"Fórmula para envelhecer bem é fazer o que amamos", diz atriz de 81 anos

Deinha Navarro é um exemplo de que nunca é tarde para aprender. Em 2006, aos 70 anos de idade, ela aceitou um convite para fazer um curso de teatro. Da profissão do lar para atriz, ela já fez mais de dez peças e participou de 20 curtas-metragens. "O teatro me dá energia e vontade viver", diz ela que hoje está com 81 anos. Nesse depoimento, Deinha conta sua trajetória:

“Abandonei os estudos aos 17 anos quando me casei. Tive seis filhos com o meu marido, o Francisco. Eu era dona de casa e cuidava das crianças. Eu não trabalhava fora, isso era inimaginável naquele tempo. Apesar disso, buscava ter atividades para ocupar o meu tempo. Era voluntária e trabalhava na igreja do meu bairro.

Em 2000, meu marido faleceu. Fomos casados por 46 anos. A morte dele me deixou uma dor, uma saudade e um vazio muito grande. Recebi o carinho dos meus filhos, mas tinha pavor de ser aquela viúva que fica sentada na cadeira com a família morrendo de pena dela. Após o luto, procurei retomar a minha vida. Entrei no curso de inglês e fui trabalhar na empresa das minhas filhas.

Passados alguns anos, minha professora de hidroginástica, a Vera Lucia Gonçalves, convidou eu e algumas colegas para fazer um curso de teatro, do grupo da Maturidade, na Oficina dos Menestréis. Como sempre gostei de me comunicar e de me relacionar com as pessoas, aceitei a proposta. Fiz as aulas por 12 meses.

Eu estava com 70 anos, não tinha grandes pretensões, eu achava que o teatro seria só mais uma atividade na minha rotina, mas se tornou a minha paixão.
O maior desafio para mim era decorar os textos. A profissão exige dedicação, por isso estudo bastante. Até hoje, fico ansiosa e o coração dispara antes das apresentações.

Em 2010, um diretor me escolheu para ser a protagonista da peça ‘A Mansão de Miss Jane’. Me identifico com a personagem porque ela tem uma história parecida com a minha. Assim como ela, eu também perdi um marido que me amou demais. Esse papel faz parte da minha trajetória.

O trabalho como atriz me abriu outras portas e eu tive a oportunidade de participar de 20 curtas-metragens, três seriados e comerciais de TV.

Sou uma idosa enfeitada com o espírito jovem

Eu tenho a impressão de que já fui reprovada em muitos testes de publicidade porque não tenho o perfil de uma idosa de 80 anos, que tem o cabelo branco, que se veste com roupas antigas e que tem cara de avó.

Me considero uma idosa enfeitada com o espírito jovem. Pinto o cabelo de loiro e estou sempre maquiada. Sou vaidosa, gosto de usar roupas chiques, modernas e que me valorizem. Sou ligada à moda. Adoro usar chapéus, coletes, saia longa, pantalona e all-star.

Aos 73 anos, participei do desfile do estilista Ronaldo Fraga no São Paulo Fashion Week. Ele levou alguns idosos para a passarela. Costumo brincar que foram os meus 15 minutos de fama. Foi uma experiência bem interessante.

Hoje, aos 81 anos de idade, minha vida continua agitada. Acordo cedo, limpo a casa e faço comida. Uma vez por semana, ensaio e faço curso de teatro.
Toda quinta-feira à tarde me reúno com um grupo de amigas para fazer tricô. Todos os domingos, vou à missa pela manhã.

Sou grata a Deus por chegar nessa idade com saúde e ter o privilégio de trabalhar. O teatro me dá energia, vontade de viver, entusiasmo, independência e garra para superar as dificuldades. Quando estou no palco, deixo as preocupações, os problemas e as dores de lado.

Atuar me ajuda a não ter preconceito, a lidar com todos os tipos de personalidades e a conviver com as pessoas. O teatro enfeita a minha velhice porque me faz feliz. Minha maior satisfação é ver meus filhos e netos me assistindo e me aplaudindo de pé. A fórmula para envelhecer bem é fazer o que amamos”.

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