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Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Luto não deve ser encarado como algo a ser resolvido; veja como superá-lo

Paul Rogers/The New York Times
Imagem: Paul Rogers/The New York Times

Jane E. Brody

Do New York Times

18/01/2018 15h07

Embora muitos sejam capazes de falar sem rodeios sobre a morte, ainda temos muito a aprender sobre como lidar sabiamente com sua consequência: o luto --a reação natural à perda de um ente querido.

Poucas pessoas sabem o que dizer ou fazer que seja realmente útil para um parente, amigo ou conhecido que se encontra de luto. Na verdade, relativamente poucos que sofreram uma perda dolorosa sabem ajudar a si mesmos.

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Dois novos livros de psicoterapeutas que trabalharam extensivamente no campo da perda e do luto estão repletos de histórias e orientações que podem ajudar tanto quem sofre quanto quem tenta evitar muitas das armadilhas e mal-entendidos ligados a perda de alguém querido. As duas obras tentam corrigir pressupostos falsos sobre como e por quanto tempo o luto pode ser vivenciado.

Um livro, "It’s OK That  You're Not OK" [É Ok Você Não Se Sentir Ok, em tradução livre] , de Megan Devine, tem o revelador subtítulo: "Conhecendo a perda e o luto em uma cultura que não os compreende". Ele é fruto da perda trágica de seu marido, que se afogou aos 39 anos, quando a família estava em férias. O outro livro, especialmente esclarecedor ao falar sobre como as pessoas lidam com diferentes tipos de perdas, é "Grief Works: Stories  of  Life, Death and Surviving" [Reflexões Sobre o Luto: Histórias de Vida, Morte e Sobrevivência, em tradução livre], de Julia Samuel, que trabalha com famílias enlutadas em sua clínica particular e no Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra.

Os livros compartilham a mensagem mais reveladora. Nas palavras de Julia, "não existe certo ou errado no luto; nós precisamos aceitar qualquer que seja a forma que ele tome, em nós e nos outros". Reconhecendo que a perda é uma experiência universal, Megan acredita que "se pudermos começar a compreender a verdadeira natureza do luto, podemos ter uma cultura mais útil, amorosa e apoiadora".

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Embora muitos de nós possamos falar francamente sobre a morte, ainda temos muito a aprender sobre lidar sabiamente com suas consequências
Imagem: iStock

O luto precisa ser respeitado

As duas autoras enfatizam que o luto não é um problema a ser resolvido ou solucionado. Pelo contrário, é um processo a ser zelado e vivido em qualquer forma e duração que assuma.

"O processo não pode ser apressado por amigos ou familiares, por mais bem-intencionado que seja o desejo de aliviar a angústia da pessoa enlutada", escreveu Julia. "A recuperação e o ajuste podem levar muito mais tempo do que a maioria das pessoas percebe. Precisamos aceitar a forma que ele toma, em nós e nos outros."

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Todos podemos nos beneficiar aprendendo a como reagir ao luto de uma forma que não o prolongue, intensifique ou rejeite a dor. Igualmente, quem tenta ajudar precisa saber que o luto não pode ser encaixado em um período de tempo preordenado ou forma de expressão. Com frequência, pessoas que sofrem uma perda acabam sendo deixadas de lado porque seu pesar dura mais tempo do que os outros consideram razoável, ou porque permanecem contidos, parecendo não sofrer.

Por exemplo, imagino que alguns adultos consideraram "anormal" minha reação estoica à morte prematura da minha mãe quando eu tinha 16 anos. Na verdade, depois de cuidar dela durante um ano, durante o qual ela sofreu com um câncer irreversível, sua morte foi um alívio. Levou um ano para que eu conseguisse tirar minha armadura e prantear abertamente a perda incalculável. Contudo, 60 anos depois, ainda valorizo seu legado mais importante – viver cada dia como se o fosse último, mas pensando no futuro, caso não seja.

Da mesma forma, fiquei aliviada quando o sofrimento do meu marido terminou seis semanas após o diagnóstico de câncer incurável. Embora eu sinta muita falta dele, dei a impressão de que continuei vivendo como se pouco tivesse mudado. Poucas pessoas de fora da família mais próxima sabiam que eu estava cumprindo seu último pedido de continuar a viver completamente pelo meu próprio bem e de nossos filhos e netos.

Da mesma forma como todos nós amamos de um jeito singular, também sofremos a perda de um jeito que não pode caber em uma fôrma única nem em uma dúzia delas. No mês passado, James G. Robinson, diretor de análise global do "New York Times" descreveu uma viagem rodoviária terapêutica de quase dez mil quilômetros e 37 dias na qual levou a família após a morte do filho de cinco anos, coletando objetos comemorativos no caminho e dando a cada familiar a chance de expressar a raiva e a tristeza sobre a perda prematura.

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O luto é uma reação natural à perda de alguém amado
Imagem: iStock

Sentir dor é normal

Megan afirma que boa parte do apoio ao luto dado por profissionais e outras pessoas parte da perspectiva errada de encorajar a pessoa a deixar a dor de lado. Enquanto parentes e amigos querem naturalmente que você se sinta melhor, "a dor proibida de se expressar se volta para si mesma e cria mais problemas. A dor inconfessa e desconhecida não vai embora. A forma de sobreviver ao luto é permitir que a dor exista, sem tentar encobri-la ou apressá-la", escreveu ela.

Como uma mãe enlutada disse a Julia: "A gente nunca supera, apenas convive, e nunca deixa para lá, apenas segue em frente".

Megan concorda que ser "incentivado a 'superar' é uma das maiores causas do sofrimento dentro do luto". Em vez de tentar "curar" a dor, o objetivo deveria ser minimizar o sofrimento, o qual, segundo ela, "vem quando nos sentimos rejeitados ou desamparados na nossa dor, quando ouvimos que existe algo errado no seu sentimento".

Ela explica que a dor não pode ser "curada", que a amizade, não a correção, é a melhor forma de lidar com o luto. Ela incentiva quem quer ajudar a "testemunhar", a oferecer amizade sem fazer perguntas especulativas ou dar conselhos não solicitados, ajudar se for necessário e bem-vindo, e um ouvido amigo, não importa a frequência com que os enlutados queiram contar sua história.

Para quem vive o luto, ela sugere encontrar uma maneira não destrutiva de expressá-lo. "Se não conseguir contar sua história a outro ser humano, ache outro jeito: diário, pintura, transforme a dor em história em quadrinhos com uma narrativa sombria. Ou vá para o mato e conte às árvores. É um alívio imenso poder contar sua história sem alguém tentar curá-la."

Ela também sugere manter um diário que registre situações que intensifiquem ou aliviem o sofrimento. "Existem momentos em que você se sente mais estável, mais com os pés no chão, mais capaz de respirar dentro da sua perda? Alguma coisa – uma pessoa, um lugar, uma atividade – aumentam sua energia? De modo oposto, existem atividades ou ambientes que simplesmente pioram as coisas?"

Sempre que possível, para diminuir o sofrimento escolha se envolver com coisas que ajudem, e evite as que não.

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