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É preciso interromper a pílula por causa de câncer? Médicos esclarecem

Dois tipos de DIU e um implante hormonal - Whitney Curtis/The New York Times
Dois tipos de DIU e um implante hormonal Imagem: Whitney Curtis/The New York Times

Roni Caryn Rabin

Do New York Times

15/12/2017 14h26

Depois que um estudo dinamarquês relatou ter encontrado mais casos de câncer de mama entre mulheres que usam métodos contraceptivos baseados em hormônios, várias começaram a se perguntar quão significativo é o risco e quais são as alternativas.

A resposta será diferente para cada mulher e vai depender de fatores como idade, saúde geral e outros riscos para câncer de mama. Vários médicos que prescrevem contraceptivos, porém, dizem que não há motivos para alarme e que ninguém deveria jogar fora as pílulas e se arriscar a passar por uma gravidez indesejada.

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O aumento no risco de câncer de mama identificado no estudo entre as usuárias de hormônios foi pequeno. Para a vasta maioria de mulheres em seus 20 e 30 anos, o câncer de mama é normalmente raro, então, esse crescimento modesto no número não equivaleria a muitos casos adicionais.

E, apesar de as pílulas anticoncepcionais poderem aumentar ligeiramente as chances de desenvolver câncer de mama --e de terem sido associadas a um crescimento nas taxas de câncer cervical também--, a relação entre o contraceptivo e a doença é complexa.

Anticoncepcionais orais parecem reduzir a incidência de alguns cânceres menos comuns do aparelho reprodutor, como os do endométrio e de ovário, que são em geral detectados em estágios avançados, quando o tratamento se torna mais difícil. Existe alguma evidência de que as pílulas também podem diminuir as chances de desenvolver câncer colorretal.

Um estudo britânico com mais de 46 mil mulheres recrutadas em 1968, no início do uso da pílula, e acompanhadas por até 44 anos, descobriu que apesar do aumento dos cânceres de mama e cervical entre aquelas que usaram o contraceptivo oral, o efeito em taxas gerais de câncer foi neutro, porque outros tipos da doença foram reduzidos.

Câncer de mama - iStock - iStock
Pesquisas já haviam ligado as pílulas anticoncepcionais a um aumento modesto do câncer de mama décadas atrás
Imagem: iStock

Outros estudos chegaram à mesma conclusão

"Em conjunto, ao longo da vida da mulher, o uso de contraceptivo oral pode prevenir mais cânceres", do que causar, afirmou David J. Hunter, professor de Epidemiologia e Medicina da Universidade de Oxford, na Inglaterra, que escreveu um comentário no estudo dinamarquês publicado no The New England Journal of Medicine na semana passada.

"Existem bons dados para mostrar que cinco ou mais anos de uso de contraceptivos orais reduzem de maneira substancial o risco de ter cânceres de ovário e endométrio, e podem diminuir o câncer colorretal. E a proteção persiste por dez a 20 anos depois que a utilização cessa."

Embora as descobertas do novo estudo sobre câncer de mama sejam importantes, "esses resultados não são motivo de alarme", explica a doutora JoAnn E. Manson, professora de Saúde da Mulher na Escola de Medicina de Harvard e chefe de medicina preventiva do Hospital Brigham and Women’s.

"É realmente complicado olhar para um resultado isolado. A contracepção hormonal tem uma matriz complexa de benefícios e riscos, e você precisa avaliar o padrão geral."

O doutor Hal Lawrence, ginecologista, obstetra e executivo-chefe da Faculdade Americana de Obstetras e Ginecologistas, diz que sua principal preocupação é que o estudo "deixe as mulheres com medo da contracepção efetiva", o que pode resultar em gravidezes indesejadas.

"Nunca vamos eliminar os riscos potenciais que acompanham a medicação, mas conhecemos vários benefícios, e o primeiro deles é prevenir a gravidez indesejada e os riscos socioeconômicos atrelados a ela", diz Lawrence.

De algumas maneiras, os resultados do novo estudo não foram surpreendentes. Pesquisas já haviam ligado as pílulas anticoncepcionais a um aumento modesto do câncer de mama décadas atrás.

O surpreendente é que o risco persistiu mesmo com a nova pílula, que usa doses menores de estrogênio do que a primeira geração que chegou ao mercado, e que o aumento no risco tenha ocorrido mesmo em mulheres que não tomam hormônios por via oral, mas usam dispositivos intrauterinos implantados que liberam hormônio diretamente dentro do útero.

Várias mulheres mais velhas que já estão com a família completa e têm maior risco de desenvolver câncer de mama por causa da idade apelaram para os dispositivos intrauterinos exatamente porque queriam minimizar a exposição aos hormônios.

Anticoncepcional - iStock - iStock
Se você está usando contraceptivos orais por razões que não sejam o controle da natalidade, como menstruações irregulares, síndrome pré-menstrual ou acne, pense em parar com as pílulas, sugere uma médica
Imagem: iStock

Então, o que as mulheres devem fazer?

