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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Você é um atleta pessimista? Relaxe e peça ajuda

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Gretchen Reynolds

Do New York Times

30/05/2018 14h12

Atletas que costumam ser ansiosos, duvidam de si mesmos e são propensos a erros costumam enfraquecer a si mesmos, segundo novo estudo de personalidade e desempenho esportivo. Porém, esses atletas, que podem ser descritos como tendo uma personalidade do "tipo D" podem lucrar aprendendo formas diferentes de lidar com o estresse da competição, afirmam pesquisadores.

A ideia dos tipos de personalidade é familiar para a maioria das pessoas. Já ouvimos falar das do tipo A, que costumam ser motivadas, impacientes, ambiciosas e agressivas, enquanto as do tipo B são sossegadas, passivas e tolerantes.

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Essas caracterizações não são diagnósticos psiquiátricos formais, mas conceitos de psicologia popular sobre como as pessoas reagem à vida e ao estresse. Em alguns estudos, elas foram vinculadas a vários efeitos sobre a saúde, incluindo riscos de doença cardíaca.

E, na verdade, há cerca de 20 anos, psicólogos da Universidade de Tilburg, na Holanda, foram os primeiros a identificar a personalidade do tipo D após notar que muitos pacientes cardíacos apresentavam determinados traços de personalidade.

Os pesquisadores observaram que tais pacientes tendiam a ser pessimistas, resignados, preocupados e retraídos, como Bisonho (ou Ió), o melancólico burro cinza da turma do Ursinho Pooh. Emocional e socialmente introvertidos, eles relutavam em expor os sentimentos às famílias ou médicos. Podem estar desamparados ou esgotados, mas preferem não tocar no assunto, mas obrigado pela atenção.

Atleta sem confiança - iStock - iStock
Pessoas com características do tipo D são mais ansiosas, inseguras, lentas e inaptas
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Os pesquisadores holandeses descreveram tais traços --melancolia combinada com inibição emocional-- como tipificando a personalidade dos angustiados, o tipo D.

Desde então, vários cientistas estimaram que, entre 20 e 30% das pessoas têm características do tipo D e que estas elevam o risco de doença cardíaca e reduzem a probabilidade de que o indivíduo seguirá o tratamento. Pessoas identificadas como tipo D também costumam ser sedentárias, como mostram alguns estudos, em parte porque se consideram inadequadas para participar de atividades físicas.

Contudo, nunca se havia investigado se ter esse tipo de personalidade afeta o desempenho atlético. Assim, para o novo estudo, publicado em abril no periódico PLOS One, pesquisadores da Universidade de Tecnologia Queensland, de Austrália, entre outras instituições, reuniram quase 500 atletas tarimbados, homens e mulheres, a maioria universitária, e perguntou acerca de seus sentimentos. Mais especificamente, pediram para completar um questionário de personalidade com avaliações como "faço contato fácil quando conheço pessoas" e "geralmente me sinto infeliz".

Eles também fizeram os atletas avaliar os momentos estressantes mais recentes durante a atividade esportiva, usando conceitos de baixo nível de estresse a extremamente estressante. Por fim, para uma parte separada da experiência, os pesquisadores pediram a mais 32 atletas masculinos que preenchessem a avaliação de personalidade bem como outro questionário que aprofundava a confiança atual e os níveis de estresse.

A seguir, os homens fizeram um exercício esportivo complicado e desconhecido, envolvendo chutar bolas e dar piques, enquanto eram pressionados e observados. Posteriormente, os homens preencheram o questionário final sobre como haviam se sentido durante o treino.

Ao analisar os dados resultantes, os pesquisadores constataram que 140 dos atletas do primeiro grupo se caracterizavam como do tipo D. Tais atletas apresentavam uma propensão muito maior do que os outros de avaliar um incidente relativamente pequeno, tais como um treinador estar doente e perder uma partida, como extremamente estressante.

Igualmente, quase 30% dos atletas no segundo grupo tinham características do tipo D e relataram maior ansiedade e menos autoconfiança antes do exercício do que os outros. Eles também foram mais lentos e levemente mais ineptos durante a sessão e, posteriormente, expressaram no questionário que se sentiam resignados por não terem se saído bem e não desejavam pensar nos erros.

Essa reação, que os pesquisadores designam como "resignação/retraimento" provavelmente não é a reação mais eficaz no treinamento esportivo, afirma Erika Borkoles, professora assistente da Universidade de Tecnologia Queensland, que dirigiu o experimento.

Pessimista; esporte - iStock - iStock
Para essas pessoas, um incidente relativamente pequeno, como um treinador estar doente, é extremamente estressante
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"Quem sente estresse ao cometer um erro técnico ou porque o técnico fica gritando e depois tenta bloquear isso, não resolve o problema", ela afirma. Segundo a professora, é melhor perguntar diretamente ao treinador qual é o erro e como melhorar.

Todavia, é claro, personalidades do tipo D não são dadas a interações sociais fáceis nem com os técnicos nem com os colegas de equipe, acrescenta Borkoles.

Ainda segundo ela, talvez a implicação de seus resultados é que técnicos, colegas, pais e outras pessoas poderiam ficar de olho nos atletas que costumam se retrair e se autorrecriminar e dar início a conversas gentis sobre como aprimorar concretamente a habilidade. E também lembrá-los de que devem relaxar, ela afirma.

Sem dúvida, mesmo com as centenas de atletas envolvidos, as duas experiências são relativamente pequenas e não conseguem provar que ter traços de personalidade do tipo D afete diretamente como os atletas se sentiram e atuaram, mas só que estavam associados.

O estudo também não consegue afirmar se a personalidade do tipo D é real ou permanente. Muitos de nós podemos ter às vezes elementos do Bisonho em nossos pontos de vista e sermos animados em outros instantes.

Contudo, a descoberta indica que, quando nos sentimos incompetentes ou derrotados durante esportes e atividades, pode ser melhor pedir ajuda e sugestões.

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