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Tem um tempo livre entre um emprego e outro? Viaje

Viajar entre empregos é essencial para exorcizar os vestígios do cargo anterior  - iStock
Viajar entre empregos é essencial para exorcizar os vestígios do cargo anterior Imagem: iStock

Sarah Firshein

Do New York Times

13/06/2018 09h50

Em setembro passado, uma semana depois de deixar o emprego, Hirumi Nanayakkara fez o que qualquer pessoa organizada e recém-desempregada faria: acordou, tomou o café da manhã e fez uma lista. Porém, em vez de incluir tarefas como "atualizar perfil do LinkedIn" ou "mandar e-mail para recrutadores", dela constavam atividades como "comer noodles", "marcar massagem" e "ir à praia" – ou seja, programas obrigatórios para quem passa férias na cidadezinha balinesa de Padangbai.

Nanayakkara, 34 anos, embarcou para a Indonésia dias depois de concluir um projeto para a LittleBits, empresa na qual foi contratada como funcionária nº5. Cinco anos e meio depois, depois de ajudar a expandir a start-up --que hoje conta com mais de cem empregados--, ela achou que era hora de mudar, mas não sem antes fazer uma pausa.

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"Parte do motivo para sair de férias foi a oportunidade de me concentrar em tudo aquilo que não tem nada a ver com tecnologia; já basta o que eu fazia todo dia no trabalho", explica. Ela também queria aprender a preparar receitas indonésias, que são suas favoritas. "Quando me perguntavam se eu ia fazer aquela peregrinação tipo 'Comer, Rezar, Amar', eu dizia que não, que ia ser só 'Comer, Comer, Comer'", brinca.

As viagens de lua de mel e as realizadas durante a primeira gravidez, culturalmente, são ligadas a eventos cruciais, mas o fato é que não há um nome específico para aquela jornada realizada após um evento não menos importante: a troca de empregos. Embora essas "jobbymoons" (como gosto de chamar) variem dependendo das circunstâncias do trabalho, orçamento e interesses pessoais, elas quase sempre têm um objetivo comum: exorcizar os vestígios do cargo anterior antes de assumir o próximo.

"Viajar é ótimo porque a pessoa aprende muita coisa sobre si mesma, mas é importante não usar isso como uma forma de escapismo. Não adianta nada viajar para fugir de um emprego de que você não gostava antes de assumir outro que já sabe que vai detestar", diz a orientadora Joy Lin, do site the Muse.

Nanayakkara, hoje diretora de experiência da start-up Quip, usou sua excursão a Bali para se concentrar em quatro objetivos. "Aproveitar, me livrar da tensão que fazia a pálpebra tremer, experimentar o maior número possível de pratos locais e definir o que fazer da vida." Onze dias depois do início da turnê programada de duas semanas, ela já tinha atingido todos. Como não tinha nada em vista ainda, também fez uma lista do que esperava na próxima função, entre os itens "equipe cooperativa" e "estratégia criativa".

Quem já garantiu a próxima oportunidade diz que a chance de se desligar pode ser valiosa do mesmo jeito. Depois de deixar o cargo de relações-públicas em uma firma de marketing e antes de abrir a agência própria, a Ward 6 Marketing, Heath Fradkoff, 40 anos, viajou com a mulher para a Irlanda. O casal queria um lugar onde pudesse explorar a vida urbana durante alguns dias --no caso, Dublin-- antes de partir para conhecer o interior.

"Foi um período em que não precisei estar ativo, nem reagir a nada. Fizemos questão de aproveitar ao máximo, já que sabíamos que seria a última chance durante um longo tempo em que eu não teria responsabilidades profissionais", conta ele.

Ao contrário das viagens a trabalho que acabam misturando um pouco de lazer e/ou descanso, essas viagens entre empregos envolvem preocupação zero.

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De acordo com o LinkedIn, em 2016, os millennials pularam de uma função para outra 2,2 vezes mais do que os não millennials, além de permanecerem menos tempo na função
Imagem: iStock

"Você não está lutando contra a tensão como aquele que está empregado e sabe que não pode sair para nada. Quando começa um novo emprego, a melhor coisa é começar zerado, sem a exaustão acumulada e a bagagem do cargo anterior", explica Michelle Gielan, especialista em psicologia que, ao lado do marido, e em parceria com a Associação de Viagens dos EUA, montou um estudo de férias em 2016 para a iniciativa Project: Time Off da instituição. E descobriu que 55 por cento dos norte-americanos que trabalham pelo menos 35 horas por semana, com férias remuneradas, não usam todos os dias a que têm direito: em 2015, tiraram aproximadamente quatro dias a menos do que em 2000.

"O costume era trabalhar a vida inteira na mesma empresa, e era raro fazer essas paradas porque não precisava; hoje a gente vê um monte de gente que decide tirar vantagem desses intervalos naturais entre um cargo e outro", afirma John Challenger, CEO da empresa de recolocação profissional Challenger, Gray & Christmas.

Os dados sugerem que a mudança frequente de empregos talvez seja geracional; de acordo com o LinkedIn, em 2016, os millennials pularam de uma função para outra 2,2 vezes mais do que os não millennials, além de permanecerem menos tempo na função.

Para Challenger, a chance de dar um tempo pode ser o lado positivo da "demissão não voluntária", ou seja, a redução no quadro de funcionários, por exemplo.

Quando foi dispensada da Tasting Table, no fim do ano passado, Bertha Chen, 26 anos, mergulhou de cabeça nas entrevistas, nas atividades freelance e na procura. "Sem emprego, fiquei preocupada com o rumo que minha vida poderia tomar. Não sou impulsiva, tenho que saber onde estou pisando antes de fazer alguma coisa meio maluca, mesmo que seja pular de paraquedas, por exemplo", diz.

Depois de um mês e meio de busca, Chen recebeu o convite para ser coordenadora contábil do Pinterest, mas teria que aguardar duas semanas para começar. Duas horas e oito minutos depois de aceitar, comprou uma passagem para a Costa Rica e embarcou menos de dois dias depois. Embora não goste muito de viajar sozinha e não tenha se apaixonado pelo destino escolhido, os cinco dias de férias lhe ensinaram uma lição importante. "Não tive tempo nenhum de pesquisar, e apesar de a viagem não ter sido perfeita, percebi que se deixar levar de vez em quando é ótimo. Não preciso planejar cada passo o tempo todo."

Por mais estranho que possa ter sido na época, a escapada de Chen segue um padrão: hoje, mais de 50% das buscas no Google Flights são para viagens com menos de trinta dias para embarque. E para compensar o preço mais alto das passagens, Chen optou por se hospedar em um albergue para lá de espartano, a uma diária de US$11.

Outras circunstâncias podem compensar ainda mais o custo de uma viagem entre empregos. Quando partiu para Bali, Nanayakkara, que se casara alguns meses antes, já estava inscrita no plano de saúde do marido, economizando assim centenas, se não milhares de dólares. Além disso, ficou de olho nas ofertas relâmpago, conseguindo uma promoção ida e volta por US$850. Fradkoff e a mulher já tinham economizado bastante e não fizeram nenhuma viagem para fora no ano anterior à saída para a Irlanda; além disso, ele já definira os prazos de entrega dos primeiros projetos de sua empresa antes de viajar, com datas bem próximas do retorno.

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