Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Taxa de suicídio entre universitários só cresce; veja como evitar

A incidência e potencial para crises cresce anualmente - Chiara Zarmati/The New York Times
A incidência e potencial para crises cresce anualmente Imagem: Chiara Zarmati/The New York Times

Jane E. Brody

Do New York Times

05/07/2018 14h45

Esta coluna é um apelo a todos os atuais e futuros estudantes universitários e suas famílias para que lidem franca e construtivamente com o tumulto emocional, social e acadêmico que pode ter às vezes consequências dolorosas e, geralmente, evitáveis.

O suicídio é a segunda principal causa de morte nos Estados Unidos, após acidentes de trânsito, entre universitários. No Brasil, por exemplo, a taxa na população de 15 a 29 anos aumentou quase 10% desde 2002, de acordo com o Mapa da Violência 2017. Para muitos, é a primeira vez morando longe de casa, distante do apoio e do conforto normalmente oferecido por bons amigos e parentes. O ajuste pode ser opressivo para alguns estudantes, principalmente os que não fazem amizades com facilidade ou que têm dificuldade para atender às demandas desafiadoras dos cursos universitários.

Infelizmente, os pais muitas vezes desconhecem as batalhas enfrentadas pelos filhos em idade universitária, e uma lei federal nos Estados Unidos impede as instituições de ensino de informar aos pais sobre dificuldades sérias dos alunos até mesmo quando professores e funcionários estão cientes.

Veja também:

Examinemos o suicídio recente de um estudante da Faculdade Hamilton cujos pais desconheciam sua severa angústia ainda que vários professores e o reitor soubessem que o rapaz estava passando por um "colapso completo", nas palavras de um deles.

A lei que regula os direitos e a privacidade educacional familiar, de 1974, impede as faculdades de alertar aos pais quando os estudantes enfrentam graves problemas acadêmicos a menos que o aluno seja citado como dependente no imposto de renda.

Embora a lei permita que as "partes apropriadas" sejam contatadas em uma emergência de segurança ou saúde, cabe às instituições de ensino reconhecer que matar aula, não entregar trabalhos escolares e reprovar em exames muitas vezes sejam sintomas de uma profunda angústia emocional que poderia muito bem ser uma emergência médica não sujeita à lei da privacidade.

No final da década de 1950, muito antes da lei da privacidade, ajudei a evitar uma quase tragédia. Eu tinha 16 anos quando um rapaz que me considerava sua única amiga voltou do primeiro ano na faculdade querendo se suicidar. O moço contou que havia repetido em algumas matérias, mas não ousara contar aos pais. Ele iria se matar.

Sabendo como seus pais podiam ser vingativos, passei o resto do dia e da noite ajudando-o a escolher uma opção menos dramática. Ele preferiu se alistar no Exército, depois do que voltou à faculdade, se formou com honras e foi estudar Direito. Anos mais tarde, ele me disse que salvei sua vida.

Espero que esta coluna possa ajudar a salvar muitos outros, não só do suicídio como também do sofrimento em silêncio desnecessário quando a ajuda pode estar a um telefonema de distância.

"Buscar ajuda é um sinal de força. É normal muitos estudantes sofrerem, e eles precisam saber que existem pessoas no campus que podem lhes ajudar", afirma Timothy Marchell, diretor do Centro Skorton para Iniciativas de Saúde da Universidade Cornell.

Quase toda faculdade e universidade têm um centro de orientação psicológica no campus ao qual os estudantes devem ser encaminhados se um professor acreditar que a pessoa esteja em uma espiral descendente em termos acadêmicos ou emocionais. Às vezes, para continuar o atendimento, o estudante será encaminhado para terapeutas externos.

Aumento dos números

E a incidência e potencial para crises cresce anualmente. Segundo pesquisa sobre a saúde dos universitários nos Estados Unidos, houve um aumento drástico no número de alunos sofrendo com depressão --de 32,6%, em 2013, para 40,2% em escala nacional no ano passado. Igualmente, durante o mesmo período, cresceu o número daqueles que pensam em suicídio, de 8,1% para 11,5%, e o dos que tentam se suicidar, passando de 1,3% para 1,7%, também no mesmo período. Quase um estudante em 12 tem planos para o suicídio.

Pelo sétimo ano seguido, centros universitários de orientação psicológica relatam crescimento no número de alunos em busca de tratamento para um quadro de "ameaça à vida", segundo relatório deste ano do Centro para Saúde Mental Universitária.

Muitas instituições de ensino superior lutam para atender à demanda. Por exemplo, o Serviço de Orientação Psicológica e de Saúde da Cornell, que atendeu 13 por cento dos alunos da Universidade Cornell com depressão debilitante, estresse e ansiedade em 2005-06, orientou 21 por cento dos alunos em 2016-17. Eles também contrataram mais dez profissionais em tempo integral, somando um total de 32 orientadores para fornecer os serviços necessários para os 14.500 alunos de graduação e sete mil alunos de pós-graduação, uma proporção acima da média.

A Universidade também criou uma "Comunidade de Atendimento" com um site que direciona alunos à ajuda, incluindo serviços emergenciais, para todos os tipos de questões ligadas à saúde.

Um link em "Perceba e Reaja" dirige qualquer um preocupado com outro aluno a informações que podem salvar vidas. Ele lista 13 sinais de angústia, desde "ficar para trás e não ir às aulas", passando por "impulsividade e riscos desnecessários" a "ameaças verbais ou escritas de suicídio, expressões de desesperança ou desejo de morrer". O local também oferece orientação sobre como reagir de forma carinhosa, observando que o único risco real é não agir.

O site recomenda ser imparcial e usar afirmativas em primeira pessoa ("eu", não "você") como "estou preocupado com você porque reparei que está bebendo mais, perdendo as aulas matinais". Além de indicar recursos do campus, um amigo pode sugerir que estudantes problemáticos falem com os pais ou algum parente confiável em busca de auxílio.

A universidade também oferece um programa de intervenção do observador para incentivar a ação quando um aluno parece estar com problemas.

Existem pelo menos duas boas maneiras de driblar as limitações que as universidades enfrentam quanto à notificação dos pais. Uma é os alunos permitirem aos administradores escolares, antes de qualquer dificuldade, que entrem em contato com os pais sem demora caso tenham problemas acadêmicos ou emocionais. O outro é um amigo preocupado alertar os pais ou parente confiável; nenhuma permissão é necessária se o estudante deu as informações de contato.

Os pais também podem ajudar ativamente os filhos na faculdade a enfrentar os estresses muitas vezes consideráveis. Um bom ponto de partida: não sobrecarregue o aluno com expectativas irreais. Mesmo quando os pais não dizem em voz alta, os filhos sabem que não tirar um dez resulta em desaprovação paterna. Um dos meus filhos, que preferiu não ter as notas da faculdade enviadas para casa, falou: "Tudo que se precisa saber é que me formei. Possíveis empregadores não pedem o histórico escolar."

Garanta que seu filho em idade universitária saiba que você estará disponível para ajudar quando necessário. Fique em contato por meio de telefonemas regulares, mensagens de texto, Skype ou qualquer outro programa. Faça perguntas abertas e escute atentamente tanto ao tom quanto às palavras ditas. Evite julgamentos, críticas e ameaças, pois todas podem levar o estudante a um canto inescapável. Você pode até contar os problemas que teve enquanto estudava.

Siga o VivaBem nas redes sociais
Facebook • Instagram • Youtube