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O que pode ser?

A partir do sintoma, as possíveis doenças


Herpes causa bolhas na boca, no rosto e na região genital; entenda a doença

O herpes causa feridas na pele e não tem cura. A doença fica "inativa" no corpo e pode voltar sempre que há uma queda de imunidade - Camila Rosa/VivaBem
O herpes causa feridas na pele e não tem cura. A doença fica "inativa" no corpo e pode voltar sempre que há uma queda de imunidade Imagem: Camila Rosa/VivaBem

Colaboração para o VivaBem

31/01/2023 02h01

O herpes (também chamado de "herpes simples" ou "beijo de aranha") é uma doença infecciosa causada por um vírus que é extremamente comum na população, pois é transmitido com muita facilidade. Embora possa aparecer em qualquer parte do corpo, é mais comum se manifestar nos lábios, no rosto ou nos genitais, causando incômodo e constrangimento.

O herpes oral é provocado, na maioria das vezes, pelo Herpes simplex vírus tipo 1 (HSV-1), e o herpes genital é mais associado ao tipo 2 (HSV-2), embora haja exceções.

Quem são os herpes vírus?

O HSV-1 e o HSV-2 pertencem à família Herpesviridae, da qual fazem parte, também, o vírus varicela-zóster (causador da catapora e do cobreiro), o citomegalovírus e o Epstein-Barr (causador da mononucleose, ou "doença do beijo"). Ainda é comum, em seres humanos, a infecção pelos tipos 6 e 7, associados à roséola, e pelo tipo 8, que pode levar ao sarcoma de Kaposi, um tipo raro de câncer.

Os vírus dessa família têm em comum o fato de ficarem latentes após a primeira infecção. Isso significa que eles ficam no corpo para sempre, escondidos, ainda que a doença provocada por eles seja tratada ou nunca venha a se manifestar.

No caso dos Herpes tipo 1 e 2, algumas pessoas podem se infectar e nem apresentar os sinais característicos. Outras podem ter os sintomas apenas uma vez. E, para outra parcela, a doença volta de tempos em tempos: "Sempre que a imunidade se enfraquece por algum motivo, o vírus volta a se replicar e provoca a lesão herpética", explica a infectologista Lígia Pierrotti, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), em São Paulo.

Boca machucada - iStock - iStock
As bolhas provocadas pelo herpes estão cheias de vírus e, quando se rompem, são altamente contagiosas
Imagem: iStock

Prevalência

Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 70% da população mundial tem o HSV-1 e 11%, o HSV-2, mas as estimativas variam muito entre os países. No Brasil, especialistas acreditam que mais de 90% da população adulta já tenha entrado em contato com o herpes vírus 1 e/ou 2. Por isso, ninguém deveria ficar constrangido por ter a doença.

Sintomas

O sinal mais característico do herpes é o surgimento de uma ou mais bolhas ou vesículas agrupadas sobre pele ou mucosa, que com o tempo se rompem, formando crostas, e depois se cicatrizam.

A infecção por herpes oral é frequente na infância, por contato direto (toque) ou por objetos contaminados com saliva, já que as crianças costumam levar tudo à boca. Nessa fase, pode haver apenas um quadro febril, com presença de aftas e/ou dor de garganta. Também pode haver aumento dos gânglios linfáticos no pescoço. Só mais tarde, quando ocorrem as reativações do vírus, é que podem aparecer as tradicionais bolhas ou feridas nos lábios ou na pele.

O herpes genital, uma infecção sexualmente transmissível (IST), também pode ser assintomático ou manifestar apenas sintomas leves. Em geral, a primeira infecção é mais intensa, podendo haver febre, mal-estar, dor muscular, aumento dos gânglios na virilha, corrimentos e dor ao urinar. Já as recorrências tendem a ser mais leves. As lesões podem aparecer dentro da vagina, na vulva ou colo de útero, no pênis ou escroto, no trato urinário ou ao redor do ânus. Quando afetam a mucosa, são difíceis de serem notadas, e a doença pode ser confundida com uma infecção urinária baixa.

