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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


Sem uma perna, Alex disputa corridas e joga futebol para inspirar pessoas

Alex corre 5K e quer completar os 21K até o fim do ano - Arquivo pessoal
Alex corre 5K e quer completar os 21K até o fim do ano Imagem: Arquivo pessoal

Vivian Ortiz

Do VivaBem, em São Paulo

25/04/2018 04h00

Alex Fabiano Nascimento da Silva, de 40 anos, perdeu a perna em um acidente quando era adolescente. Mas isso não impediu o ourives de praticar esportes, uma de suas paixão. Hoje, ele faz exercícios para ter mais saúde e motiva as pessoas com sua determinação:

"Fui atropelado por um ônibus quando andava de bicicleta em uma estrada em São João da Mata (BA), onde nasci e cresci. Era 1990 e eu tinha 13 anos. Desmaiei na hora e, apesar de ter acordado no momento do socorro, não me lembro de nada daquele dia. Todas as informações que sei são por causa das testemunhas do processo que acabou sendo aberto contra o motorista, que estava alcoolizado.

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Fiquei em coma durante nove dias e só fui despertar mesmo 15 dias depois do ocorrido. Ao saber que havia perdido a perna direita inteira --sobraram apenas 3 cm do fêmur-- não tive nenhum sentimento de revolta, mas sim de gratidão por estar vivo, apesar de tudo. Acredito que o fato de eu ser novo na época também me ajudou a aceitar o "destino" mais facilmente.

Sem limitações

Após dois meses internado em um hospital na capital, Salvador, voltei para casa. Sempre digo que certas coisas acontecem em nossas vidas para só entendermos o motivo depois. Na rua em que morava havia um rapaz que era deficiente físico e usava muleta e cadeira de rodas. Ele sempre estava com a turma e, antes de eu perder a perna, pegava a muleta dele para brincar. Acredito que isso acabou me ajudando lá na frente.

Era tudo muito natural para mim. Os amigos iam para represa? Eu ia junto. Antes de perder a perna, inclusive, eu não sabia nadar, era como uma pedra na água. Mas uma semana depois que voltei do hospital, fui com esses meninos para a barragem. Quando chegamos lá, todos saíram correndo e pularam na água. Não pensei duas vezes: larguei as muletas, pulei no rio e saí nadando. Foi incrível!

Em vez de caneladas, "muletadas" na pelada

A vida seguiu normalmente após o acidente. Até os 19 anos, inclusive, jogava futebol com o apoio das muletas contra outros jogadores sem deficiência. Batia ela na canela dos caras, usava para dominar a bola e jogava em qualquer tipo de campo. Foi bom porque meu corpo se acostumou com o esforço físico, me deixando com uma saúde ótima e nada acomodado com a nova vida.

Os médicos até sugeriram a possibilidade de usar uma perna mecânica, mas percebi que a muleta me trazia mais agilidade. Como a minha amputação é bem no começo da coxa, preciso usar uma prótese chamada desarticulação de quadril, que tem a mobilidade um pouco diferente das outras. Cheguei a utilizá-la por um tempo, mas desisti. Como a movimentação acaba sendo com o osso do quadril, e não da coxa, deixa a marcha lenta demais.

Com 27 anos, sai de Mata de São João e vim para Salvador. Acabei virando ourives, e ganho a vida fabricando alianças,  correntes etc. Também abri uma papelaria para a minha esposa, e quando não tenho serviço, vou ajudá-la. Praticamente em frente, mora o Luciano, que hoje é presidente do futebol de amputados da Bahia. Ele tinha o desejo de formar um time de aqui na região.

Quando ele me viu pela primeira vez, me convidou para a equipe. Mostrou que já havia campeonatos do tipo no Brasil todo e em outros países também. Topei a ideia e montamos o time na Bahia. Era janeiro de 2017. De lá pra cá, não paramos mais. Hoje, temos 30 atletas cadastrados no time.

Corrida de rua é nova paixão

Faço academia para manter a forma há mais de 15 anos, mas nunca gostei de correr. Só percebi o quanto a modalidade é importante para ter fôlego depois que o futebol para amputados fico sério. Então, decidi correr! Comecei caminhando para ganhar resistência, mas, ao ver os benefícios, parti para a corrida mesmo, no ano passado. Com isso, botei na cabeça que iria começar a disputar provas em 2018. Na minha primeira, uma corrida de 5 km em Salvador, não tinha ninguém com deficiência física participando, fora eu.

Foram dois mil inscritos, e fiquei na frente de 1200 pessoas. Completei o percurso em 36 minutos. Consigo correr mais rápido, mas como foi a minha primeira competição oficial, mantive o ritmo um pouco mais lento para terminar bem. Agora, minha meta é participar de uma prova de 10 km. A meta é completá-la em até 1h20. Também pretendo correr uma meia maratona (21, 097 km) e participar da tradicional Corrida de São Silvestre (15 km) até o final deste ano.

Corro pensando em quantas pessoas irão sair da vida sedentária depois de ver um "deficiente" fazendo exercício,  com muita saúde e determinação. Essa é uma das minhas maiores motivações para treinar quando a preguiça pensa em chegar!"

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