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Dia do lixo: ter um dia para comer à vontade ajuda ou atrapalha a dieta?

Dia do lixo é prática comum por quem faz dietas restritivas - iStock
Dia do lixo é prática comum por quem faz dietas restritivas Imagem: iStock

Amanda Preto

Colaboração para UOL VivaBem

04/09/2018 04h00

Fazer dieta não é fácil e muitas pessoas tentam criar estratégias para reduzir essa dificuldade. O “dia do lixo” (ou dia livre) é uma delas, um momento escolhido para comer à vontade e sem restrições por quem segue uma dieta rigorosa ou que está tentando mudar os hábitos de uma vez por todas.

"Neste dia, a pessoa escolhe uma ou mais refeições calóricas do que as que costuma consumir. Entram na lista alimentos fritos, pizza, fast-foods, além de sobremesas e bebidas alcoólicas", explica Clarissa Fujiwara, nutricionista do Departamento de Nutrição da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).

A origem dessa folga da dieta está normalmente associada aos bodybuilders, que se submetem a dietas muito restritivas e a treinos duros para as competições. Comer por um dia sem pensar nos prejuízos seria uma forma de recompensa pelo trabalho árduo.

Carolina Moreno, nutricionista da clínica CareClub e especialista em Terapia Nutricional pelo GANEP acrescenta que o "dia do lixo" é uma espécie de facilidade para um plano de reeducação alimentar. "Quando é estipulado um dia liberado da dieta, cria-se um efeito psicológico de que o tratamento será mais fácil".

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Desvantagens do “dia do lixo”

Segundo Fujiwara, para quem está no início de uma reeducação alimentar e se adaptando ao processo, a estratégia de comer tudo o que quiser em um dia pode ser um tiro no pé. "A pessoa acaba gerando grandes expectativas em torno desse momento, o que leva à perda de controle e, consequentemente, a uma compulsão alimentar". Depois vem o sentimento de culpa e de frustração e a dieta volta a ser vinculada a uma restrição.

Outro ponto a se pensar sobre o dia do lixo é que como o corpo está enfrentando mudanças e barrar certos tipos de alimentos é necessário para tal, introduzir itens "proibidos" pode causar um gatilho que leva ao descontrole.

Por exemplo, se uma pessoa viciada em açúcar está tentando reduzir o seu consumo de açúcar e conseguiu fazer a restrição por cinco dias (mesmo que sofridos). Chega o final de semana, o dia do lixo, e ela come um doce. "O que isso pode ocasionar no organismo? Um efeito rebote. Você come, reativa os mecanismos de recompensa ligados ao açúcar e no dia seguinte o corpo pede novamente por esse doce", ensina Moreno.

Construindo uma relação (errada!) com a comida

Além de tudo há um certo problema no nome "dia do lixo". Ele indica que certos itens são porcarias e não deveriam ser consumidos, o que faz a pessoa construir uma relação com a comida em que existem itens que são vilões ou proibidos... E tudo que não é permitido se torna mais tentador.

Dessa forma, a dieta será sempre um momento de dificuldade, um esforço que precisa ser recompensado, o que impede que ela se torne uma reeducação alimentar para ser mantida em longo prazo.

Mas dá para ter um dia livre sem estragar a dieta?

Para evitar arrependimentos futuros, é preciso ter bom senso até para sair do limite -- e atenção ao momento presente. O ideal é fazer a refeição com atenção e sem distrações, dando a possibilidade de saborear os alimentos e parar de comer quando sentir a saciedade "confortável", sem deixar que aquela sensação de estufamento, de que vai passar mal, tome conta.

Uma estratégia interessante, por exemplo, é escolher uma refeição pontual na semana como momento livre, e não um dia inteiro. Um almoço ou jantar no final de semana, por exemplo.

“Dessa forma, se mantêm as demais refeições do dia na estrutura habitual e dá para ser flexível na vida social, sem sacrificar festas, saídas com amigos e outros eventos onde normalmente come-se mais", recomenda Fujiwara. A chance de aderência à dieta, aqui colocada como uma reeducação alimentar, ou seja, com caráter duradouro e sustentável a longo prazo, acaba sendo muito maior.

Moreno também utiliza uma estratégia que afirma funcionar com seus pacientes: adaptar receitas para que fiquem mais saudáveis. Assim, não há restrição do consumo, mas tenta-se diminuir a falta que os alimentos originais fazem.

Outra ideia é espaçar esse dia livre: "encaixá-lo a cada 15 dias não causa tanto impacto na rotina da dieta", afirma a nutricionista, que não condena o dia livre, mas ressalta que é preciso ter consciência do que é certo e errado para sua dieta.

"Sim, a pessoa pode ter um dia para comer o que quiser, mas precisa ter foco e determinação necessários para conseguir voltar à rotina no dia seguinte. O processo tem que ser treinado, porque o começo de uma reeducação alimentar geralmente apresenta vários vícios. Esse rebote pode ocasionar doenças cardiovasculares, diabetes e outros problemas graves de saúde", pondera.

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