Segundo o departamento de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) do Ministério da Saúde, após a primeira infecção genital por HSV-2 ou HSV-1, 90% ou 60% dos pacientes, respectivamente, desenvolvem novos episódios nos primeiros 12 meses, por reativação viral.

Evolução

É comum a pessoa ter uma sensação de coceira, ardor ou formigamento no local antes de a lesão aparecer —é o chamado período prodrômico. Depois, vem o período ativo: aparecem uma ou mais bolhas, que podem doer ou coçar. O líquido dentro delas é cheio de vírus e, quando se rompem, as lesões são altamente contagiosas. Após alguns dias, forma-se uma crosta sobre a ferida, até a cicatrização completa. O processo todo costuma durar de cinco dias a duas semanas.

Transmissão

Todos os tipos de herpes vírus são transmitidos da mesma maneira: pelo contato direto da mucosa com fluidos corpóreos de alguém que foi contaminado, principalmente saliva e secreções genitais. O sexo oral pode levar o vírus tipo 1 para a região genital e vice-versa. É por isso que nem todos os casos de herpes oral são causados pelo HSV-1, e nem todos os de herpes genital são por HSV-2.

Muita gente pode não ter sintomas, ou apenas lesões muito discretas, e mesmo assim passar o vírus para outras. É por isso que o herpes é tão prevalente na população. "É possível, sim, que a pessoa transmita o vírus sem nunca ter tido lesão na vida, mas isso é raro", avisa o infectologista Rico Vasconcelos, médico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e colunista do UOL VivaBem. O mais comum é que a transmissão ocorra quando a ferida está aberta.

Recorrência

Algumas pessoas têm a reativação do herpes oral ou genital de tempos em tempos. Não se sabe exatamente o que faz um indivíduo ser mais propenso ao problema, mas sabe-se que as crises podem ser desencadeadas por situações de estresse, como:

  • Exposição solar excessiva;
  • Exposição a frio intenso;
  • Período menstrual;
  • Períodos de estresse psicológico;
  • Falta de sono;
  • Febres;
  • Cirurgias;
  • Uso frequente de corticosteroide.

Orgasmo, sexo - Getty Images - Getty Images
No Brasil, mais de 90% dos adultos já entraram em contato com o herpes vírus 1 e/ou 2, que podem ser transmitidos no beijo, no sexo oral
Imagem: Getty Images

Complicações

O herpes é uma doença quase sempre benigna e autolimitada, ou seja, que desaparece espontaneamente, embora as recorrências sejam chatas e afetem a aparência ou a vida sexual. Entretanto, em raras situações, quando afeta uma pessoa com a imunidade fragilizada (como pacientes submetidos a transplantes ou a outros tratamentos mais agressivos), o vírus pode causar uma infecção disseminada, acometendo diferentes tecidos, como pulmões, fígado ou até o cérebro. Aí, sim, o herpes pode trazer complicações graves.

Risco para recém-nascidos

O herpes neonatal pode ocorrer quando uma criança é exposta ao HSV no trato genital durante o parto. A situação é rara: ocorre em cerca de 10 em cada 100.000 nascimentos em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas, quando acontece, pode causar problemas neurológicos duradouros no bebê ou até levá-lo à morte. O risco é maior quando a mulher se infecta pela primeira vez no final da gestação. Quando a infecção acontece antes de engravidar o risco de transmitir o HSV no parto é muito baixo.

Relação com o HIV

O herpes genital aumenta o risco de uma pessoa ser infectada pelo HIV. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, o HSV-2 ocorre em 60% a 90% das pessoas que têm o vírus da Aids. Nos pacientes em que o HIV não está controlado, o herpes pode causar complicações mais sérias e recorrentes.

Diagnóstico

O médico é capaz de identificar o herpes numa consulta. Testes laboratoriais para confirmação podem ser solicitados em alguns casos. Os exames de sangue que detectam anticorpos (sorologia) permitem identificar se a infecção é recente (IgM positivo) ou antiga (IgG positivo). Também é possível enviar células extraídas da lesão para análise, e ainda existem os testes moleculares que detectam o vírus com uma técnica chamada PCR (reação em cadeia da polimerase).

