Topo

Estudo avalia riscos da poluição em centro urbano para a saúde do ciclista

Ciclista pedala com máscara anti-poluição - iStock
Ciclista pedala com máscara anti-poluição
Imagem: iStock

Richard Schiffman

Do New York Times, em Nova York

18/07/2017 04h05

Nos dias de semana, Darby Jack percorre de bicicleta quase 25 quilômetros de sua casa no bairro de Clinton Hill, no Brooklyn, em Nova York, até seu escritório na Escola de Saúde Pública da Universidade Mailman, em Washington Heights. Ao contrário de muitas pessoas que vão de bicicleta para o trabalho, o professor assistente de Saúde Ambiental, de 42 anos, usa sensores que monitoram quanto ar ele respira durante a viagem e quais os níveis de poluição ao longo de sua rota.

Esse equipamento elaborado é parte de um estudo de cinco anos que busca descobrir se o dano causado aos ciclistas pela poluição supera os benefícios para a saúde decorrentes do exercício. Os sensores medem níveis de PM 2.5, as finas partículas de matéria com cerca de 1/30 do diâmetro do fio de cabelo humano que os pesquisadores acreditam ser particularmente prejudiciais à saúde.

Partículas de poluição podem causar asma e até câncer de pulmão

As pequenas partículas, incluindo as de carbono negro, o principal componente da fuligem, penetram profundamente nos pulmões e na corrente sanguínea e podem levar ao desenvolvimento de doenças respiratórias como asma e câncer de pulmão. Mesmo exposições relativamente curtas são capazes de aumentar a inflamação do corpo e a probabilidade de derrames e ataques do coração.

“Nossa esperança é que a cidade use nossos dados como uma das várias informações na hora de projetar ciclovias melhores para minimizar esses riscos”, conta Jack. As descobertas podem levar a maneiras mais seguras de fazer todos os tipos de exercícios físicos ao ar livre, principalmente nos dias em que os níveis de poluição do ar estão muito elevados.

Um relatório de 2014 emitido pelo Departamento de Saúde da Cidade de Nova York diz que partículas no ar causam mais de duas mil mortes prematuras e seis mil visitas aos prontos-socorros e hospitalizações a cada ano. E apesar de a cidade ter expandido suas ciclovias e outras instalações amigáveis para bicicletas durante a última década, a maior parte do planejamento até hoje focou em preocupações com a segurança do tráfego e não na poluição.

Até agora, com dois anos do estudo, 40 ciclistas foram recrutados por meio de anúncios da rádio pública WNYC e estão usando equipamentos como os de Jack. Os pesquisadores querem recrutar mais 150.

Estudo mapeará as rotas menos poluídas para os ciclistas

As informações coletadas serão usadas para criar um mapa da poluição no nível da rua da cidade de Nova York e um aplicativo que ajudará os ciclistas a escolher rotas menos poluídas. A pressão arterial e as taxas cardíacas dos participantes também são monitoradas para avaliar os efeitos de pedalar nas ruas da cidade para o sistema cardiovascular.

“Nossos dados preliminares mostram que vários ciclistas estão respirando um pouco mais do que metade de sua dose de poluição diária em apenas seis a oito por cento do seu dia durante esses trajetos diários”, conta Steven Chillrud, geoquímico do Observatório da Terra Lamont-Doherty de Columbia, que conduz o estudo com Jack.

Resultados prévios indicam que quem pedala em ciclovias separadas do tráfego ativo por uma fila de carros parados respira muito menos poluição do que aqueles que usam vias coladas nas ruas. Os pesquisadores também descobriram locais de poluição perene, como as espirais de aproximação da Ponte de Manhattan, que Jack usa em seu caminho diário. “As rodovias que circulam por todos os lados afunilam o ar ruim”, diz ele. “Estou pedalando na subida, respirando com força --é uma grande conjunção de fatores negativos.”

As pontes, onde o estrangulamento do trânsito é comum, e o interior de Manhattan, que possui menos ventos refrescantes do que a periferia da ilha, também são mais propensos a ter níveis mais altos de poluição.

As ruas da cidade normalmente são mais poluídas durante as horas mais movimentadas da manhã do que nas do fim da tarde, quando o vento tende a se mais forte. Mas tão importante quanto o nível de poluição nas regiões é o esforço feito pelo ciclista para pedalar por elas. “Sabemos que só por andar já estamos respirando duas a três vezes mais ar do que fazemos quando estamos sentados”, explica Chillrud.

Ciclismo e outras atividades aumentam o volume de ar inalado

O ciclismo e outras atividades difíceis, como corrida e basquete, aumentam o volume de ar --e, portanto, as partículas-- que inalamos. Jack, por exemplo, respira aproximadamente oito litros de ar por minuto quando está descansando; mas, quando está pedalando, esse volume sobe para 70 litros. Andar de bicicleta montanha acima ou depressa aumenta ainda mais a absorção de poluição.

Outra consideração é que o efeito da poluição do ar varia muito de pessoa para pessoa. “Se você tem uma doença no pulmão, como asma, problemas cardiovasculares ou diabetes, ou se é criança, adolescente ou idoso, provavelmente vai ser mais suscetível aos danos”, afirma Janice Nolen, vice-presidente assistente de políticas nacionais da Associação Americana do Pulmão. “Também existem evidências de que as mulheres --cujos pulmões são um pouco menores do que os dos homens-- são mais afetadas pela poluição.”

Ela diz que o estudo da Columbia vai fornecer informações muito importantes, mas avisa que as pessoas que participam dessas pesquisas tendem a ser jovens, saudáveis e do sexo masculino, então os resultados podem não representar com precisão a população em geral. Realmente, diz Jack, os voluntários do estudo tendem a ser homens jovens. “A boa notícia é que estamos começando a ter veículos mais limpos e menos poluição”, afirma Nolen.

“Meu rosto fica cheio de poeira”

Stephanie Chan, fisioterapeuta de 42 anos que é voluntária no estudo, diz que apesar de achar estimulante pedalar para o trabalho, “sempre soube que estamos no meio do tráfego, respirando o que sai do escapamento dos carros. Em um dia úmido e quente, quando chego em casa, meu couro cabeludo está sujo e meu rosto está cheio de poeira”.

Apesar de o estudo tê-la feito pensar mais sobre os riscos da poluição, ela duvida que vá causar uma mudança de comportamento. “É uma daquelas coisas que temos que arriscar”, explica.

Audrey de Nazelle, especialista em avaliação de riscos no Centro de Políticas Ambientais do Colégio Imperial de Londres, diz que apesar de os benefícios dos exercícios diminuírem um pouco por causa da poluição, eles continuam a existir para adultos saudáveis. “Os exercícios na verdade diminuem as taxas de inflamação do corpo, que a exposição à poluição aumenta. Então o relacionamento é complicado.”

Em cidades muito poluídas, como Délhi, você vai se beneficiar de exercícios ao ar livre por cerca de meia hora, mas depois disso os riscos começam a ultrapassar os benefícios.
Audrey Nazelle
 

A boa notícia para os ciclistas de Nova York, segundo de Nazelle, é que os estudos conduzidos em cidades europeias como Barcelona e Londres, que possuem níveis de poluição comparáveis, mostraram que, mesmo contando o risco de acidentes de trânsito, as pessoas que andam de bicicleta estatisticamente melhoram sua saúde geral e aumentam seu tempo de vida.

Ainda assim, os ciclistas serão sábios se escolherem as rotas e os horários dos percursos com cuidados, afirma de Nazelle, e comerem em abundância frutas e vegetais ricos em antioxidantes para ajudar a neutralizar os efeitos da poluição do ar no corpo.