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Não é só ronco: apneia afeta o humor, traz riscos à saúde e gera obesidade

A apneia do sono aumenta a pressão arterial e eleva o risco de infarto e AVC - iStock
A apneia do sono aumenta a pressão arterial e eleva o risco de infarto e AVC Imagem: iStock

Marcia Di Domenico

Colaboração para o VivaBem

16/08/2018 04h00

Segundo um levantamento realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), 76% dos brasileiros têm pelo menos uma queixa relacionada à qualidade do sono. Entre os problemas mais comuns está a apneia obstrutiva do sono, que é a interrupção da respiração devido ao bloqueio das vias áreas superiores (garganta e nariz) durante o repouso.

O local da obstrução varia de uma pessoa para outra e os motivos principais são falta de tônus na musculatura da região da faringe, excesso de tecido na língua, amídala ou adenoide, doenças respiratórias, como rinite e sinusite, formato do palato e posição da mandíbula – todos causam o estreitamento da via de passagem do ar e dificultam a respiração. 

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Embora muita gente associe ronco a um sono pesado e reparador, trata-se de um dos sintomas mais evidentes da apneia --entre 70% e 90% dos diagnosticados são também roncadores, dizem os especialistas --, que de inofensiva não tem nada.

As repetidas pausas na respiração durante a noite, que chegam a passar de 10 segundos, levam à diminuição do fluxo de oxigênio para o coração e o cérebro, o que aumenta a pressão arterial e pulmonar, desencadeia processos inflamatórios (que podem dar início a doenças) e eleva o risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).

“Além disso, os pequenos despertares noturnos, devido à descarga de adrenalina que o organismo libera para compensar o bloqueio do oxigênio, tornam o sono entrecortado e superficial, o que afeta funções cognitivas como a atenção e a memória”, explica a neurologista Andrea Bacelar, presidente da Associação Brasileira do Sono. Um estudo da Universidade de Adelaide (Austrália) demonstrou ainda, que homens que sofrem de apneia têm risco maior de desenvolver depressão.

Levantar várias vezes para ir ao banheiro durante a noite, acordar (e passar o dia inteiro) cansado e sonolento, sentir dor de cabeça fora do comum e ter dificuldade de concentração são outros sinais determinantes para o diagnóstico, que leva em consideração, ainda, a polissonografia, exame que avalia a qualidade do sono a partir da medição da atividade cerebral, muscular e respiratória do paciente enquanto dorme.

Quais são as causas da apneia?

A predisposição genética conta bastante para desenvolver um quadro de apneia, mas o estilo de vida também tem seu papel. Homens na faixa dos 50 anos são pacientes em potencial, e se estiverem acima do peso, o risco aumenta.

A obesidade, aliás, é ao mesmo tempo fator de risco e consequência do problema, e muitos médicos defendem que o distúrbio do sono seja incluído entre os componentes da síndrome metabólica –conjunto de fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

A apneia aparece em cerca de 60% dos pacientes diagnosticados com síndrome metabólica, de acordo com estudo do Laboratório do Sono do Instituto do Coração de São Paulo (Incor). O sobrepeso favorece o fechamento da passagem de ar pela garganta devido ao excesso de tecido na região. O acúmulo de gordura e a desregulação no fornecimento de oxigênio para o organismo ainda desencadeiam uma série de reações endócrinas --como resistência à insulina e alterações no nível de hormônios da fome e da saciedade -- que reforçam a relação entre apneia e obesidade.

Como tratar o problema

A frequência de apneias por hora é que vai definir se o quadro é leve (entre 5 e 15 interrupções), moderado (de 15 a 30) ou severo (acima de 30), e orientar a escolha do tratamento mais adequado, que são:

CPAP (aparelho de pressão positiva contínua): é um equipamento semelhante a uma máscara de oxigênio para ser usada à noite. O compressor acoplado libera um fluxo de ar --ajustado pelo médico de acordo com a necessidade do paciente -- que desobstrui a garganta e permite a passagem do ar. Normalmente é indicado para casos de apneia moderada e grave.

Aparelho intraoral: projetado sob medida para o paciente, encaixa-se na boca de modo a projetar a mandíbula para frente e, desse modo, aumentar o espaço atrás da garganta para o ar fluir.

Fonoterapia: são exercícios respiratórios individualizados para fortalecer e reposicionar a musculatura das vias aéreas, a fim de evitar que a flacidez bloqueie a passagem do ar.

Cirurgia: costuma ser indicada em casos de apneia grave causada por características anatômicas que dificultam a respiração. Pode ser feita a fim de modificar estruturas no nariz, palato, língua ou mandíbula, por exemplo, dependendo do caso.

A alimentação faz diferença

Comer pesado antes de ir para a cama é um dos principais erros que pioram a qualidade do sono --afinal, a energia necessária para reparar o organismo durante o descanso acaba sendo direcionada para a digestão. Beber álcool à noite também é cilada --a substância relaxa a musculatura, inclusive a da garganta, e aumenta o risco de ronco, sono picotado e episódios de apneia. Leite e derivados, além de alimentos gordurosos, estimulam a formação de muco nas vias aéreas e também podem atrapalhar a respiração. 

Fontes: Andrea Bacelar, neurologista, presidente da Associação Brasileira do Sono; Maurício Kurc, otorrinolaringologista do grupo de medicina do sono do Hospital Israelita Albert Einstein; Edvânia Soares, nutricionista da Estima Nutrição.

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