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Seu filho está mandando nudes? Saiba como tocar no assunto e alertar riscos

O sexting está se tornando um componente normativo do comportamento e desenvolvimento sexual na adolescência - iStock
O sexting está se tornando um componente normativo do comportamento e desenvolvimento sexual na adolescência Imagem: iStock

Gabriela Ingrid

Do VivaBem

05/07/2018 04h00

Os dispositivos digitais alteraram a forma como as pessoas se relacionam. Mas não pense que apenas sua vida amorosa e sexual foi impactada. Os relacionamentos entre os adolescentes também sofreram mudanças e hoje os jovens fazem parte desse grupo que manda as tais sextings, ou melhor, as mensagens de conteúdo sexual, incluindo aí os nudes.

Antes de você ficar assustado que seu filho ou sobrinha está mandando e recebendo imagens explícitas de outros adolescentes, saiba que os especialistas dizem que nós é que estamos errados --e que deveríamos falar com esses jovens sobre isso desde cedo, assim como pensar em outros aspectos do desenvolvimento de suas identidades sexuais.

"O sexting está se tornando um componente normativo do comportamento e desenvolvimento sexual na adolescência", disse Sheri Madigan, psicóloga que foi a primeira autora de um grande estudo sobre atividade sexual digital, publicado no final de fevereiro no periódico JAMA Pediatrics. "A idade média de posse do primeiro celular é de 10,3 anos", disse ela, que é presidente de pesquisa do Instituto de Pesquisa Hospitalar Infantil de Alberta, no Canadá. A especialista aconselha os pais a começarem a falar sobre sexting com os jovens mais cedo do que acham que precisam tocar no assunto.

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No estudo, a psicóloga sugere que, para as crianças menores, as conversas poderiam ser simples e poderiam ser colocadas no contexto de outras regras. "Deixe-os saber que não devem entrar em um carro com um estranho, e também que mensagens de texto, e-mails e comunicações on-line nunca devem incluir alguém sem roupas", disse ela.

Cláudia Bonfim, sexóloga e coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Sexualidade do Programa de Educação Tutorial do Ministério da Educação, diz que os pais não devem ter uma conversa com julgamento de valor. “Nenhuma pessoa gosta de imposições. Sempre digo que não se convence pela radicalidade ou pela proibição, especialmente com adolescentes, e sim por meio de um diálogo aberto e com boas argumentações.

Bonfim sugere que o alerta venha por meio de exemplos de casos reais, que ajudam a convencer o quanto essa liberdade acarreta em responsabilidades.

Na internet não existe segredo

Na pesquisa publicada em fevereiro, os cientistas analisaram dados de 39 estudos feitos com pessoas com menos de 18 anos que enviavam e recebiam imagens sexualmente explícitas, vídeos e mensagens. Em conjunto, os estudos incluíram dados sobre mais de 110.000 crianças (elas variaram de 11,9 a 17 anos, com uma média de 15,16 anos).

No total, 14,8% enviaram mensagens sexuais, 27,4% receberam, 12% encaminharam mensagens sexuais sem consentimento e 8,4% contaram que alguém mandou mensagens para eles sem consentimento.

Elizabeth K. Englander, professora de psicologia na Bridgewater State University, nos Estados Unidos, e coautora do estudo, disse que muitas vezes o sexting reflete a curiosidade adolescente sobre nudez e corpos e é uma atividade para "crianças que estão interessadas na sexualidade, mas podem não estar prontas para o sexo real."

O problema, de acordo com Margareth dos Reis, psicóloga, terapeuta sexual e doutora em ciências pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), é que essa “brincadeira” pode ser muito onerosa emocionalmente quando as pessoas não levam em consideração que ela pode sair do controle. “Você não sabe se ou com quem o conteúdo enviado será compartilhado. Essas mensagens podem trazer um resultado negativo e, em geral, bastante problemático, dramático para a vida do jovem”, diz ela.

“Na internet não existe nenhum tipo de segredo sobre o que é postado. Uma vez socializado, publicado ou compartilhado, você não tem mais nenhum controle sobre aquilo”, reflete Bonfim. De acordo com a especialista, cabe aos pais e responsáveis esclarecerem sobre como gerenciar o uso do celular e das redes sociais sobre a privacidade, e isso inclui os termos de uso da internet.

Sono celular - iStock - iStock
Não se convence pela radicalidade ou pela proibição, especialmente com adolescentes, e sim através de um diálogo aberto e de argumentações
Imagem: iStock

"Os pais estão muito envolvidos na ideia de que fazer sexo é uma coisa terrível", disse Englander. "Eles querem ser capazes de se voltar para seus filhos e dizer que este pode ser o fim de sua vida como a conhecemos, isso pode arruinar suas chances para a faculdade, pode arruinar suas chances de emprego."

Concentrando-se nesses piores (mas possíveis) cenários, os pais não estão necessariamente abordando os problemas mais comuns: cerca de 13% dos "sexters" relatam experiências ruins e outros 7% a 8% misturam experiências; os negativos são, na maior parte, emocionais.

Assim, essas conversas devem incluir os cenários "e se". E se você se sentir pressionado para enviar um sext e não quiser, quais são as estratégias certas? Para quem você recorreria, como você poderia obter ajuda e conselhos?

Mensagem sem consentimento

A estatística mais perturbadora que surge desses estudos é que um em cada nove adolescentes relata o envio de sexts sem consentimento. Esses são os cenários com os quais os pais mais se preocupam; as imagens acabam nas mãos de outra pessoa ou são tornadas públicas. A confiança do remetente foi violada e pode haver implicações legais.

É sempre importante mostrar que existe uma ilusão do anonimato e que o conhecimento social e relacionamento com pessoas de quem eles desconhecem a verdadeira identidade pode ser sempre um risco muito grande. “Como muitos buscam nas redes sociais o sentimento de pertencimento, eles se tornam mais vulneráveis e as superexposições aumentam dessa violência. O conteúdo compartilhado pelo celular pode ser usado para fazer chantagens, intimidar, constranger, e isso pode provocar danos irreparáveis”, alerta Reis.

Vale a pena falar sobre isso. "As crianças que relatam discutir sexting com seus pais são menos propensas a fazer sexo e têm menor probabilidade de sofrer algum trauma por causa do sext", disse Englander. Estudos mostraram que uma das mensagens mais eficazes dos adultos é dizer: “Depois de enviar uma foto, você nunca mais poderá controlá-la. Isso parece ter um acorde maior com as crianças.”

De acordo com Englander, ignorar o assunto ou gritar com o adolescente não vai ajudar em nada. O ideal é tocar no tema o quanto antes e alertar sobre os riscos.

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