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Superbactérias ganham novo round com desistência de laboratórios

Shutterstock
Imagem: Shutterstock

James Paton e Naomi Kresge

13/07/2018 13h30

Uma das maiores empresas farmacêuticas do mundo jogou a toalha, gerando um novo revés na luta contra infecções possivelmente fatais.

A Novartis é a última grande empresa farmacêutica a encerrar pesquisas antibacterianas e antivirais, seguindo o exemplo de AstraZeneca, Sanofi, Allergan e Medicines. A GlaxoSmithKline colocou alguns ativos do ramo de antibióticos em análise.

O revés reacende a preocupação a respeito de um mundo no qual infecções de rotina voltam a se tornar letais pelo fato de as bactérias desenvolverem resistências aos medicamentos existentes. As vendas de novos antibióticos são pequenas demais para que as grandes empresas farmacêuticas recuperem os investimentos e as medidas públicas para incentivar uma atividade maior não estão dando resultado.

"O mercado está quebrado", disse David Shlaes, consultor e ex-executivo do setor farmacêutico. "Estamos agora em um ponto no qual a resistência avança muito mais rapidamente do que nossa capacidade de fornecer novos antibióticos. Esta é mais uma má notícia em meio a uma longa série de notícias bem ruins."

O novo recuo se dá após um breve período em que as empresas líderes do setor pareciam dispostas a assumir riscos nesse campo. A Merck & Co. investiu US$ 8,4 bilhões na líder do ramo de antibióticos Cubist em 2014. A Novartis, a Glaxo e outras empresas prometeram no Fórum Econômico Mundial, em 2016, combater a ameaça das bactérias resistentes a medicamentos. O governo dos EUA ofereceu proteção de patentes mais longas às empresas dispostas a investir, além de subsídios que poderiam chegar a centenas de milhões de dólares.

Não vendem

Mas os novos antibióticos simplesmente não foram vendidos. Apenas cinco dos 16 medicamentos antimicrobianos de marca aprovados de 2000 até o ano passado foram capazes de vender mais de US$ 100 milhões por ano, segundo um estudo do Centro de Políticas de Saúde Margolis da Universidade Duke. O valor é baixíssimo se comparado aos bilhões de dólares obtidos pelos novos tratamentos contra o câncer.

O problema das empresas farmacêuticas é que os novos antibióticos normalmente são mantidos em reserva e sem uso a menos que sejam necessários, quando os pacientes desenvolvem resistência a um medicamento mais antigo. Até mesmo os antibióticos mais caros, que custam cerca de US$ 1.000 por dia, são baratos se comparados com um medicamento contra o câncer, que é aplicado por meses e não apenas por alguns dias ou semanas.

Enquanto isso, o desenvolvimento de novos antibióticos está se tornando mais caro, disse Gabrielle Breugelmans, diretora de pesquisa da Access to Medicine Foundation. Os cerca de 275 projetos de pesquisa em andamento no mundo podem render dois ou três medicamentos, disse.

"A retirada da Novartis nos deixa um pouco preocupados porque eles tinham uma linharelativamente grande de desenvolvimento" de novos antibióticos, disse Breugelmans. "Agora não se sabe ao certo o que vai acontecer."

A Novartis, que anunciou na quarta-feira que abandonará a pesquisa de antibióticos, afirmou que buscará parceiros para seus medicamentos experimentais. Se seguir os precedentes recentes, a empresa pode acabar entregando seus ativos a outra empresa de menor porte. Ao deixarem os antibióticos de lado, outras farmacêuticas transferiram seus ativos para empresas de biotecnologia dispostas a assumir um risco maior. A empresa Medicines vendeu sua carteira à Melinta Therapeutics e a AstraZeneca repassou suas pesquisas para uma firma independente chamada Entasis Therapeutics antes de negociar o restante de sua unidade de antibióticos com a Pfizer. Empresas de biotecnologia como Achaogen e Paratek Pharmaceuticals também estão trabalhando em novos antibióticos próprios.

--Com a colaboração de Ari Altstedter e John Lauerman.

Repórteres da matéria original: James Paton em Londres, jpaton4@bloomberg.net;Naomi Kresge em Berlin, nkresge@bloomberg.net