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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


"Me deram só 1 ano de vida, mas enfrento o melanoma por amor à minha filha"

Juliana Moro descobriu o câncer quando estava grávida e luta contra a doença há quatro anos  - Arquivo pessoal
Juliana Moro descobriu o câncer quando estava grávida e luta contra a doença há quatro anos Imagem: Arquivo pessoal

Vivian Ortiz

Do VivaBem, em São Paulo

22/05/2018 04h00

A artista plástica Juliana Moro, 34, foi diagnosticada há quatro anos com um melanoma maligno --espécie de câncer de pele-- durante a gestação de sua primeira filha. Ao VivaBem, ela conta como o carocinho no couro cabeludo mudou sua vida completamente e o que fez para superar as adversidades

"Fiquei grávida em 2013. Tudo corria bem até que percebi um pequeno caroço na parte de trás da cabeça, na altura de onde se prende o rabo de cavalo. Lembrava uma espinha e meu marido e eu até tentávamos apertar, mas não sumia. Também não doía. Chegou a coçar uma época, então passava uma pomada qualquer. Só que o carocinho sumia e voltava. Apenas quando sangrou decidi procurar o médico, que me recomendou uma biópsia. 

Na época, tive um deslocamento da placenta, e a médica pediu para não fazer naquele momento, pois provavelmente não seria bom para a gestação passar pelo procedimento. Quando cheguei aos seis meses, no final do ano, fui atrás disso e recebi a notícia de que tinha um melanoma maligno. Foi um grande susto, pois não fazia ideia do que era isso e estava com muito medo por conta da gravidez.

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Lembro me da médica me avisar de uma forma bastante emotiva, ressaltando que era algo extremamente grave. Tanto que me encaminhou para o hospital AC Camargo, em São Paulo (SP) --referência no tratamento oncológico --, mas eu precisaria aguardar duas semanas até a data agendada para a consulta. Como estava muito desesperada, marquei horário com uma oncologista particular, que me deixou ainda mais assustada.

Para ela, seria necessário eu ter o bebê naquele momento, com seis meses de gestação, para fazer logo a cirurgia e retirar nódulo. Além disso, avisou que minha expectativa de vida seria de até um ano. Entrei em pânico, claro!

Adiando o tratamento

No entanto, ao ver o médico do AC Camargo, a história mudou um pouco. Ele explicou que meu caso realmente era grave, mas que poderia esperar mais um mês para ter a bebê, tempo mínimo necessário para que nós duas não corrêssemos tantos riscos. No final, quis aguardar mais um pouquinho para ela nascer de oito meses. Todo mundo da família brigou comigo e não concordou com minha decisão, mas aguardei.

Minha filha foi direto para a UTI e eu passei uma semana acompanhando ela. Saia apenas para fazer exames. A minha cirurgia aconteceu uma semana depois do nascimento. Na hora que meu telefone tocou, com minha mãe avisando da alta da bebê, o médico veio me chamar para a cirurgia. Foi um alívio, pois me preocupava muito com o estado dela. O meu procedimento foi bem demorado, durou cerca de cinco horas, pois o couro cabeludo é cheio de terminações nervosas.

Tive que raspar a cabeça, passar mais de 15 dias com a cabeça toda enfaixada, em uma recuperação bastante complicada. Era difícil comer, pois tive que fazer uma pesquisa no linfonodo do pescoço, e o corte incomodava. Fora o corte da cesária. Foi bem difícil esse período. Na hora de tirar a faixa, vi que os médicos retiraram uma parte muito grande do couro cabeludo, deixando uma parte bem fina de pele, onde não nasce mais cabelo.

O corte deixado pela retirada do melanoma tinha o diâmetro de um limão. A recuperação foi bem lenta, mas deu certo. Comecei o tratamento com o oncologista, mas, seis meses depois, descobrimos uma metástase no osso da bacia, depois outra em dois pontos do intestino. No mês seguinte, mais uma metástase nos ossos.

Fiz diversos tratamentos, com muitos efeitos colaterais, e em novembro de 2017 precisei até colocar uma prótese no fêmur. Mas foi tudo tão bem que, em fevereiro desse ano, já estava pulando Carnaval. Tudo começou com o melanoma, mas o câncer foi se alastrando de várias formas.

