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Dieta baixa em carboidratos e alta em proteína melhora diabetes tipo 1

A dieta recomenda focar em proteínas e limitar a ingestão de carboidratos para cerca de 30 gramas diárias - iStock
A dieta recomenda focar em proteínas e limitar a ingestão de carboidratos para cerca de 30 gramas diárias Imagem: iStock

Anahad O'connor

Do New York Times

21/05/2018 09h43

Como muitas crianças, Andrew Hightower, de 13 anos, gosta de pizza, sanduíches e doces. Mas ele tem diabetes tipo 1 e, há seis anos, para controlar seus níveis de açúcar no sangue, os pais o colocaram em uma dieta de baixo carboidrato e alta proteína. Sua mãe prepara pratos com ingredientes indicados para diabéticos, que não aumentam o açúcar no sangue, tais como pizza com farinha de amêndoa e pão caseiro com farinha de nozes, em vez da de trigo.

A dieta exige um planejamento cuidadoso; o garoto inclusive leva as próprias refeições para a escola, mas tanto ele como os pais dizem que ela facilita o gerenciamento de sua doença e, desde que começou, o controle de açúcar em seu sangue melhorou sensivelmente e não houve necessidade de ir ao hospital. "Faço isso para poder ser saudável", disse Andrew, que mora com os pais em Jacksonville, Flórida, acrescentando que vai continuar a seguir a dieta "quando sair de casa para ir para a faculdade".

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A maioria dos especialistas não recomenda dietas pobres em carboidratos para pessoas com diabetes tipo 1, especialmente crianças. Alguns temem que essa restrição possa levar a níveis perigosamente baixos de açúcar no sangue, condição conhecida como hipoglicemia, o que pode até retardar o crescimento; já o novo estudo publicado na revista Pediatrics sugere o contrário.

Ele mostrou que crianças e adultos com diabetes tipo 1 que seguiram uma dieta baixa em carboidratos e alta em proteína por, em média, um pouco mais de dois anos —combinada com a insulina em doses menores do que o normalmente exigido em uma dieta normal— controlavam o açúcar no sangue de modo "excepcional". Os pacientes apresentaram poucas complicações sérias, e as crianças que a seguiram durante anos não mostraram sinais de deficiência no crescimento.

O estudo constatou também que a hemoglobina A1C média dos participantes, um medidor em longo prazo dos níveis de açúcar no sangue, caiu para apenas 5,67%. Uma A1C menor que 5,7 é considerado normal, e está bem abaixo do limiar do diabetes, que é de 6,5%.

"O controle de açúcar no sangue parecia quase bom demais para ser verdade. Não é o que normalmente vemos nos casos de diabetes tipo 1", disse Belinda Lennerz, autora do estudo e professora de Endocrinologia Pediátrica no Hospital Infantil de Boston e na Faculdade de Medicina de Harvard.

O novo estudo vem com uma ressalva importante: foi observacional, e não randomizado com um grupo de controle. Os pesquisadores recrutaram 316 pessoas, 130 delas crianças cujos pais deram seu consentimento, em um grupo de Facebook chamado TypeOneGrit, dedicado a dietas de baixo carboidrato para o diabetes.

"Talvez a surpresa seja que, para esse grande número de pacientes, uma dieta baixa em carboidratos é muito mais segura do que sugerem muitos especialistas", disse David M. Harlan da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, que não estava envolvido no estudo. E acrescentou: "O estudo deveria reabrir a discussão sobre a possibilidade de essa opção ser oferecida a nossos pacientes como abordagem terapêutica".

Os autores do estudo advertiram que as conclusões não devem levar os pacientes a alterar o gerenciamento do diabetes sem consultar o médico, e que serão necessários grandes ensaios clínicos para ver se a iniciativa pode ser usada mais amplamente.

"Achamos que as descobertas apontam para uma nova opção de tratamento bem animadora, mas como nosso trabalho foi observacional, os resultados por si só não devem justificar uma mudança no tratamento", disse David Ludwig, coautor do estudo e endocrinologista pediátrico do Hospital Infantil de Boston, que escreveu livros populares sobre dietas de baixo carboidrato.

