu filho, de sua nova nora e de suas famílias nas últimas três décadas.

"Eu disse a um amigo na hora do almoço que um dia eu pensei que talvez não veria meu filho se formar no ensino médio", disse o Alsup mais velho. "Os sonhos de um pai estão baseados em seus filhos. Então agora se passaram 30 anos e Joel tem Lindsey, Jacob e Audrey, ele tem uma família. Meus sonhos se tornaram realidade para o meu filho", disse ele.

Em seguida, falando dos filhos de Wilkerson, ele acrescentou: "Eles deram a ele um cartão do Dia dos Pais. Ele me ligou e disse: "Nunca achei que receberia um cartão do Dia dos Pais".

Assim também os sonhos de sua filha se tornam realidade para Cook, que pode ser visto na recepção em um longo e emocional abraço com Hudson.

"Quando chegamos ao St. Jude, nos disseram que os laços que formaríamos com as outras famílias seriam os mais fortes que já conhecemos", disse Cook. "E era verdade."

Shadyac disse sobre o casal recém-casado: "eles se amam para sempre. Eu vi Lindsey crescer e eu vi o nascimento de seu primeiro filho, então isso é um duplo milagre".

E foi o que levou um a outro, disse Wilkerson. "Graças ao St. Jude, tive a sorte de casar com o amor da minha vida, minha melhor amiga."

Tradução: Thiago Varella

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