A seguir, alguns conselhos dos médicos entrevistados sobre as implicações da nova pesquisa.

– Em primeiro lugar, se você está preocupada, marque uma consulta para conversar com seu profissional de saúde. Pense sobre suas prioridades e preferências, sobre o estágio de vida em que se encontra, sobre os seus planos familiares e história médica, e encontre um médico com tempo para conversar a respeito de suas questões.

"Os profissionais em geral pensam que a preferência por métodos não hormonais é intrinsecamente não científica, e temos a tendência a descartar essa opção como infundada. Precisamos reconhecer que as mulheres possuem razões pessoais reais para suas preferências", explica a doutora Christine Dehlendorf, diretora do programa de contracepção centrado na mulher do Departamento de Família e Medicina Comunitária da Universidade da Califórnia, em San Francisco.

"Temos que confiar que as mulheres sabem quais são suas preferências, e quais suas habilidades para usar cada método e para escolher os que são a melhor opção para elas."

– Se você está usando contraceptivos orais por razões que não sejam o controle da natalidade, como menstruações irregulares, síndrome pré-menstrual ou acne, pense em parar com as pílulas, sugere a doutora Marisa Weiss, oncologista que fundou o site brestcancer.org. O problema já pode ter melhorado desde que você começou a tomar pílulas ou pode ser possível encontrar um modo de controlá-lo que não utilize hormônios.

– Se você usa dispositivo intrauterino, descubra se ele libera o hormônio progestagênio, implicado no estudo dinamarquês no aumento do risco de câncer de mama. Tanto os DIUs não hormonais como o Paragard (ou DIU de cobre) quanto os que liberam hormônios oferecem contracepção de longo termo reversível, segundo Manson. (Como o DIU pode ser eficaz por vários anos, é possível que algumas mulheres não se lembrem do tipo que estão usando.) Tenha em mente que os DIU que liberam hormônios têm o poder de deixar a menstruação mais leve, enquanto que com os não hormonais o fluxo pode aumentar.

– Se você não tem atividade sexual de maneira regular com um parceiro fixo ou está usando preservativo para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, pergunte a seu médico se esse pode ser um bom momento para dar um tempo da pílula. Uma das descobertas da pesquisa dinamarquesa foi que os riscos aumentaram com a maior duração do uso do hormônio.

– Pergunte ao médico sobre novas formas de contracepção e sobre métodos antigos, que saíram de moda, mas podem ser bons para você. O novo diafragma Caya, por exemplo, não precisa ser medido e pode ser comprado na farmácia com uma receita médica. Aplicativos são capazes de ajudar por meio de métodos de conscientização de fertilidade que aproveitam o rastreamento da temperatura corporal diária e do muco cervical (mas exigem motivação e disciplina). Esteja alerta porque vários médicos dizem que esses métodos são menos confiáveis do que a contracepção hormonal. Os DIUs e a esterilização são os modos mais eficazes para evitar a gravidez.

– À medida que você se aproxima dos 40 anos, pode discutir métodos não hormonais de contracepção com seu profissional de saúde. O risco de câncer de mama aumenta com a idade, assim como o de complicações associadas com os contraceptivos orais, como coágulos de sangue nas pernas e nos pulmões.

A maioria dos ginecologistas não acha que mulheres com menos de 35 ou 40 anos precisam se preocupar com as descobertas do novo estudo. "O risco que aparece nessa pesquisa é muito pequeno", afirma a doutora Melissa Gilliam, ginecologista pediátrica e de adolescentes da Universidade de Chicago.

"Não é um alerta para uma mudança de comportamento contraceptivo. Uma adolescente que usa pílulas anticoncepcionais para menstruação dolorosa quando tem 14 anos não deveria ficar ouvindo que isso pode aumentar seu risco de ter câncer de mama."

– Se você já tem filhos e sua família está completa, considere as opções cirúrgicas, para homens e mulheres. "Precisaríamos falar mais sobre vasectomia. Deveria ser uma opção considerada com seriedade em vários relacionamentos", afirma Manson.

Nos casais em que a mulher cuidou da contracepção pela maior parte do relacionamento, essa pode ser uma maneira de dividir a responsabilidade.

E, se o seu objetivo é diminuir a chance em geral de câncer de mama, saiba que ter filhos antes dos 30 anos, amamentar em qualquer idade e por qualquer período, diminuir a exposição à radiação e não usar terapia hormonal depois da menopausa podem ajudar a reduzir os riscos.

Mudanças no estilo de vida – entre elas não fumar, perder peso, exercitar-se pelo menos três a quatro horas por semana, limitar o consumo de carne vermelha e não beber mais de três doses de bebidas alcoólicas por semana – também são capazes de reduzir esse risco, explica Weiss.

"Hoje temos a prova de que você pode diminuir seus riscos em qualquer idade modificando esses fatores", afirma ela.

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