Diabetes - iStock - iStock
Quem seguiu a dieta relatou que o controle de açúcar no sangue melhorou sensivelmente
Imagem: iStock

Dificuldades incluem aumento de colesterol

Aproximadamente 1,25 milhão de americanos têm diabetes tipo 1, que ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente para regular os níveis de açúcar no sangue; ela então precisa ser administrada ao longo do dia, especialmente quando são consumidas refeições ricas em carboidratos, que elevam esses níveis mais do que outros nutrientes. Ao longo do tempo, essas taxas crônicas podem levar a danos neurológicos e renais e a doenças cardiovasculares.

A abordagem padrão para pessoas com diabetes tipo 1 é combinar a ingestão de carboidratos com insulina. O argumento para a restrição é que ela estabiliza o açúcar no sangue e exige menos insulina, resultando em menos altos e baixos. O tratamento não foi amplamente estudado ou adotado para o diabetes tipo 1, mas alguns pacientes não abrem mão dele.

A página TypeOneGrit no Facebook tem cerca de três mil membros que seguem um programa elaborado por Richard Bernstein, médico de 84 anos com diabetes tipo 1. Seu livro, "Dr. Bernstein's Diabetes Solution", recomenda limitar a ingestão de carboidratos para cerca de 30 gramas diárias, a quantidade existente em uma batata doce, ou cerca de quatro ou cinco xícaras de brócolis cozido. Bernstein recomenda alimentos como legumes sem amido, marisco, nozes, carne, iogurte, tofu e receitas feitas com farinha de amêndoa, substitutos do açúcar e outros ingredientes de baixo índice glicêmico. Seu plano enfatiza a ingestão de proteínas, o que ele diz ser especialmente importante para crianças em crescimento.

O achado mais marcante do novo estudo foi que os níveis de A1C, em média, caíram de 7,15%, na faixa do diabetes, para 5,67%, considerado normal. A taxa de hospitalizações relacionadas ao quadro também caiu, de 8% antes da dieta para 2%, incluindo menos hospitalizações por convulsões hipoglicêmicas.

Quem segue a dieta teve um aumento do colesterol LDL, provavelmente por consumir mais gordura saturada, o que alguns especialistas disseram ser preocupante, exigindo um estudo mais aprofundado, mas outros fatores de risco de doença cardíaca pareciam favoráveis: tinham níveis elevados de colesterol HDL, o tipo protetor, e baixos índices de triglicérides, o tipo de gordura no sangue ligada a males cardíacos.

Joyce Lee, especialista em diabetes da Universidade de Michigan, não envolvida no estudo, disse que os resultados foram impressionantes e merecem um aprofundamento, e que os pacientes que queiram explorar essa abordagem de baixo carboidrato podem fazê-lo com a monitoração de sua equipe médica. Porém também observou que os pacientes do novo estudo eram um grupo "altamente motivado", e que seria difícil para muitas pessoas adotar esse tipo de regime restritivo.

"A realidade é que é realmente difícil seguir essa dieta de baixo carboidrato por causa de nossas normas culturais", disse Lee, professora de Pediatria da Universidade de Michigan.

Em uma entrevista, Bernstein, um dos autores do estudo, disse que o demonstrado foi o que ele vê em sua clínica: que existem diabéticos nesse regime "que andam por aí com o açúcar no sangue em níveis normais e que estão felizes com isso, saudáveis e crescendo, no caso das crianças".

Derek Raulerson, 46 anos, gerente de recursos humanos no Alabama, concorda. Ele e o filho, Connor, de 13 anos, têm diabetes tipo 1. Raulerson disse que lutou vários anos para controlar o açúcar no sangue, mas, há seis, abriu mão de sucos, pães, batatas e outros carboidratos simples e fez da proteína e dos legumes sem amido o foco de suas refeições. Segundo ele, desde que começou essa dieta, perdeu peso, cortou pela metade a quantidade de insulina que usa diariamente e viu seu índice de A1C cair dos níveis de diabetes para níveis normais. "Agora, meu açúcar no sangue é normal. Já não estou na montanha russa", disse ele.

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