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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Ver brigas leves entre os pais causa danos permanentes nas crianças

Imagens como essa foram mostradas para os voluntários. - Brian Jenkins/University of Vermont
Imagens como essa foram mostradas para os voluntários. Imagem: Brian Jenkins/University of Vermont

Do VivaBem, em São Paulo

28/03/2018 13h42

Sabemos que pais que abusam física ou emocionalmente de suas crianças acabam tirando delas a capacidade de confiar nos outros ou mesmo de ler com precisão as próprias emoções. Mas e aqueles filhos que, apesar de bem tratados, vivem em um ambiente cheio de pequenos conflitos familiares?

Uma nova pesquisa, publicada no Journal of Social and Personal Relationships, mostra que o processamento emocional dessas crianças também pode ser afetado, tornando-as potencialmente supervigilantes, ansiosas e vulneráveis a distorcer as interações humanas de tom neutro. Tudo isso pode transformá-las em adultos menos equilibrados.

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No estudo, 99 crianças entre nove e onze anos de idade foram divididas em dois grupos com base em uma série de avaliações psicológicas realizadas, que pontuaram quanto conflito parental eles vivenciaram e como sentiram que essa briga ameaçava o casamento de seus pais.

Foram mostradas para as crianças, então, uma série de fotografias de casais envolvidos em interações felizes, raivosas ou neutras. Os pesquisadores pediram para escolher em qual categoria as fotos se encaixavam.

Dificuldade de interpretar expressões

Crianças que moravam em casas de baixo conflito consistentemente pontuaram as fotos com precisão. Já aquelas que viviam com muitas brigas experimentaram o conflito como uma ameaça, e foram capazes de identificar com precisão os casais felizes e irritados, mas não aqueles em poses neutras -- lendo-os incorretamente como zangados ou felizes, além de dizerem não saber em qual categoria se encaixam.

Alice Schermerhorn, professora assistente do Departamento de Ciências Psicológicas da Universidade de Vermont e principal autora do estudo, disse ao EurekAlert que vê duas interpretações possíveis dos resultados.

A primeira diz que tal imprecisão pode ser atribuída à hipervigilância. "A percepção de conflito e ameaça leva as crianças a ficarem atentas a sinais de problemas, o que pode levá-las a interpretar expressões neutras como irritadas ou simplesmente apresentar maiores desafios de processamento", explicou.

Outra possibilidade é que as interações parentais neutras sejam menos significativas para as crianças que se sentem ameaçadas pelo conflito dos pais. "Elas podem estar mais sintonizados em interações de raiva, que seria uma sugestão para se retirarem do local, por exemplo, ou para as felizes, que poderia sinalizar que seus pais estão disponíveis para elas", ressaltou. "Como interações neutras não oferecem muita informação, essas crianças podem não valorizá-las ou aprender a reconhecê-las."

O que os resultados podem significar?

"Ser supervigilante e ansioso pode desestabilizar a pessoa de muitas maneiras. Já a leitura correta das interações neutras pode não ser importante para as crianças que vivem em lares de alto conflito, mas essa lacuna no seu inventário perceptivo tende a ser prejudicial em experiências subsequentes como, por exemplo, ao lidar com professores, colegas e parceiros em relacionamentos românticos", explicou a pesquisadora. 

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