Visão positiva

Juliana Moro busca qualidade de vida - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Juliana Moro busca qualidade de vida
Imagem: Arquivo pessoal

Hoje, do pescoço para baixo, está tudo certo. O problema é que a medicação não consegue combater as metástases no cérebro. Atualmente tenho 10 nódulos na região, e estou fazendo todos os meus exames novamente, para ver como está tudo. No começo, lutava pela cura da doença, hoje, luto para ter qualidade de vida para apenas viver e ver minha filha crescer.

É tudo muito maluco. Eu trabalhava bastante, me preparava para ter a minha primeira filha e aí veio a doença, fazendo os planos mudarem. Mas as coisas vão fluindo e acontecendo. Estou há quatro anos nessa e minha filha acompanhou tudo. Ela não sofre e se diverte quando vou para o hospital, pois acha legal me visitar em um lugar onde a cama se mexe. É tudo muito natural: ela entende quando não estou bem e se empolga comigo nos períodos de recuperação.

O fato de ter vivenciado isso sendo mãe me ajudou a tirar o foco da doença por alguns momentos, me motivando a não desistir e me tirando desse universo para me fazer pensar em vida. Também foi fundamental conhecer o pessoal da ONG Melanoma Brasil, onde sou vice-presidente hoje. Precisamos tirar a ideia de que é algo pequeno, que se cura com pomadinha.

Financeiramente, mudou tudo, pois precisei me afastar do trabalho, perdi o salário que tinha... Não tenho condições de trabalhar da forma tradicional, mas dentre toda essa bagunça que virou minha vida, participar das atividades da ONG me preenche.

No meu caso, o câncer de pele não teve relação com sol, foi genético. Não tenho histórico familiar de câncer ou melanoma. A primeira biopsia que fiz, se tivesse sido da forma correta, sem a cauterização no lugar, talvez não tivesse se espalhando tanto. É muito importante a prevenção e é por isso que sempre faço questão de dar o meu depoimento."

Problema desconhecido

O melanoma é um tipo de câncer de pele que atinge os melanócitos, células produtoras de melanina, e pode levar à morte devido à grande possibilidade de metástase. O INCA (Instituto Nacional do Câncer) indica que 6.260 novos casos de melanoma serão diagnosticados entre 2018 e 2019 no Brasil.

Uma pesquisa inédita, encomendada pela Bristol-Myers Squibb para o Instituto Datafolha, revelou que 78% da população brasileira não sabe o que é melanoma. Segundo o estudo, a população também não consegue identificar corretamente os fatores de risco, colocando apenas o sol como o grande vilão. 

De acordo com o dermatologista Elimar  Gomes, membro do Comitê Cientifico do Instituto Melanoma Brasil, a exposição solar desprotegida e as consequentes queimaduras solares realmente são responsáveis por até 90% dos casos de melanoma, porém, existem ainda dois outros fatores de risco para melanoma que não são evitáveis: histórico familiar e pessoas que possuem grande quantidade de pintas, chamadas pelos médicos de nevos.

"Não temos como evitar o melanoma nessas duas situações, mas um diagnóstico precoce eleva a chance de cura", explica o médico. "Para isso, usamos a dermatoscopia --aparelho que aumenta a imagem da pinta de 10 a 20 vezes -- e o mapeamento corporal total para acompanhamento desses pacientes e diagnóstico mais fácil."

Segundo Gomes, o câncer de pele pode acontecer em qualquer área do corpo, por mais inusitada que seja. Assim, devemos nos atentar em todas as lesões, não apenas pintas. "Qualquer novidade, como um carocinho ou ferida que não cicatriza, é suspeita", diz. No caso de Juliana, ele diz que o couro cabeludo não é uma área muito comum para o aparecimento do câncer de pele, mas isso pode acontecer.

"A questão é que não conseguimos fazer o autoexame nessa área, o que faz o melanoma ser descoberto em uma fase mais avançada", diz o dermatologista. "Por isso, é importante pedir para que o cabeleireiro olhe nosso couro cabeludo toda vez que vamos cortar o cabelo, por exemplo. Encontrou algo estranho? Procure o médico."

Como posso prevenir?

  • Evite a exposição excessiva ao sol das 10h às 16h, quando os raios do sol são mais intensos e perigosos.
  • Se não puder evitar, busque ficar na sombra sempre que possível, mesmo em dias nublados. Até quando o sol está encoberto, os raios UV estão presentes e ativos, oferecendo risco para a sua pele.
  • Consulte um dermatologista uma vez por ano, no mínimo, para um exame completo e, se necessário, obter o diagnóstico e o melhor tratamento.

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