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Por que youtubers veganos têm renunciado à dieta com que ficaram famosos

Reprodução/ Youtube
Imagem: Reprodução/ Youtube

04/04/2019 19h20

Bonny Rebecca, Rawvana, Tim Shieff, Raw Alignment e Stella Rae. Você pode nunca ter ouvido falar dessas pessoas, mas juntas elas são seguidas por quase 2 milhões de pessoas no YouTube e se tornaram influenciadores digitais.

Vegano - Getty Imagens - Getty Imagens
Imagem: Getty Imagens

Especializaram-se em promover o veganismo, mas abandonaram esse estilo de vida nos últimos meses - aparentemente a dieta com base apenas em legumes e verduras estava causando problemas de saúde para alguns deles.

A sequência de youtubers abandonando o veganismo teve um grande drama: Rawvana, nome artístico da americana Yovana Mendoza, teve seu segredo revelado por acidente em março.

Um amigo postou um vídeo no Instagram de uma viagem conjunta para Bali, na Indonésia. As imagens mostravam rapidamente Rawvana comendo peixe.

Na época em que o vídeo foi postado, ela ainda estava promovendo suas dicas de dieta vegana crua, responsável por torná-la famosa e rica.

Depois de uma enxurrada de críticas, ela admitiu que vinha comendo proteína animal por meses.

A Associação Nutricional Britânica elegeu a dieta vegana crua uma das cinco piores dietas para evitar em 2018, dizendo que ela compromete a saúde no longo prazo.

'Ordens médicas'

"Sinto muito pela forma como vocês ficaram sabendo das recentes mudanças em minha alimentação e das comidas que eu tive que incluir por motivos de saúde", disse Rwvana em um vídeo de 33 minutos pedindo desculpas no YouTube.

Ela não está sozinha na mudança.

Depois de Rawvan, outros "influenciadores digitais" veganos anunciaram que também haviam mudado de dietas.

Tim Shieff, praticante de parkour do Reino Unido que tem quase 200 mil seguidores do YouTube, disse que comer salmão e ovos crus havia permitido que ele "ejaculasse pela primeira vez em 10 meses".

"Quando sua saúde declina, é muito difícil não fazer dela sua prioridade, por mais egoísta que isso possa parecer para uma pessoa saudável", disse ele.

Todos eles haviam aproveitado o grande aumento de popularidade do veganismo.

De um movimento marginal e alternativo, o veganismo se tornou uma indústria bilionária - só o mercado global de substitutos para a carne deve chegar a valer US$ 7,5 bilhões em 2025 se continuar crescendo quase 8% ao ano, como faz desde 2018, segundo a consultoria americana Allied Market Research.

As autoridades de saúde ao redor do mundo recomendam uma mudança para uma alimentação mais baseada em plantas, mas não recomendam que as pessoas abandonem totalmente o consumo de produtos de origem animal.

E um dos principais motivos é que não há evidências científicas de que uma alimentação vegana seja mais saudável do que uma vegetariana - ou uma que contenha pequenas quantidades de carne e peixe.

Mas outros YouTubers veganos, como Goji Man, dizem que os influenciadores que deixaram o estilo de vida seguiam dietas muito extremas.

"Quantos ex-veganos que você conhece se alimentavam de forma balanceada o tempo todo?", questionou Goji Man.

Jejum

Em seu vídeo de desculpas, Rawvana também explicou que tinha começado a ter problemas de saúde depois de um longo período de jejum em 2014.

Ela parou de menstruar e os médicos disseram que ela deveria comer mais gordura e alimentos cozidos. Ela também teve anemia e, em 2018, uma infecção bacteriana que pode causar diarreia crônica, deficiência de vitaminas e perda de peso.

Por isso, disse a youtuber, ela teve que voltar a comer ovos e peixe em janeiro.

Mas tudo isso foi feito sem que seus seguidores sequer desconfiassem.

Crítica

Rawvana recebeu críticas pesadas nas redes sociais, e perdeu muitos seguidores e patrocinadores.

Entre reclamações e comentários sarcásticos, havia pessoas falando sobre os riscos de seguir conselhos nutricionais dados por pessoas que não são especialistas.

Outros criticaram as pessoas que confiaram em dicas de saúde de um jovem youtuber que promove práticas como um "jejum de água" de 25 dias.

A nutricionista Rhiannon Lambert disse ao jornal britânico The Daily Telegraph que ela tinha visto um aumento de pacientes chegando a sua clínica com sintomas relacionados à desnutrição e até transtornos alimentares depois de seguir conselhos encontrados em redes sociais.

A socióloga Zeynep Tufekci escreveu um artigo no jornal americano The New York Times no qual ela culpava o YouTube por empurrar pessoas à práticas extremas em busca de cliques e visualizações.

"Vídeos sobre vegetarianismo levam a vídeos sobre veganismo. Vídeos sobre corrida levam a outros sobre correr ultra-maratonas", escreveu Zeynep. "Parece que nunca se é 'rígido' o suficiente para os algoritimos de recomendação do YouTube."

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