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Nutrição comportamental quer você emagreça comendo com prazer

Sem restrições, nova tendência para emagrecer é entender sua fome e comer também com prazer - iStock
Sem restrições, nova tendência para emagrecer é entender sua fome e comer também com prazer Imagem: iStock

Marcelle Souza

Colaboração para o VivaBem

13/06/2018 04h00

Se você já tentou uma série de dietas, mas depois de perder uns quilos acaba sempre engordando a longo prazo, talvez a saída seja parar de contar calorias. Calma! A ideia não é partir para o junk food, e sim começar a prestar atenção não só no que, mas também em como e por que você está comendo.

Essa é a abordagem proposta pela nutrição comportamental, difundida por um grupo de profissionais para promover mudanças na prática clínica e, consequentemente, na relação dos pacientes com a comida.

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Nunca se falou tanto em nutrição, mas a saúde e o peso da população não têm melhorado. Então, nós entendemos que, para atingir os objetivos, é preciso mudar comportamentos. E os nutricionistas, em geral, não estavam olhando para isso, acabaram se tornando profissionais muito prescritivos”, afirma a nutricionista Cynthia Antonaccio, do Instituto Nutrição Comportamental.

Não se trata de uma nova especialização da área, até porque nutrição comportamental não faz parte dos tipos de pós-graduação definidas pelas entidades de classe, mas de um conjunto de práticas que o nutricionista pode usar em consultório para ajudar o paciente a entender melhor os seus comportamentos alimentares.

“De modo geral, essa abordagem não tem dieta, porque o paciente não sai do consultório com a recomendação de comer três colheres de arroz no almoço, por exemplo. Também não há lista de alimentos proibidos e permitidos”, diz a nutricionista Marle Alvarenga, coordenadora do Genta (Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade), supervisora do grupo de nutrição do Programa de Transtornos Alimentares da Universidade de São Paulo e uma das idealizadoras do Instituto Nutrição Comportamental.

Mas então, como funciona a consulta?

Um dos diferenciais dessa abordagem é que não tem dieta - iStock - iStock
Nutrição comportamental não tem dieta
Imagem: iStock
No lugar das clássicas medições de peso, altura e gordura corporal, o paciente tem uma longa conversa com o nutricionista, para que o profissional entenda os seus objetivos e defina quais ferramentas serão utilizadas.

Muitos pacientes sabem exatamente o que devem fazer, mas por conta de outros problemas, de questões emocionais, acabam tendo compulsões, não conseguem organizar a sua alimentação"  Nutricionista Marle Alvarenga

O fundamental é que o nutricionista tenha mais habilidades interpessoais, de comunicação, precisa ser mais acolhedor para escutar a história do paciente.

Entre as estratégias utilizadas pela nutrição comportamental, algumas foram retiradas da psicologia e do coaching, como a terapia cognitivo-comportamental e a entrevista motivacional.

Comer intuitivo

Outra técnica utilizada pelos nutricionistas comportamentais é o “comer intuitivo”, descrito pelas nutricionistas norte-americanas Evelyn Tribole e Elyse Resch. “A ideia dessa abordagem é dar mais liberdade para esse indivíduo entenda os sinais internos de fome e de saciedade, de desejo e de vontade de comer”, diz Antonaccio.

Já o mindful eating, outro pilar da nutrição comportamental, define que o ato de comer deve ser realizado com calma e atenção plena. Ou seja, nessa hora é recomendado deixar de lado todo tipo de estímulo externo, para perceber o máximo de textura, sabor e sensações despertadas por cada alimento.

E olha que a prática pode mesmo ter efeitos interessantes na balança. Uma pesquisa realizada pelo Departamento de Ciências da Saúde da UFLA (Universidade Federal de Lavras), aponta que comer usando o smartphone faz com que você consuma até 20% a mais de calorias na refeição.

Para mudar esse tipo de comportamento, então, o paciente precisa participar ativamente de todo o processo. Desse modo, uma das tarefas que ele leva para a casa, por exemplo, é a recomendação de que faça um diário alimentar, registrando não só o que comeu ao longo do dia, mas como e onde foi feita cada refeição, e quais foram as emoções e os sentimentos percebidos naquele momento.

Isso não quer dizer que alguns conceitos básicos da nutrição, como comer mais vegetais, não façam parte da nutrição comportamental. Pelo contrário, queremos isso e que seja mais gostoso e mais viável, porque é essencial não abandonar as premissas de ser feliz e ter prazer durante a refeição” Cynthia Antonaccio

Em alguns casos, o nutricionista organiza um plano alimentar, sem restrições e medidas, que funciona mais como um guia de como organizar e distribuir as refeições, um planejamento para que o paciente tenha uma rotina.

Transtornos alimentares

Mirian Bottan e seu belo "corpo de verão" - Reprodução/Instagram/@mbottan - Reprodução/Instagram/@mbottan
Mirian Bottan aprendeu com a nutrição comportamental a entender sua fome e comer com prazer
Imagem: Reprodução/Instagram/@mbottan
Após 16 anos convivendo com a bulimia, Mirian Bottan, 31, usa as redes sociais para falar de aceitação do próprio corpo e de transtornos alimentares para os quase 600 mil seguidores no Instagram. Mas o caminho até aqui foi longo e difícil.

“Quando eu estava cansada e disposta a mudar, procurei uma nutricionista esportiva, que me ajudou muito a voltar a comer e me tirou de um quadro de depressão. Mas ela não tinha o entendimento de que para mim, que vinha de um quadro tão longo de bulimia, não era legal fixar metas, dar tanta importância para mudança estética”, conta Mirian.

Voltou a comer, recuperou a massa muscular que havia perdido após anos de compulsão, mas começou a ter outro tipo de distúrbio: a ortorexia. “Diminuíram os episódios de compulsão, porque eu comia de três em três horas, mas eu comecei a restringir: eu não comia açúcar, e sonhava quase toda noite que eu estava comendo doce”, conta. “Nessa época, eu ainda não conhecia uma máxima da nutrição comportamental, que é ‘restrição gera compulsão’, ou seja, tudo que é proibido fica no inconsciente”, diz.

E a ciência confirma essa relação. Pesquisadores australianos descobriram que adolescentes que fazem dietas restritivas têm 18 vezes mais chances de desenvolver um transtorno alimentar do que as que não fazem dieta.

“A gente trabalha com uma série de estratégias, especialmente para o tratamento de transtornos alimentares. Isso porque a nutrição tradicional é muito prescritiva quando o profissional dá uma lista de ‘faça’ e ‘não faça’. Isso definitivamente não funciona para quem tem um transtorno. Além disso, mudar comportamentos tem bons resultados para os demais”, diz Alvarenga.

Veja algumas dicas da nutrição comportamental:

  • Pare de fazer dietas restritivas
  • Dê um tempo para os aparelhos eletrônicos e coma com atenção
  • Respeite a sua fome e a sua saciedade
  • Coma com prazer
  • Entenda e respeite o seu corpo. Vale a pena viver insatisfeito?

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