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Hipnose: como funciona o método que fez Laura da novela lembrar de abuso

Vinícius (Flavio Tolezani) e Laura (Bella Pietro) em "O Outro Lado do Paraíso" - Raquel Cunha/Divulgação/TV Globo
Vinícius (Flavio Tolezani) e Laura (Bella Pietro) em "O Outro Lado do Paraíso" Imagem: Raquel Cunha/Divulgação/TV Globo

Maria Júlia Marques

Do VivaBem, em São Paulo

07/02/2018 04h00Atualizada em 07/02/2018 14h21

Na novela “O Outro Lado do Paraíso” (Globo), a personagem Laura (Bella Piero) tem travas que a impedem de ter uma vida sexual saudável. Para tentar compreender de onde vem esse medo, por indicação de Clara (Bianca Bin), ela procura fazer sessões de hipnose e acaba recordando dos abusos que sofreu do padrasto, na infância.

Assim, aparece a dúvida: hipnose pode mesmo ajudar em casos de esquecimentos de situações traumáticas ou é coisa de ficção? O método é sério e pode ser ótimo, desde que feito com profissionais capacitados.

De acordo com o CFM (Conselho Federal de Medicina), a hipnose deve ser “executada por médicos, odontólogos [para dor] e psicólogos, em suas estritas áreas de atuação”. Portanto, não é qualquer pessoa que pode praticar, não basta ter um curso de hipnose e não ser formado em específicas áreas da saúde.

Na novela, Laura fez hipnose com a ajuda de uma advogada, interpretada pela atriz Julia Dalavia.

Formação do profissional não é frescura

O hipnólogo precisa ter uma base sobre como o cérebro funciona para não desencadear complicações e, principalmente, para saber administrar as consequências da hipnose.

Imagine no caso da personagem Laura, que reviveu uma cena trágica de abuso na infância. Quando ela voltar a si, precisará de suporte psicológico. Ou, então, quem tem epilepsia pode ficar suscetível a crises durante o procedimento e quem está aplicando a hipnose precisa saber como reagir.

Portanto, tenha cuidado na escolha do profissional, já que há muitos no mercado prometendo curas rápidas e pontuais para problemas graves. Hipnose não faz milagres e é assunto sério.

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Quando a hipnose é indicada?

A hipnose deve ser feita paralelamente a idas ao psicólogo ou psiquiatra e não sozinha, já que o método serve de instrumento de apoio ao tratamento. Não deve ser a opção principal. Você vai ao psiquiatra e uma história não vem à tona. Se sentir necessidade, o médico recomenda a hipnose pontualmente para relembrar esta história e usa os resultados para continuar o tratamento.

O Conselho especifica que a técnica pode ser utilizada para condições psicossomáticas, liberação de memórias reprimidas, alívio de dor, controle de hábitos (como tabagismo) e para amenizar ansiedade, estresse ou depressão.

Como é entrar em ‘transe’?

Hipnose - iStock - iStock
Imagem: iStock
Durante o procedimento, o ideal é baixar o nível de consciência e ficar em um estado entre o acordado e o dormindo, de acordo com Marco Antônio Brasil, chefe do serviço de psiquiatria e psicologia médica do hospital universitário Clementino Fraga Filho, no Rio de Janeiro.

Várias técnicas podem ser usadas para isso e a mais frequente é a de deixar o ambiente aconchegante, fechar os olhos, respirar fundo e ouvir o médico falar: “Foque só na minha voz”.

Ao ser guiado ao estado de hipnose, o paciente sente uma sonolência, os níveis dos hormônios de estresse caem e há o desligamento de radares cerebrais que funcionam quando estamos acordados e em plena consciência. Para decifrar a sensação, pense no sentimento de quando você entra no ônibus e começa a "viajar na maionese", vendo o trânsito, a chuva, os carros passando e, quando nota, já passou seu ponto. Você desliga acordado.

Nesse estado, o paciente passa a confiar quase que incondicionalmente no médico e fica mais aberto a sugestões, mais sujeito a ser influenciado. Mas não precisa ter medo, achando que obedecerá cegamente quem está ao seu lado. “A pessoa está ciente do que acontece, ela tem uma diminuição do senso crítico, mas ele funciona. Por exemplo, se estou em hipnose e meu médico desmaia, corro para socorrê-lo”, diz Osmar Colas, coordenador do grupo de estudos de hipnose da Unifesp, em São Paulo.

O profissional usa a sensibilidade da situação para modular os temas e criar respostas corporais. Se estiver analisando seus hábitos alimentares, por exemplo, ele pode pedir para que você pense em um brigadeiro. Você tem respostas psicológicas, uma memória narrativa (a imagem do doce) e emocional (se gosta ou não), e ainda respostas físicas, como estímulo da saliva. Investigando as reações, o profissional compreenderá melhor o quadro e, assim, poderá ajudar o paciente a superar a compulsão.

Conselho de Psicologia critica novela

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou nota em seu site, nesta segunda-feira (5), onde acusa a TV Globo de "prestar um desserviço à população brasileira" ao tratar com "simplismo" o sofrimento psíquico de personagem que sofreu de abuso sexual na infância. (Leia o comunicado, na íntegra, aqui)

O CFP se refere à história da personagem Laura (Bella Piero), em "O Outro Lado do Paraíso". A jovem ainda sofre com sequelas físicas e psicológicas dos abusos que sofreu do padrasto, Vinicius (Flávio Tolezani), na infância.

Na nota, o Conselho afirma que "é consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que têm a habilitação adequada."

Fontes consultadas para reportagem Hipnose pode curar traumas, mas profissional deve ser escolhido com cautela, publicada no dia 18 de outubro de 2017.

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