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Crianças também se lesionam; veja como prevenir machucados mais sérios

Para reduzir o risco de ferimentos, dizem os médicos, é preciso levar em conta as diferenças físicas e fisiológicas entre crianças e adultos - Caroline Gamon/The New York Times
Para reduzir o risco de ferimentos, dizem os médicos, é preciso levar em conta as diferenças físicas e fisiológicas entre crianças e adultos Imagem: Caroline Gamon/The New York Times

Jane E. Brody

Do New York Times

18/05/2018 09h42

Poucos pais matriculam os filhos em esportes organizados esperando que se machuquem. Contudo, as crianças se machucam com frequência e, às vezes, as lesões podem fazer os jovens atletas ficar meses ou uma temporada inteira sem atuar, prejudicando uma participação futura. Os efeitos de lesões esportivas podem chegar até a vida adulta.

"Lesões são tidas como uma parte inevitável dos esportes. Contudo, como outras, as esportivas podem ser evitadas", disse Terry A. Adirim, especialista em medicina esportiva e atual especialista em saúde do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, e Tina L. Cheng, diretora de pediatria da Faculdade de Medicina Johns Hopkins.

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Conforme escreveram no periódico Sports Medicine, reduzir o risco de lesão exige levar em consideração as diferenças físicas e fisiológicas entre crianças e adultos, diferenças essas que podem deixar os mais novos vulneráveis a machucados. Crianças têm cabeças maiores comparativamente ao tamanho do corpo, a cartilagem em formação é mais suscetível ao esforço e a maioria não tem "as complexas habilidades motoras necessárias para determinados esportes até após a puberdade".

Em um guia de segurança para jovens atletas, a Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos assinala que os "ossos, músculos, tendões e ligamentos das crianças ainda estão crescendo", o que as torna mais suscetíveis a lesões. As placas do crescimento, a cartilagem na ponta dos ossos longos onde acontece o crescimento ósseo, são especialmente suscetíveis a lesões que podem impedir o crescimento normal.

"Uma torção no tornozelo que pode acarretar em luxação para um adulto, pode resultar em uma fratura mais grave na placa do crescimento em um atleta jovem", enfatiza a organização. Além disso, crianças não têm o nível de coordenação, força e resistência.

Exame médico, aquecimento e descanso

Muitos pais querem que os filhos colham os frutos da participação em esportes. Além de conviver com colegas e melhorar a autoestima, a prática esportiva estimula a saúde infantil como um todo, a densidade óssea e reduz o risco de sobrepeso, diabetes, doença cardiovascular, depressão, comportamento de risco e gravidez adolescente, observou Cynthia Bella, ortopedista pediátrica da Faculdade de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern, e uma das autoras de um artigo sobre prevenção a lesões em atletas jovens publicado no periódico British Journal of Sports Medicine.

Assim, o objetivo deve ser tomar todas as precauções possíveis para evitar lesões esportivas --ou ao menos minimizar a severidade-- e manter as crianças participando. Em primeiro lugar, pais e treinadores devem criar uma atmosfera de competição saudável, com ênfase na cooperação, autoconfiança e diversão saudável em vez de se concentrar apenas em vencer. As crianças precisam aprender a lidar com a derrota e a vitória.

Em segundo lugar, atletas jovens precisam se esforçar para estar em boas condições físicas para o esporte escolhido. Isso significa começar com um exame médico preventivo antes do começo da prática que pode revelar problemas potenciais, depois seguir um programa de condicionamento orientado que envolva exercícios para os esportes escolhidos.

Toda criança deve conhecer e obedecer as regras do jogo e sempre usar equipamento protetivo. Os jogos devem começar com um aquecimento para evitar lesões nos tecidos "frios". Descanso adequado de antemão é sempre importante --jogadores cansados não pensam claramente nem jogam bem-- e uma boa hidratação é essencial durante a prática.

Alimentação é essencial

Também devo mencionar a importância da boa nutrição. Crianças com deficiência em vitamina D, por exemplo, apresentam uma possibilidade 3,7 vezes maior do que as com níveis normais de vitamina de sofrer fraturas que envolvem cirurgia reparadora, relatou em reunião recente com cirurgiões ortopédicos o Pooya Hosseinzadeh, ortopedista pediátrico da Universidade Washington, em St. Louis. Em seu estudo com cem jovens com fratura no antebraço resultante de baixo impacto (como cair de um local alto), 49% tinham deficiência de vitamina D e metade deles precisou ser operada.

Entrevistado, Hosseinzadeh declarou: "As crianças não tomam mais sol o suficiente hoje em dia, e não estão consumindo frutos do mar e leite fortificado na quantidade necessária", as principais fontes de vitamina D. Quando o nível de vitamina D é baixo, a absorção de cálcio é prejudicada e o corpo pega o mineral dos ossos para manter um nível adequado no sangue. "Os ossos ficam mais fracos e quebram com maior facilidade", explica.

Elizabeth Matzkin, cirurgiã ortopédica e chefe de medicina esportiva feminina do Hospital Brigham and Women's, Chicago, também enfatizou a importância de comer direito. "A energia que entra deve ser adequada com a que sai. Caso contrário, a saúde óssea pode sofrer, resultando em lesões nos ossos. O banco ósseo da pessoa só é construído até os 25 anos de idade. Não queremos que as crianças comecem com déficit."

Varie os esportes escolhidos

Provavelmente a lesão mais comum em atletas jovens resulta de esforço repetitivo, provocado por esforço indevido em determinadas partes do corpo, como nos tecidos do cotovelo de um jogador de beisebol infantil. A lesão por esforço repetitivo acontece quando a criança emprega repetidamente os mesmos grupos musculares e aplica o mesmo esforço sobre uma parte específica do organismo, resultando em desequilíbrios musculares e tempo inadequado para sarar. As lesões por esforço repetitivo mais comum são canelite e tendinite no calcâneo.

Para evitar tais lesões, Matzkin recomenda a "diversificação – jogar vários esportes e em diferentes posições para não fazer o mesmo movimento corporal repetidas vezes". Ela e outros especialistas recomendam que crianças com menos de 16 anos não pratiquem um esporte por mais horas por semana do que sua idade em anos. Crianças que participam de mais de um time em uma temporada sofrem risco elevado de lesão. O mesmo também vale para quem joga e treina o mesmo esporte o ano inteiro, sem descanso para o tecido cansado se recuperar e sem atividades diversas que usem outras partes do corpo.

Participar em esportes diferentes ajuda os jovens a desenvolver uma "biomecânica boa", o que reduz o risco de lesões, afirma Matzkin.

As crianças nunca devem ser incentivadas a jogar com dor, e a dor persistente nunca deve ser ignorada, asseguram especialistas. "Quer uma lesão seja aguda ou resultante de esforço repetitivo, quem desenvolve um sintoma que persiste ou que afeta seu desempenho esportivo deve ser examinado por um médico. Uma criança nunca deve 'aguentar a dor'", explica o grupo de ortopedistas.

O diagnóstico preciso da dor de um jovem atleta pode exigir um especialista ortopédico porque a dor de uma lesão motora repetitiva pode se desenvolver em outro ponto do corpo e não no local da lesão. Dor no joelho, por exemplo, pode ser resultado de lesão no quadril.

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