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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


A ciência já provou: mau humor pode abalar sua saúde e até tratamentos

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Imagem: iStock

Chloé Pinheiro

Colaboração para o VivaBem

11/04/2018 04h10

Se você é do tipo pessimista ou rabugento, eis um motivo de peso para povoar a cabeça com pensamentos mais positivos: a sua saúde. Sim, as evidências apontam que pessoas dominadas pelas emoções negativas têm mais risco de desenvolver uma série de doenças e até de ter um piripaque potencialmente fatal.

Veja este estudo publicado em 2014 no Stroke, periódico da Associação Americana de Cardiologia (AHA). Os pesquisadores avaliaram os níveis de estresse, sintomas depressivos, raiva e hostilidade de mais de 6 mil pessoas entre os 45 e os 84 anos e acompanharam a saúde do grupo pelos anos seguintes.

Eles notaram que o índice de derrames e ataques isquêmicos transitórios --entupimento temporário de um vaso sanguíneo do cérebro que é um precursor do AVC-- era significativamente maior em indivíduos mais tristes, estressados e hostis. Embora os mecanismos por trás dessa relação não estejam totalmente claros, é fato que pessimistas costumam estar tensos. E a tensão constante favorece o aparecimento de distúrbios como o diabetes e a hipertensão arterial.

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Estresse aumenta nível de cortisol no corpo

“O estresse crônico aumenta o nível de cortisol em circulação, hormônio que financia inflamações e, a longo prazo, afeta até a imunidade”, explica Paulo Camiz, geriatra e clínico geral do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Sem contar que, sob a perspectiva sempre negativa, a autoestima pode ser abalada e, aí, tendemos a cuidar menos de nós e, consequentemente, da saúde.

Ninguém está dizendo que o certo é ser feliz toda hora --até mesmo porque, sabemos, isso é praticamente impossível. O problema é quando os pensamentos negativos como hostilidade, cinismo, agressividade e outros passam a dominar a mente. “Se eles prevalecem, podem levar a uma depressão no futuro”, alerta Camiz. E ela, como se sabe, é outro fator de risco importante para doenças cardiovasculares

O lado bom do mau humor

Para os emburrados, vale esclarecer antes de tudo que nem todo mau humor é ruim. Pelo contrário, aliás. “Existem pessoas que são mal-humoradas naturalmente e, no geral, todo pensamento inclui também um lado negativo”, explica Luiz Scocca, psiquiatra membro da AAP (Associação Americana de Psiquiatria).

Segundo Scocca, ele pode ainda nos deixar mais focados, concentrados. Fora que não há nada de errado em sentir-se mal, triste, irritado, frustrado ou pessimista. “Há uma ilusão de que devemos estar contentes o tempo todo, satisfeitos, mas isso é impraticável, um conceito do qual devemos nos livrar”, aponta o médico.

Rir é o melhor remédio

Por outro lado, evidências a favor do pensamento positivo não faltam. E essa relação já é conhecida há anos. Em 2009, a mesma AHA publicou um estudo enorme, feito com quase 100 mil mulheres, dizendo que as otimistas tinham menos incidência de doenças cardiovasculares -- 43 casos a cada 10 mil mulheres, contra 60 no grupo das mais pessimistas.

As justificativas para esse elo também não estão bem estabelecidas, mas não há dúvidas de que, sim, otimistas vivem mais e melhor. “Uma pessoa otimista não se deixa abater e o corpo dela acaba de se estruturando de acordo com isso”, diz Camiz. O efeito está relacionado à resiliência, nossa capacidade de se recuperar das adversidades da vida.

O riso em si já trabalha em nome da saúde e bem-estar. “Dar risada libera endorfinas, neurotransmissores que têm efeito semelhante ao de um analgésico”, destaca Fábio Porto, neurologista do Hospital das Clínicas da USP. Não só as gargalhadas combatem a dor como podem ainda proteger o coração. Neste trabalho de 2016 da Universidade de Tóquio, no Japão, mais de 20 mil pessoas de 65 anos tiveram a saúde e a frequência das risadas estudadas.

E, mesmo excluindo outros fatores de risco como excesso de peso, depressão e hipertensão, a prevalência de males cardíacos entre os que quase nunca riam era mais alta do que a dos participantes que relataram rir todos os dias.