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Por que a nova geração não tem pressa para se casar?

Os jovens adultos não apenas se casam e têm filhos mais tarde na vida do que as gerações anteriores, mas também levam mais tempo para se conhecerem - Errol F. Richardson/The New York Times
Os jovens adultos não apenas se casam e têm filhos mais tarde na vida do que as gerações anteriores, mas também levam mais tempo para se conhecerem Imagem: Errol F. Richardson/The New York Times

Roni Caryn Rabin

Do New York Times

04/06/2018 18h43

A maneira leve como os integrantes da geração do milênio (ou geração Y), conhecidos como millenials, encaram a intimidade sexual ajudou a criar aplicativos como o Tinder e tornou frases como "ficar" e "amigos com benefícios" parte do discurso comum. Segundo uma nova pesquisa, porém, quando se trata de relacionamentos duradouros e sérios, os millenials são mais cautelosos.

Helen Fischer, antropóloga que estuda relacionamentos e consultora do site de encontros Match.com, criou a frase "sexo rápido, amor lento" para descrever a justaposição de ligações sexuais casuais e relações sérias em banho-maria.

Os jovens adultos não apenas estão se casando e tendo filhos mais tarde na vida do que as gerações anteriores, mas também gastam mais tempo conhecendo o parceiro antes de se comprometer. Na verdade, alguns passam a maior parte da década como amigos ou parceiros românticos antes de se casar, segundo a nova pesquisa do site de encontros eHarmony.

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O relatório do eHarmony sobre relacionamentos descobriu que os casais americanos de 25 a 34 anos se conheciam a cerca de 6,5 anos antes de se casarem, comparados com uma média de cinco anos para todos os outros grupos etários.

O relatório se baseou em entrevistas on-line com 2.084 adultos que são casados ou estão em relacionamentos longos, conduzidas pela Harris Interactive. A amostra representa os Estados Unidos demograficamente para idade, sexo e região, mas não tem representação nacional para outros fatores como renda, então suas descobertas são limitadas. Os especialistas dizem, no entanto, que os resultados refletem de maneira acurada a tendência consistente de casamentos mais tardios documentada por números do censo nacional.

Julianne Simson, de 24 anos, e seu namorado, Ian Donnelly, de 25 anos, são jovens típicos. Eles namoram desde o ensino médio e moram juntos em Nova York desde que se formaram na faculdade, mas não têm pressa de se casar. Simson diz que se sente "jovem demais" para ser casada. "Ainda estou descobrindo tantas coisas. Vou me casar quando minha vida estiver mais em ordem", explica.

Ela possui uma longa lista de coisas a fazer antes, como pagar os empréstimos estudantis do casal e conseguir mais segurança financeira. Gostaria de viajar e de explorar carreiras diferentes e está pensando em fazer faculdade de Direito.

"Como o casamento é uma sociedade, gostaria de saber quem sou, o que tenho para oferecer financeiramente e quão estável estou antes de me comprometer legalmente com alguém. Minha mãe diz que estou removendo todo o romance da equação, mas sei que existe mais em um casamento do que apenas amor. Se for só amor, não tenho certeza de que possa funcionar", diz Simson.

O foco é outro

Sociólogos, psicólogos e outros especialistas que estudam os relacionamentos dizem que essa maneira prática e sem frescuras de ver o casamento se tornou mais comum à medida que as mulheres entraram na força de trabalho nas últimas décadas. Durante esse tempo, a média de idade de casamento subiu de 23 para homens e 20,8 para mulheres em 1970 para 29,5 para homens e 27,4 para mulheres.

Hoje, homens e mulheres têm a tendência de querer avançar em suas carreiras antes de se casar. Vários estão pagando dívidas estudantis e se preocupam com o alto custo da moradia.

Em geral, os jovens dizem que gostariam de se casar antes de começar uma família, mas alguns são ambivalentes quanto a ter filhos. O mais importante, segundo especialistas, é que eles querem uma fundação sólida para o casamento para que possam acertar --e evitar o divórcio.

