Descubra como enganar o cérebro para conseguir comer menos
Dados inéditos do Ministério da Saúde, divulgados na segunda (18), mostram que a obesidade no Brasil cresceu 60% desde 2006. E o problema não é só aqui. Estima-se que no mundo existam 700 milhões de obesos (pessoas com IMC acima de 30). Enquanto os números revelam uma epidemia mundial, especialistas buscam meios de lidar com o problema. Antoine Bechara é um deles.
Durante uma palestra no Brain Congress 2018, em Gramado, no Rio Grande do Sul, nesta terça (20), o professor de psicologia e neurociência na Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidos, revelou que ele e sua equipe descobriram uma maneira de enganar o cérebro e fazer as pessoas comerem menos. De acordo com Bechara, o método pode ser importante inclusive entre os indivíduos que realizam a bariátrica, já que mesmo após a cirurgia é preciso aprender como controlar os comportamentos alimentares.
Tradicionalmente, o foco principal do comportamento alimentar tem sido o hipotálamo, que produz uma variedade de neurotransmissores que controlam os hormônios envolvidos na alimentação. O problema é que o corpo cria adaptações a esses peptídeos. Num quadro de obesidade, as pessoas desenvolvem resistência a leptina (hormônio da saciedade), por exemplo, bloqueando o efeito de remédios que estimulam a produção desse inibidor da fome.
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Por isso, Bechara e sua equipe de pesquisadores propuseram um modelo alternativo que tenta relacionar o comportamento alimentar de uma forma não tão direta a esses hormônios. Esse novo método trabalha com três "pilares": o sistema dopaminérgico mesolímpico, o córtex pré-frontal e a ínsula.
Apesar dos nomes complicados, a relação desses três fatores com a fome é simples: o córtex pré-frontal tem um papel importante na tomada de decisões. Em pessoas com obesidade, existe uma tomada pobre de decisões, mas só em um domínio: a comida. A ínsula recebe esses sinais de que o indivíduo está com fome e isso potencializa o sistema dopaminérgico, que o deixa mais fraco para resistir à comida.
Após realizarem diversos estudos, os cientistas descobriram que ao manipular esses três sistemas é possível controlar a fome e, consequentemente, a obesidade.
“O maior exemplo é o hambúrguer de uma famosa rede de alimentos que é vendido em conjunto com um brinquedinho”, disse Bechara. O governo tentou banir o brinquedo com a ideia de que as crianças diminuiriam o consumo de hambúrgueres e batatas fritas, mas não foi o que aconteceu. “Dessa forma, concluímos que poderíamos oferecer o hambúrguer sem o brinquedo ou meia refeição com o brinquedo. A soma da dopamina liberada com o brinquedinho e a meia refeição é equivalente à dopamina liberada na refeição inteira, ou seja, a criança terá prazer mesmo comendo menos fast-food.”
No estudo, os pesquisadores pediram para crianças escolherem o que comer em duas situações. Na primeira, elas podiam optar por um sanduíche grande ou um menor; na segunda, tinham um sanduíche maior ou um sanduíche menor com um fone de ouvido. Os resultados mostraram que 74% das crianças escolheram o sanduíche grande na primeira opção. Mas na segunda opção, apenas 22% deles escolheram o lanche grande e o restante preferiu comer menos e ganhar o fone de ouvido.
“Fizemos o mesmo com adultos, mas dessa vez com hambúrgueres e bilhetes de loteria que valiam 50 dólares. E, adivinhem? A maioria preferiu o hambúrguer menor, desde que ganhasse algum dinheiro”, explicou Bechara. “A vantagem é que não é necessário oferecer muito dinheiro, porque fizemos um teste com 100 dólares e os resultados não foram muito diferentes.”
Segundo o professor, a recompensa das meia porções e dos incentivos não alimentares se somam de modo que os consumidores são motivados a comer menos. Isso pode ser uma forma positiva de incentivar a recompensa e o uso de porções menores, inclusive entre ex-obesos que realizaram cirurgia bariátrica.
Portanto, se você deseja perder alguns quilinhos, é melhor garantir algum prêmio por aquela salada.
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