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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


O que acontece com o nosso corpo durante a execução de um exercício?

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Imagem: iStock

Gretchen Reynolds

Do New York Times

05/02/2018 16h01

Estudo mostra que há uma coordenação entre os órgãos durante a atividade física. A conclusão? Nossos corpos são mundos diferentes quando nos movemos e quando estamos parados.

Quando nos exercitamos, partes distantes de nosso corpo aparentemente se comunicam, graças a minúsculos balões cheios de partículas que se movem propositalmente através da corrente sanguínea de uma célula para outra, levando mensagens bioquímicas urgentes --isso de acordo com um novo estudo sobre a biologia do exercício físico.

A pesquisa, publicada neste mês na revista Cell Metabolis, ajuda a esclarecer alguns dos efeitos da atividade física na saúde de todo o corpo e também ressalta o quão fisiologicamente complexo é o processo.

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Há algum tempo, os cientistas suspeitam que os órgãos internos do corpo são tão comunicativos e conectados como qualquer turma de oitava série. Acredita-se que, nas condições ideais, as células de gordura conversem com células musculares, as células musculares falam com as células cerebrais e parece que todos querem ser amigos do fígado.

Essas interações são particularmente abundantes durante a atividade física, quando o movimento contínuo precisa da coordenação intrincada de muitos sistemas diferentes dentro do corpo, incluindo os que criam energia celular.

Mas a mecânica precisa do modo em que diferentes partes do corpo se comunicam durante o exercício (ou em outros momentos) permanecia surpreendentemente misteriosa. Os cientistas demonstraram que muitos tecidos despejam hormônios na corrente sanguínea, como a insulina, e outras proteínas se deslocam e iniciam processos fisiológicos em várias partes do corpo.

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Os órgãos internos do corpo são tão comunicativos e "conversam" durante o exercício
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Coordenação entre os órgãos

Mas essas ações não explicam toda a aparente coordenação entre os órgãos durante a atividade física. Recentemente, um grupo internacional de cientistas do Instituto de Pesquisa Médica Garvan em Sydney, na Austrália, (e outras instituições) começou a prestar atenção às vesículas.

As vesículas são glóbulos microscópicos dentro de células que contêm pequenos pedaços de material biológico. Elas são liberadas no sangue, e acreditava-se que elas continham o lixo celular, como se as células estivessem colocando o lixo para fora.

Mas agora os cientistas sabem que essas vesículas também podem conter coisas úteis, incluindo pequenas quantidades de material genético e proteínas que transportam mensagens biológicas para outras células.

Alguns pesquisadores especularam que a atividade física pode causar um aumento dessas vesículas, resultando em comunicações intercorporais que permitem que o corpo continue em movimento.

Mas essa ideia permaneceu especulativa até que, no novo estudo, o grupo de cientistas utilizou novas tecnologias para analisar o sangue de pessoas que se exercitam.

Primeiro, foram inseridos tubos nas coxas de 11 homens saudáveis para retirar sangue de suas artérias femorais. Eles, então, pedalaram por uma hora na bicicleta ergométrica a um ritmo cada vez mais difícil, enquanto os tubos continuavam a coletar sangue. Eles descansaram por quatro horas e, então, os cientistas extraíram mais sangue.

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Durante o exercício são liberadas vesículas contendo proteínas no sangue
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Os pesquisadores utilizaram novas e sofisticadas técnicas de amostragem para quantificar as proteínas e as vesículas no sangue dos homens que participaram do estudo. E notaram diferenças marcantes antes, durante e depois do exercício. Cerca de 300 tipos de vesículas contendo proteínas eram mais comuns durante o exercício, mas grande parte desaparecia após as quatro horas de repouso.

Já se sabia da importância da maioria dessas proteínas para o metabolismo e para a capacidade do organismo de regular a energia, mas elas ainda não haviam sido encontradas na corrente sanguínea de pessoas durante a atividade física.

E para onde as vesículas vão?

No entanto, não ficou claro nessa amostragem para onde essas vesículas e suas proteínas foram dentro do corpo e o que aconteceu quando lá chegaram. Assim, os cientistas se voltaram em seguida para ratos de laboratório --alguns correndo e outros sedentários.

Eles isolaram cuidadosamente vesículas do sangue de ambos os grupos de animais, adicionaram um marcador fluorescente para que elas brilhassem, injetaram-nas nas correntes sanguíneas de outros ratos e rastrearam o caminho das pequenas bolhas brilhantes.

A maioria das vesículas dos corredores foi direto ao fígado dos animais, guiadas por sinais biológicos que não eram óbvios, mas insistentes. Os cientistas perceberam que esse caminho fazia sentido biologicamente, já que o fígado ajuda a criar energia durante o exercício.

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Os cientistas descobriram como o fígado sabe que o exercício está em andamento e que células muito distantes desse órgão precisam de energia
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Quando injetaram vesículas do sangue dos ratos que correram diretamente nas células de fígado isoladas de outros ratos, foi possível observar como as paredes exteriores das vesículas se dissolveram e sua carga útil de proteína foi absorvida na célula do fígado. Ou seja, sua mensagem bioquímica foi efetivamente entregue.

Conclusão do estudo

Essencialmente, os cientistas descobriram que o exercício provoca a criação de vesículas que de alguma forma sabem se dirigir ao fígado e lhe dizer para aumentar a produção de energia.

"Esse estudo revela uma grande complexidade no sangue circulante durante o exercício que talvez tenhamos subestimado anteriormente", disse Martin Whitham, biólogo do Instituto Garvan, que liderou o estudo junto com Mark Febbraio, pesquisador do Instituto Garvan.

Os resultados também fornecem novas descobertas sobre como o exercício afeta genericamente nossos metabolismos, disse Whitham. Ainda não estava totalmente claro como, por exemplo, o fígado sabe que o exercício está em andamento e que células muito distantes desse órgão precisam de energia. O estudo fornece dados adicionais sobre essa questão.

Ainda assim, de acordo com Whitham, muitas perguntas permanecem, incluindo quais tecidos específicos essas vesículas criam e o que mais as pequenas bolhas contêm, provavelmente incluindo porções de genes ou mesmo alguma gordura que poderiam transmitir suas próprias mensagens únicas para outras células.

Mas a mensagem fundamental das descobertas é que nossos corpos são mundos diferentes quando nos movemos e quando estamos sedentários.

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