Tratamento

Antivirais, como o aciclovir, o famciclovir e o valaciclovir, são os medicamentos mais utilizados contra o herpes. Eles podem ser de uso tópico (pomadas ou soluções aplicadas no local da infecção) ou sistêmicos (comprimidos ou em formulação endovenosa). Só o médico pode dizer qual a dosagem indicada e como utilizar o remédio. "Em casos de recorrência, pode ser considerado o uso prolongado de antiviral, por mais de seis meses", comenta Lígia Pierrotti.

A limpeza adequada é importante para evitar que a ferida se infeccione por bactérias, e o uso de analgésicos ou compressas geladas podem aliviar o incômodo. Há quem indique tratamentos mais naturais, como soluções com própolis ou suplementos de lisina (um aminoácido), mas é fundamental que o médico seja consultado antes. Ensaios clínicos randomizados, com duplo-cego, só existem para os antivirais, segundo Rico Vasconcelos.

Lavar as mãos - iStock - iStock
É importante lavar bem as mãos após tocar na área ferida, para evitar que o herpes se espalhe para outras partes do corpo
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Cuidados durante as crises

A transmissão do vírus é mais frequente quando o líquido de dentro das bolhas se rompe, por isso é importante tomar os seguintes cuidados para evitar que o herpes seja transmitido para outras partes do corpo, como os olhos, por exemplo, ou para outras pessoas:

  • Lave sempre as mãos após manipular a área afetada;
  • Evite furar as bolhas;
  • Inicie o tratamento antiviral indicado pelo médico assim que os primeiros sintomas aparecerem;
  • Quando as lesões estiverem ativas, evite beijar outras pessoas ou ter relações sexuais.

Não há cura, mas controle

Os tratamentos apenas controlam a manifestação do vírus, mas não o eliminam do organismo. De qualquer forma, o acompanhamento médico e o uso precoce de antivirais permitem que se conviva com eventuais recorrências sem maiores aborrecimentos. "Tenho pacientes que sabem exatamente quando o herpes vai aparecer —ao pular Carnaval, ou após a menstruação, por exemplo — e já usam o antiviral nessas situações para evitar a reativação", conta Vasconcelos. Ter uma vida saudável, com sono adequado, além de evitar exposição excessiva ao sol também são formas de evitar a manifestação do vírus.

Prevenção

Não há vacina contra o herpes simples, embora existam estudos em andamento. É difícil evitar o herpes oral, já que uma pessoa com a lesão pode levar a mão à boca e depois cumprimentar outras pessoas. Mas, na medida do possível, é recomendável que se evite o contato direto com a pele ou mucosa afetada, bem como compartilhar como talheres, batons, lâminas de barbear etc. Para evitar o herpes genital, a recomendação é o uso consistente do preservativo, inclusive no sexo oral.

Gestantes devem informar o obstetra sobre a infecção, embora a sorologia seja comum durante o pré-natal. O uso de camisinha no fim da gravidez pode evitar o risco de contrair o vírus nessa fase, em que a chance de complicações para o bebê é maior.

E o herpes zóster?

O herpes zóster é uma doença provocada pelo herpes vírus tipo 3, também chamado de varicela-zóster. Na primo-infecção, ou seja, o primeiro contato da pessoa com o vírus, ele pode causar catapora, doença comum na infância. Depois de um período de latência, pode vir a se manifestar como herpes zóster (cobreiro) no adulto, quando a imunidade sofre algum abalo. Esse vírus fica escondido em gânglios nervosos, e, quando se reativa, progride pelo nervo e atinge a região cutânea.

As lesões do herpes zóster se rompem e formam crostas, com posterior cicatrização, independente do uso do antiviral. Entretanto, o medicamento é importante e deve ser administrado o quanto antes para diminuir o risco de neuralgia pós-herpética, que é a persistência da dor por meses e até anos após o quadro. Hoje, há vacinas tanto para a varicela (catapora), disponível no sistema público para crianças, quanto para o herpes zóster, recomendada a partir dos 50 anos de idade, mas oferecida apenas em clínicas particulares.

Fontes: Lígia Pierrotti (infectologista/SBI-SP); Rico Vasconcelos (infectologista/HC-FMUSP); Ministério da Saúde; Organização Mundial da Saúde (OMS); Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).