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Quais são as dietas que matam mais que o cigarro

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James Gallagher

04/04/2019 11h53

Nossos hábitos alimentares estão matando 11 milhões de pessoas precocemente todos os anos, revelou um novo estudo. O levantamento, publicado na revista científica Lancet, constatou que a forma como nos alimentamos causa uma em cada cinco mortes em todo o mundo, sendo, portanto, mais letal do que o tabagismo.

O sal - seja no pão, molho de soja ou refeições processadas - foi considerado o principal vilão. Pesquisadores dizem que o estudo não é sobre obesidade, mas dietas de "baixa qualidade", que prejudicam o funcionamento do coração e causam câncer.

Análise mundial

O Global Burden of Disease Study é o estudo mais extenso sobre as causas de mortes em todos os países do mundo. A análise mais recente se baseou nos hábitos alimentares de diferentes países para determinar com que frequência o que comemos estava encurtando nossas vidas.

Metas globais de nutrição - BBC - BBC
Imagem: BBC

As dietas perigosas foram aquelas contendo:

  • Muito sal - 3 milhões de mortes
  • Pobre em grãos integrais - 3 milhões de mortes
  • Pobre em frutas - 3 milhões de mortes

Baixos níveis de nozes, sementes, legumes, ômega-3 de frutos do mar e fibras foram os outros principais culpados. "Descobrimos que a dieta é um elemento muito importante; seu impacto em nosso organismo é realmente muito profundo", diz o professor Christopher Murray, diretor do Instituto de Medições de Saúde e Avaliação da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, à BBC.

Como nossos hábitos alimentares estão nos matando?

Cerca de 10 milhões das 11 milhões de mortes relacionadas à dietas foram causadas por doenças cardiovasculares e isso explica por que o sal é um problema tão grande.
Sal em excesso faz subir a pressão arterial que, por sua vez, aumenta o risco de ataques cardíacos e derrames.

O sal também pode ter um impacto direto no coração e nos vasos sanguíneos, levando à insuficiência cardíaca quando o órgão não funciona de forma eficaz. Grãos integrais, frutas e vegetais têm o efeito oposto - são "cardioprotetores" e diminuem o risco de problemas cardíacos. Cânceres e diabetes tipo 2 compuseram o restante das mortes relacionadas à dieta.

Estamos longe da dieta perfeita?

Especialistas dizem que, embora alguns países do mundo tenham hábitos alimentares mais saudáveis do que outros, nenhum tem a 'dieta perfeita'. Eles constataram que os alimentos saudáveis que faziam falta na maioria das dietas em todo o mundo eram nozes e sementes. Mas por quê?

A professora de Epidemiologia Nutricional Nita Forouhi, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, culpa o imaginário popular. "Existe uma percepção falsa de que nozes e sementes causam aumento de peso quando, na verdade, estão repletas de gorduras boas", explica.

"Além disso, a maioria das pessoas não as vê como comida. Por fim, há um elemento importanto: o preço. Nozes e sementes são caras".

Vilões

O enorme debate entre gordura versus açúcar e a ligação entre carnes vermelhas e processadas com câncer ocuparam o noticiário nos últimos anos. "Não quer dizer que isso não represente perigo, mas tem um impacto menor nas nossas vidas do que a baixa ingestão de grãos integrais, frutas, nozes, sementes e vegetais", diz Murray. Apesar disso, o estudo mostrou que bebidas açucaradas, como refrigerantes, estavam sendo consumidas em todos os cantos do mundo.

mortes por dietas ricas em sal - BBC - BBC
Imagem: BBC

Para os pesquisadores, as campanhas deveriam se concentrar menos em falar sobre o risco de ingestão de açúcar e gordura e, em vez disso, promover alimentos saudáveis. Dietas ruins estão tirando alguns anos de expectativa de vida em todo o mundo, de acordo com os pesquisadores.

Mas Murray adverte que se trata apenas de uma média e diz que a verdadeira pergunta que devemos nos fazer é: "Vou morrer aos 50 anos de um ataque cardíaco? Ou vou ter alguns dos cânceres relacionados à dieta aos 40 anos?"

Países do Mediterrâneo, particularmente França, Espanha e Israel, têm alguns dos menores números de mortes relacionadas à dieta no mundo. Já as nações do Sudeste e Sul da Ásia, e também da Ásia Central estão no extremo oposto do espectro.

  • Israel tem as menores mortes relacionadas à dieta - 89 por 100 mil pessoas por ano
  • Uzbequistão tem as maiores mortes relacionadas à dieta - 892 por 100 mil pessoas por ano
  • O Japão e a China têm resultados curiosamente díspares, que refletem sua relação com o sal.

A China consome enormes quantidades de sal, sendo a soja e outros molhos salgados ingredientes fundamentais da culinária do país.

Mas a crescente popularidade dos alimentos processados está introduzindo ainda mais sal à dieta dos chineses. O país possui a maior taxa de mortalidade de todo o mundo por causa da ingestão de sal.

"O Japão é um caso muito interessante, pois há 30 e 40 anos, eles consumiam proporcionalmente tanto sal quanto a China hoje", diz Murray.

"O sal ainda é o problema número um do Japão, mas seu consumo diminuiu drasticamente".

"E, diferentemente dos chineses, os japoneses incluem em sua dieta muitos alimentos que os protegem contra doenças cardíacas, como legumes, verduras e frutas".

E quanto ao Brasil?

Em 2011, um levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que os hábitos alimentares de 90% dos brasileiros estão fora do padrão recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) no que diz respeito ao consumo de frutas, verduras e legumes.

Segundo o estudo Análise de Consumo Alimentar Pessoal no Brasil, da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, nossa dieta é composta principalmente por arroz e feijão, associados a alimentos calóricos e de baixo teor nutritivo.

Recomendações

Murray diz: "A qualidade da dieta é importante, não importa seu peso. O mais importante é que as pessoas aumentem sua ingestão de grãos integrais, frutas, nozes, sementes, legumes e verduras. E reduzam o sal, se puderem".
Mas a alimentação saudável muitas vezes esbarra no preço desses produtos.
Estima-se que ingerir cinco porções de frutas, legumes e verduras por dia consumiria 52% da renda familiar nos países mais pobres.
Mas Forouhi adverte: "As pessoas podem fazer escolhas mais saudáveis com mais acesso à informação e a recursos financeiros, mas se o produto que estiver na prateleira for prejudicial à saúde, então não adianta nada".

"Opções mais baratas que são saudáveis são extremamente necessárias." Os especialistas concordam que precisa haver uma mudança no foco em nutrientes (gordura/açúcar/sal) e em quais alimentos as pessoas devem comer.