"As pessoas não estão adiando o casamento porque se importam menos com ele, mas porque se importam mais", diz Benjamin Karney, professor de Psicologia Social da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Andrew Cherlin, sociólogo da Johns Hopkins, chama isso de "casamento de arremate". "O arremate é o último tijolo que você coloca no lugar para construir um arco. O casamento costumava ser o primeiro passo para se tornar adulto. Agora, com frequência é o último", diz Cherlin. "Para vários casais, o casamento é uma coisa que você faz quando está com o resto de sua vida pessoal em ordem. Quando você reúne família e amigos para celebrar."

A infância e a adolescência parecem estar se tornando mais demoradas na era moderna e o mesmo acontece com o namoro e o caminho para o comprometimento, explica Fischer. "Com esse longo estágio pré-compromisso, você tem tempo para aprender muito sobre si mesmo e sobre a maneira como lida com os parceiros. Então, na hora que entrar na igreja, já sabe como é e acha que pode manter isso", diz Fisher.

A maioria dos solteiros ainda anseia por um relacionamento romântico sério, mesmo que, em geral, possuam começos pouco ortodoxos, diz ela. Quase 70% dos solteiros pesquisados no Match.com recentemente como parte do oitavo relatório anual de solteiros nos Estados Unidos dizem que querem um compromisso.

É namoro ou amizade?

Divulgado no começo do ano, o relatório é baseado nas respostas de mais de cinco mil pessoas acima de 18 anos que moram nos Estados Unidos e foi consolidado pela firma de pesquisa de mercado Research Now com a colaboração de Fisher e de Justin Garcia, do Instituto Kinsey da Universidade de Indiana. Como acontece com o relatório do eHarmony, as descobertas são limitadas porque a amostra é representativa apenas de certas características, como sexo, idade, raça e região, mas não de outras como renda e educação.

Os participantes disseram que relacionamentos sérios começam de uma dessas três maneiras: com um encontro; com uma amizade; ou com um "amigo com benefícios", a amizade que envolve sexo. Mas os millenials eram um pouco mais propensos a fazer com que uma amizade ou uma amizade com sexo se tornasse um romance ou um compromisso.

Mais da metade dos millennials que disseram que estão em um relacionamento com amigos com benefícios explicaram que a amizade evoluiu para um relacionamento romântico, comparado com 41% dos integrantes da geração X e 38% dos baby boomers. E cerca de 40% dos millennials disseram que foi uma amizade platônica que se tornou um relacionamento romântico, com quase um terço desses afirmando que essa ligação romântica evoluiu para um compromisso.

Alan Kawahara, de 27 anos, e Harsha Royyuru, de 26, se conheceram no final de 2009 quando começaram o programa de arquitetura de cinco anos na Universidade Syracuse e foram colocados na mesma aula intensiva de design do primeiro ano, com quatro horas por dia, três dias por semana.

Rapidamente, os dois se tornaram parte do mesmo círculo de amigos íntimos e, apesar de Royyuru se lembrar de ter sentido "uma paixão muito óbvia por Alan imediatamente", eles começaram a namorar apenas no ano seguinte.

Depois da formatura, quando Kawahara conseguiu um emprego em Boston e Royyuru um em Kansas City, eles mantiveram o relacionamento voando entre as duas cidades a cada seis semanas para se encontrar. Depois de dois anos, finalmente conseguiram se mudar para Los Angeles juntos. Royyuru diz que apesar de a distância ter sido um desafio, "foi incrível para nosso crescimento pessoal e para nosso relacionamento. Isso nos ajudou a descobrir quem somos como indivíduos".

Durante uma viagem recente para Londres para comemorar o sétimo aniversário juntos, Kawahara a pediu oficialmente em casamento. Agora, os dois estão planejando um casamento que vai unir tanto as tradições indianas da família de Royyuru quanto as japonesas-americanas da de Kawahara. Mas a festa ainda vai demorar um tempo. "Estou falando para meus pais que será daqui a uns 18 meses, no mínimo. Eles não ficaram muito entusiasmados, mas eu sempre fui muito independente", diz Royyuru.

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