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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Barbeiro "terapeuta" britânico cria método contra suicídio e vem ao Brasil

Reprodução/thelionsbarbercollective
Imagem: Reprodução/thelionsbarbercollective

Patricia Rodríguez

08/05/2019 15h16

Até que ponto um corte de cabelo ou uma ida ao barbeiro para fazer a barba pode salvar vidas? Para Tom Chapman, fundador do Lions Barber Collective, o assunto é sério. Ele oferece ferramentas aos profissionais do ramo para prevenir suicídios entre homens no Reino Unido e, em dois meses, virá ao Brasil estudar a possiblidade de implementar sua metodologia.

Chapman não é um barbeiro tradicional. Além de fazer barbas no salão que tem na cidade de Torquay, no condado de Devon, este britânico tatuado, de 35 anos, oferece "um espaço seguro" e assessoria sobre saúde mental para clientes que precisem de ajuda.

Depois de 17 anos na área, ele decidiu apostar na "paixão, na empatia e na vontade de ajudar" para embarcar, em 2015, em uma espécie de batalha ao lado de outros cabeleireiros comprometidos com o tema.

Chapman criou então um coletivo que oferece treinamento específico a profissionais do país, com palestras para que barbeiros aprendem a "identificar a tempo sinais de alerta" entre os clientes. Com isso terminam, potencialmente, "salvando vidas".

No Reino Unido, o suicídio masculino é considerado o "maior assassino" de homens de até 45 anos, com 15,5 a cada 100 mil, frente a um índice de 4,9 suicídios por 100 mil entre as mulheres, de acordo com os dados mais recentes do Escritório Nacional de Estatísticas (ONS).

No caso de Chapman, que se tornou educador, escritor, assessor e embaixador da causa, foi o suicídio de um amigo que o marcou e fez com que passasse a trabalhar na prevenção.

"Percebi que nós, os barbeiros, temos um espaço muito privilegiado na comunidade e quando um homem se senta na nossa cadeira ele se abre muito rapidamente e nos conta muitas coisas", disse Chapman em entrevista à Efe em uma barbearia de Londres.

Segundo Chapman, carinho e confiança são fundamentais para criar essa bolha terapêutica, uma espécie de vínculo especial, que acaba se estabelecendo entre o profissional e o cliente. Conversas que levam, em muitos casos, aqueles que sofrem com transtornos mentais pedirem ajuda e consigam ser ajudados.

"Os barbeiros têm essa licença para tocar outros homens, com quem passam de 30 minutos a uma hora sem interrupções, e isso gera uma forte conexão com o cliente", refletiu.

Chapman comentou que, quando um barbeiro atende um cliente, entre eles é criado "um nível de conexão, de intimidade e de confiança em um ambiente que não é clínico, onde ninguém julga".

Talvez aí esteja o sucesso deste projeto, que ele quer expandir. Seu objetivo à frente do grupo sem fins lucrativos é "envolver todos os barbeiros do Reino Unido" e, com o tempo, transformar a ideia em uma iniciativa global.

Além das dezenas de barbeiros que já fazem parte da proposta em todo o Reino Unido e na Irlanda, o projeto conta com a participação de profissionais associados em lugares como Havaí e Nova Zelândia.

Em julho, Chapman virá ao Brasil para estudar a possibilidade de fazer algo parecido. A intenção é passar por Rio de Janeiro e São Paulo.

Sua metodologia tem tido apoio de grandes nomes. Há alguns anos, a iniciativa chamou a atenção do príncipe William - muito envolvido em causas relacionadas à saúde mental -, que visitou o salão Pall Mall Barbers, em Paddington, em 2015.

Em 2017, Chapman também recebeu um reconhecimento da primeira-ministra britânica, Theresa May, por seu trabalho.

Diante do forte estigma que ainda envolve as doenças psicológicas, Chapman defende que "falar de saúde mental não é uma fraqueza", pois é uma questão "que afeta todo o mundo".

Perguntado sobre sua maior conquista, disse se orgulhar de ter dito às pessoas de maneira pública que elas podem contar com ele para falar sobre seus problemas.

Nesta missão participa também o diretor-geral da Pall Mall Barbers, Daniel Davies, um dos embaixadores do coletivo. Davies e Chapman compartilham o mesmo entusiasmo pelo projeto.

"Às vezes é intimidador ter que ir ao médico e você sempre acha que pode ser julgado. Muitas vezes, as pessoas que mais amamos são as mais difíceis de se abrir. Tinha um cliente que frequentava minha barbearia há anos, sempre alegre e motivado. Um dia, notei que as coisas não estavam tão bem, e ele me contou que tinha tentado se suicidar na semana anterior", contou Davies.

No site thelionsbarbercollective.com é possível encontrar a lista dos profissionais que já aderiram ao projeto. Talvez em um futuro próximo, barbeiros brasileiros possam fazer parte do quadro também.

Um corte de cabelo pode salvar a vida de alguém? Para Tom Chapman, a resposta é "com certeza, sim".

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